Wednesday, November 30, 2016

Acerca de Fidel Castro: desmascarar e aplastar o revisionismo!



Cuba tem alta responsabilidade na América porque foi uma esperança; mas temos que recordar muito bem o que se passou nos anos 70: Fidel Castro afirmou que a estratégia da luta armada havia fracassado, buscando abandoná-la, deixar o que havia incentivado e apoiado. (Presidente Gonzalo, 1989, Entrevista ao Periódico El Diario)
fidel_castro_e_kruschev_em_maio_de_1963
Fidel Castro e Kruschev em maio de 1963
Nota do blog: Por ocasião da morte de Fidel Castro, líder do revisionista Partido Comunista de Cuba e dirigente da inconclusa revolução cubana, publicamos importante matéria produzida pelo MEPR em 2010, cuja crítica se faz atualíssima e contundente.


Enquanto Fidel convoca a juventude a se ajoelhar frente ao Imperialismo, Raul anuncia inédita onda de demissões

“Os padres ‘sociais’ e os oportunistas estão sempre prontos a sonhar com o futuro socialismo pacífico, mas aquilo que os distingue dos social-democratas revolucionários [comunistas] é exatamente eles não quererem pensar e sonhar com a encarniçada luta de classes e com as guerras de classes para tornar realidade esse futuro maravilhoso”. (V.I.Lênin, “O Programa Militar da Revolução Proletária”, setembro de 1916).
No dia 3 de setembro último Fidel Castro Ruz pronunciou, frente a milhares de jovens, um discurso intitulado “Mensagem aos estudantes universitários de Cuba”. Quem quer que tenha lido o conteúdo de tal discurso, que teve ampla repercussão, não pode deixar de recordar as felizes palavras do grande Lênin, referindo-se aos oportunistas e padres sociais que vivem a sonhar com um futuro maravilhoso e sem guerras, “esquecendo-se” de mencionar que não é possível haver paz enquanto persistam as causas das guerras, que são exatamente a luta de classes e o imperialismo.
Como um verdadeiro padre, do alto de seu sermão, Fidel Castro falou longamente sobre as guerras, sobre as mazelas do mundo, com um tom emocionado e preocupado. Como um padre falou em um “futuro”, completamente abstrato e distante, sem falar dos meios de atingi-lo. Como um padre pregou a necessidade da paz entre os “seres humanos”, sem mencionar o fato “pouco importante” de que os seres humanos, há milhares de anos, estão divididos em classes e que não pode haver igualdade entre classes e nações opressoras e classes e nações oprimidas, bem como não pode haver paz entre elas que não seja uma mentira, uma vez que aquelas lançam mão da violência para manter sua dominação e a estas a paz sob a velha ordem não pode significar nada mais do que seguir vivendo de joelhos.
Como um padre falou em sonhos, morrendo de medo em encarar a realidade.
Ao longo de seu discurso não aparece uma vez sequer as palavras luta de classes, uma vez sequer, vejam só, nem mesmo a palavra imperialismo (antes tão utilizada para fustigar o imperialismo ianque de boca e advogar a mera mudança de amo de fato) e o termo Revolução aparece unicamente em uma referência a vitória da revolução cubana em 1959. Uma vez que se trata de um discurso dirigido à juventude universitária de Cuba em torno de questões realmente importantes dos dias de hoje (a escalada da guerra imperialista no mundo é um fato), e uma vez que não faltam no Brasil ardorosos defensores do “socialismo do século XXI” de Castro e de Hugo Chavez, não poderíamos deixar de dizer algumas palavras sobre os temas referidos.

A guerra e a paz têm ou não um caráter de classe?

Fidel Castro inicia seu discurso falando do seu processo de tomada de consciência da opressão nacional de Cuba, e que os jovens, devido a seu desinteresse e pureza, são mais entusiastas e dispostos a enfrentar a vida. Achamos por isso mesmo bastante triste que Fidel receite aos jovens de seu país, e por extensão a toda a juventude, colocar seu agudo sentido do novo não à serviço da transformação radical de toda a ordem vigente, no sentido da revolução, e sim no sentido de um romantismo pacifista que, aparentemente crítico, não pode deixar de ser profundamente conservador.
Quando diz em tom muito sério que “não estamos mais na época das cavalarias”, e sim na era das “armas atômicas”, não faz mais que repisar a velha chantagem do imperialismo para conter e fazer quebrar a resistência das massas: não lutem, não façam a guerra, senão todos acabaremos. Ora, nada mais falso. É natural, aliás, que o sr. Fidel Castro coloque tanta ênfase nos meios técnicos de guerra, esquecendo-se do papel dinâmico desempenhado pelo Homem e pela ideologia que o guia. Quando predicava, nas décadas de 60 e 70, a luta contra o imperialismo ianque, e respaldava material e ideologicamente a concepção foquista de luta que prevaleceu na maior parte das organizações latino-americanas, viu estas sofrerem derrota após derrota, exatamente por “esquecerem” o fator fundamental para a vitória de qualquer ação revoluionária, que é exatamente a participação das massas nessa luta. Longe de ver dessa maneira, Castro e seus partidários viram a derrota da maior parte da esquerda armada no Continente não como derrota da sua concepção militarista e pequeno-burguesa, mas sim como motivo para passar a louvar a “democracia” e a “via parlamentar”, caminho no qual se mantém até hoje.
Fazendo suas as palavras de um jornalista mexicano, disse aos jovens Fidel Castro:
“Hoje enfrentamos dois grandes desafios: a consolidação da paz mundial e o salvar o planeta da mudança climática. O primeiro é lograr uma paz duradoura sobre bases sólidas, a segunda é a de reverter a mudança climática (…)O panorama do século passado não era igual o deste século. O armamento, neste momento, é mais sofisticado e mortífero e o planeta mais débil e contaminado”. (Grifo do MEPR).
Nada mais típico do revisionismo (do qual Fidel Castro é um escolado representante) do que advogar “grandes mudanças” para atirar ao lixo a essência revolucionária do marxismo. Ora, as armas atômicas não são um produto de nosso século, senão que são produto do século XX. Assim como as duas guerras mundiais. Qual a origem disso senão o imperialismo? O imperialismo, em sua essência, se modificou? Se aceitamos que não se modificou, então os meios para enfrenta-lo, que os povos lançaram mão ao longo do século XX e também neste princípio de século, as guerras revolucionárias e de libertação nacional, seguem ou não válidos? Ora, quando triunfou a Grande Revolução Chinesa em 1949, ou a resistência do povo do Vietnã e, inclusive, a revolução cubana, o imperialismo já possuía e havia utilizado armas atômicas. Ora, a luta decidida dos povos destes países, apoiada na solidariedade dos povos de todo o mundo, foi ou não capaz de derrotar a agressão e a chantagem militar do imperialismo?
“…não podemos perder tempo em guerras anacrônicas –prossegue em seu discurso –que nos debilitam e esgotam nossas energias. Os inimigos fazem as guerras. Eliminemos todas as causas que conduzem o homem a ver o homem como seu inimigo(…) Eu digo, sem nenhuma possibilidade de erro, que a paz com a paz se ganha e: SE QUERES A PAZ, PREPARA-TE PARA MUDAR TUA CONSCIÊNCIA”. (Grifo Nosso)
Aqui temos realmente um “prato cheio”. Poderíamos simplesmente dizer a verdade elementar, que qualquer criança palestina bem sabe, que a “paz” ganha com doces discursos só conduz à mortes e à subjugação. Será que o povo iraquiano e afegão conquistará alguma paz “mudando de consciência”, ou sim aniquilando o maior número possível de invasores, armado de uma consciência patriótica e antiimperialista? É uma vergonha alguém que ousa dizer-se “velho revolucionário” fazer discursos falando em guerras “anacrônicas” que levam os “homens a ver os homens como inimigos”. Ora, a guerra que os ianques travam ao agredir os povos do Oriente Médio, ou que Israel trava contra o povo palestino, essas sim são guerras para defender uma sociedade anacrônica, são por isso guerras injustas, reacionárias, que devem ser repudiadas; mas a guerra que os povos do Oriente Médio travam contra os ianques, a guerra que os palestinos travam contra Israel genocida são guerras justas, legítimas, progressistas, porque visam à emancipação. Botar um sinal de igual entre uma e outra é uma verdadeira afronta aos povos que vertem seu sangue na luta contra o imperialismo.
A paz e a guerra, afinal de contas, tem um caráter de classes:
“A história mostra que as guerras dividem-se em duas categorias: justas e injustas. Todas as guerras progressistas são justas,  todas as guerras que impedem o progresso são injustas. Nós, os comunistas, opomo-nos a todas as guerras injustas que impedem o progresso, mas não nos opomos às guerras progressistas, às guerras justas. E não só não nos opomos às guerras justas, como ainda tomamos ativamente parte nelas…O modo de opor-se a uma guerra desse tipo [injusta] é fazer todo o possível por impedir que estale, mas se chega a estalar, o modo de opor-se a ela é combater a guerra com a guerra, contrapor a guerra justa à injusta, tanto quanto possível”. (Presidente Mao Tsetung, “Sobre a Guerra Prolongada”, maio de 1938).
Sim, a sociedade capitalista, mesmo aonde mantém seu aspecto “pacífico”, nada mais é que o horror para as amplas massas de trabalhadores, que nela nada têm a ganhar. Nada mais mentiroso do que acreditar no discurso de “fim do mundo” que o imperialismo faz questão de disseminar, seja através do discurso de “aquecimento global”, seja através do “culto às armas”, porque o imperialismo necessita fazer crer que a sua crise, a sua agonia é a crise e a agonia de toda a Humanidade. E o imperialismo não conta com melhores “advogados” dessa sua tese do que os renegados e revisionistas, que tremem mais que todos ante o levantamento das massas. Pois nós dizemos, quanto a isso: o imperialismo passará senhores, será destruído, e a sua destruição não acabará com a Humanidade, pelo contrário, inaugurará a sua verdadeira História. Como nos dizem os versos da “Internacional”, que esses renegados há muito esqueceram, “se nos faltarem os abutres, não deixa o Sol de fulgurar”.

O Imperialismo é um tigre de papel:

Resistência iraquiana celebra mais uma ao contra o invasor ianque
Resistência iraquiana celebra mais uma ao contra o invasor ianque
O discurso tão em voga de “socialismo do século XXI” tem enganado, deve-se dize-lo, muitos jovens, inclusive em nosso país. Muitas pessoas sinceras, que almejam realmente a emancipação da dominação imperialista, se deixam levar pelo descaminho pregado pelo revisionismo, às vezes apresentado com os discursos mais “radicais”. Na verdade, tais teorias “do século XXI”, que dizem obsoleta a necessidade da revolução proletária, que dizem que o imperialismo não pode ser vencido objetivamente mas sim que devemos nos contentar em “mudar de consciência”, são já bastante antigas. Karl Kautsky, irreconciliável inimigo dos bolcheviques e da Revolução de Outubro, já no seu tempo falava em um “super imperialismo”, sem guerras e sem contradições, no que foi obviamente desmentido pela vida.
Mas é nas teses apregoadas pelo “revisionismo moderno” de Kruschev, dissecadas e combatidas pelo Presidente Mao, quando da restauração capitalista na URSS, que encontramos a essência e a origem mesmo deste revisionismo de Chavez e Castro. O Presidente Mao definiu o conteúdo do revisionismo de Kruschev como “Dois Todos” e “Três Pacíficas”. Dois Todos: Estado de todo o povo e partido de todo o povo; Três Pacíficas: Transição pacífica, Coexistência Pacífica e Emulação Pacífica.
Crianças palestinas simbolizam resistência
Crianças palestinas simbolizam resistência
Fidel Castro, se sabe, alinhou-se com o revisionismo soviético, e o povo cubano sofreu sérias privações na sua construção econômica em grande medida porque os dirigentes cubanos optaram por manter-se na órbita do social-imperialismo soviético a montar em bases realmente sólidas a sua edificação. Kruschev, a seu tempo, utilizou à exaustão o “argumento” de que os povos deveriam abrir mão da luta revolucionária para evitar a “catástrofe nuclear”. Na verdade, olhando a Grande Polêmica entre a URSS revisionista e a China Popular, expressa na “Carta Chinesa” e nos “Nove Comentários”, se vê claramente como é triste o papel de Fidel Castro dizendo serem originais as “suas” advertências. A isso, o Presidente Mao opôs com muito acerto que “ou a revolução conjura a guerra imperialista ou a guerra imperialista atiça a revolução”, e que “O Imperialismo é um tigre de papel”. Disse, no que foi confirmado pela História:
“Provocar desordens, fracassar, voltar a provocar desordens, fracassar de novo…até a sua própria ruína –eis a lógica dos imperialistas e de todos os reacionários do mundo com relação à causa do povo; jamais eles marcharão contra tal lógica. Essa é uma lei do marxismo. Quando dizemos que ‘o imperialismo é feroz’, nós queremos dizer que a sua natureza nunca mudará, que os imperialistas jamais abandonarão o seu facalhão de carniceiro, jamais se transformarão em budas, e seguirão assim até à sua própria ruína.
Lutar, fracassar, voltar a lutar, fracassar outra vez, lutar de novo…até à sua vitória –eis a lógica do povo, contra a qual ele, igualmente, jamais marchará. Essa é uma outra lei marxista; lei seguida pela revolução do povo russo, e que tem sido também seguida pela revolução do povo chinês”. (Presidente Mao, “Obras Escolhidas” T. IV, 1949).
Assim, quando Fidel diz que “não pareceria possível que um país tão pequeno como Cuba se visse obrigado a carregar o peso da luta contra aqueles que têm globalizado e submetido o mundo a um inconcebível saqueio”, devemos dizer que não parece e não é. Curiosamente, enquanto não faltam em seus discursos “apelos” e “advertências”, não há uma só menção às frentes principais de luta contra o imperialismo no mundo hoje, como as heróicas resistências afegã, iraquiana e palestina. Uma só menção à dura derrota imposta ao imperialismo e suas armas pelas massas populares desses países. Não há em seus discursos uma menção sequer, tampouco, às guerras populares em curso no mundo hoje, como a que se desenvolve na Índia e estremece o gigante país asiático. Enquanto Fidel, Chavez e consortes “advertem” os povos sobre os “perigos” da guerra estes, pelo visto, não lhes dão muito ouvidos: se opõem à agressão imperialista mas, se esta ocorre, não receiam pegar em armas para derrota-la.
 Finalmente, em uma de suas “Reflexões”, Fidel disse que o “modelo cubano” não é exemplo para ninguém. Bom, como revolucionários, devemos dizer, em primeiro lugar, que para o marxismo não há e nunca houve um “modelo” de revolução. Existem, sim, verdades universais do marxismo (que Fidel Castro jamais compreendeu, aliás) que exigem ser aplicadas à realidade concreta de cada país. E, além disso, o chamado “modelo” cubano jamais foi exemplo para ninguém realmente: sabemos bem aonde a tentativa de transplanta-lo conduziu…
Os jovens sempre tiveram destacada participação na luta pela emancipação dos povos do mundo. Seguem tendo esse papel. E as características da juventude somente podem se desenvolver amplamente se colocadas à serviço da luta revolucionária. A luta pela paz passa por destruir a fonte das guerras, passa por destruir e pôr abaixo o imperialismo. Sem essa condição, sem a decisão em enfrentar essa luta e todas as suas peripécias, não se pode falar verdadeiramente em um futuro, não se pode falar verdadeiramente em vitória dos povos.

Inédita onda de demissões é crime contra os trabalhadores cubanos:

Os ainda iludidos com o idílico “mito do socialismo cubano”, devem ter ficado estonteados com as medidas anunciadas recentemente pelo governo revisionista de Raul Castro. Este simplesmente decretou a demissão, nos próximos seis meses, de 500.000 funcionários públicos, ou seja, 20% dos trabalhadores estatais do país! Não está descartada, após essa primeira onda de demissões, outras 500.000 no próximo ano, totalizando 1 milhão de desempregados.
Tais medidas, que deixariam qualquer governante “neoliberal” enrubescido, e que são talvez inéditas na história econômica recente, foram justificadas (vejam só!) através do ensebado argumento largamente utilizado durante as privatizações das empresas estatais na América Latina: combate à “ineficácia” dos órgãos públicos e ao “paternalismo” do Estado. É claro e bem entendido que a burocracia dirigente, aquela mais próxima de Raul Castro, não está incluída em tal pacote…
Esse verdadeiro crime contra os trabalhadores cubanos ocorre após entrevista de Fidel Castro dizendo que o sistema de governo de Cuba “não funciona”. Como se vê, trata-se da destruição ainda mais radical do que ainda restou de garantia aos direitos do povo na economia daquele país.

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