Sunday, December 28, 2014

Brasil - international campaign for igor mendes and all political prisoners must be continued until victory!



ISABELA MENDES, IRMÃ DO ATIVISTA IGOR MENDES, FALA SOBRE A VISITA NA PRISÃO

Por ISABELA MENDES

Nossa... todo mundo querendo saber como foi a visita ao meu irmão e eu aqui guardando segredo! Segredo não, mas quis que esse momento fosse um pouquinho só meu... Por isso não consegui escrever sobre isso ontem, minha cabeça ficou um tempo girando ainda.

Nunca pensei que uma conversa com pouco mais de uma hora, passasse como se tivesse sido na verdade, 5 minutos... Foi muito pouco tempo pra uma saudade de muito tempo. Mas valeu, se valeu!

A primeira coisa boa nisso, é que conseguimos entregar muitas coisas pra ele... Pão, biscoito, algumas frutas, roupa, repelente (que foi o que mais o animou!) e as cartas que mandaram pra ele. O agente inclusive deixou ele levar pra cela, pra ler lá.

Só não liberaram livros, papel e caneta. Mas o próprio agente disse que ia abrir uma exceção pra ele, e liberar 2 livros da biblioteca. 

A surpresa de nos ver foi tão grande, que ele não conseguiu se conter, e soltou um grito: "Que saudade!", mas rapidamente o agente abafou esse grito, dizendo pra ele se conter, se não, não ia ter visita.

Ele então veio e me abraçou, (sim, não foi atrás de um vidro, ficamos juntos numa saleta!) um abraço forte, tão forte, que mais parecia que estávamos brigando pra ver quem quebrava os ossos de quem primeiro! Haha...

Conversamos muito. Ele, nosso pai e eu. O tempo todo de mãos dadas. Nos abraçávamos o tempo todo, e conseguimos rir juntos várias vezes. Ele perguntou sobre futebol e essas coisas... Além das conversas de sempre.

Confidenciamos alguns segredos (como sempre fazíamos) e ele dizia o tempo todo que amava a gente.

Ele explicou também como está la dentro... está numa cela sozinho, e pra passar o tempo tem se exercitado bastante, e quando dá, conversa com os "vizinhos".

A comida é horrÍvel, mas em nenhum dia ele deixou de se alimentar. Inclusive me perguntou: "Isinha, to muito abatido, magro? To há 20 dias sem me olhar no espelho, não faço ideia de como eu estou". Mas não... ele está muito bem. Um pouco abatido sim, o que é totalmente natural pra quem não deve estar dormindo bem, não come bem e é atacado pelos mosquitos (ele estava todo picado... braços, pernas, pescoço). Mas jamais abatido de derrota.

Conversamos sobre o HC dele e ele disse: "Eu sei que não vou ficar aqui, mas não vou me agarrar a datas. Estou vivendo um dia de cada vez. Não dá pra confiar no judiciário". Ele odeia criar expectativas e se decepcionar. E quem não?

Ele falou o tempo todo de papel e caneta... Me aborreceu muito não conseguir levar pra ele. Imagino que aquela cabeça brilhante, deva estar fervilhando...

Quando avisarem que a gente só tinha 10 minutos, ele falou mais ou menos assim: "Eu sei que muita gente, até da nossa família, pode não compreender o que está acontecendo, mas tem que ficar claro, que eu estou preso por ser um militante. Eu não fiz nada que envergonhe vocês. Tudo que está acontecendo comigo, aconteceu também com aqueles que lutaram pelas mesmas coisas, que tentaram verdadeiramente fazer uma humanidade melhor. O que só mostra que eu não estou errado. O que eu mais lamento de tudo isso, é que vocês paguem pelas minhas escolhas".

Eu respondi o que todos sabem. Ele não tem que lamentar isso. Ninguém está pagando por nada, porque não tem o que ser pago. Quer dizer, até tem... Mas não nós. Quem faz o bem, nunca deve nada.

Então, avisaram que estava na hora. Até agora dói lembrar da imagem dele, pegando todas as coisas que demos pra ele, juntando pra caber nos braços... Até que o agente deixou que tudo permanecesse numa sacola, pra ele conseguir levar. E então veio a pior frase da semana: Igor, tá na hora.

Nosso último abraço foi cheio de vontade de não largar. Foi cheio de tristeza, mas também força. E aquele maldito nó, teimou de ficar na minha garganta. E eu não conseguia pronunciar mais nenhuma palavra. A lágrima mais teimosa ainda, desceu sem a minha autorização, e eu só queria ir embora com meu irmão. A gente não queria se soltar. 

Então, o agente pegou no braço dele e disse pra ele ir. Eu, sem reação, fiquei parada olhando pro corredor. Quando surge o rosto dele rapidinho, ergue o punho, e fala: "Força garota! Eu te amo muito!" E lançou um beijo pra mim.

Se ele ainda está forte? Sim, mais que a rocha que eu comparei a ele certa vez. Forte de corpo e mente. E não se poderia esperar que fosse diferente, vindo dele.

Vou deixar por último, um pedido que ele fez, pra nossa família que se estende.

Ele pediu pra que isso não atrapalhe nossas festas. Falou para que todos comemorem como sempre fizeram, porque isso vai deixá-lo satisfeito. Daí quando eu disse, que pedir para ser IGUAL era pedir demais, ele concluiu: " Então, pra não ser igual, dessa vez, na hora de brindar, brindem pela liberdade." 

Não sei quando vou vê-lo agora. Mas já sei, que existem dias que podem ser os melhores e piores de uma única vez.

LIBERDADE PARA IGOR, RAFAEL, CAIO, FÁBIO E TODOS OS PRESOS POLÍTICOS!
FIM DAS PERSEGUIÇÕES!
EXTINÇÃO DE TODOS OS PROCESSOS!
NÃO PASSARÃO!

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