Com cinco minutos de sessão aberta em Nova York, o Dow Jones Industrial caía 3,01%, em 873,66 pontos, ficando abaixo dos 29 mil pontos. Justin Lane/EFE
A produção industrial e as bolsas de valores do mercado financeiro desabaram na segunda quinzena de fevereiro em praticamente todo o mundo. O estopim, segundo propagandeia o monopólio de imprensa mundial, é a expansão do coronavírus, que converge com a crise de superprodução relativa de capital que já existe, ainda latente.
O principal afetado é o social-imperialismo chinês, onde o coronavírus mais espalhou e fez mais vítimas. São mais de 78 mil doentes e 2,7 mil mortos, a ampla maioria operários. Várias regiões do país estão em quarentena e algumas indústrias, segundo notícias veiculadas pelos monopólios de imprensa mundiais, fecharam completamente suas atividades até estabilizar o quadro de saúde pública, o que diminui a produção industrial, afetando em consequência as encomendas dos comércios e o consumo das famílias, ocasionando queda nos preços e prejuízo aos capitalistas chineses.
Como a China é uma das principais economias industriais do sistema imperialista, o medo de importar-se o vírus juntamente com as mercadorias produzidas (sejam mercadorias para consumo pessoal ou insumos e componentes de todos os tipos) obrigou vários países a diminuir os negócios com tal potência imperialista e dar férias coletivas a operários, o que obrigatoriamente também afeta, em menor escala, a capacidade de consumo das massas populares.
Para se ter ideia, a exportação de bens intermediários para eletroeletrônicos (como, por exemplo, peças para micro-ondas e uma infinidade de outros bens) corresponde a mais de 10% da produção global desse segmento. A paralisação da exportação chinesa nesse segmento é o mesmo que encarecimento geral da produção industrial de vários ramos.
Já a produção de smartphones deve cair pelo menos 12% no primeiro trimestre de 2020 se comparada ao mesmo período de 2019, segundo relatório da empresa de análise Trendforce. Esse será o pior resultado da produção do ramo em cinco anos para o primeiro trimestre. Outros ramos semelhantes, como produção de notebooks, monitores, televisões etc. também devem sofrer redução de produção em milhões de unidades.
Prejuízos à grande burguesia e imperialismo
Grandes monopólios internacionais já emitiram alertas sobre quedas na massa de lucro. A Apple, por exemplo, afirmou que não alcançará a meta de faturamento estipulada para o primeiro trimestre e atribuiu tal fato ao coronavírus. Mastercard, United Airlines, Toyota, Danone e outros monopólios fizeram alertas semelhantes.
A Petrobras, no Brasil, afirmou que terá dificuldades no primeiro trimestre em razão da queda no preço internacional do petróleo, resultante da baixa na produção industrial em alguns ramos da China dependentes dessa comoditie. O monopólio do capital burocrático do Brasil vende 65% do petróleo para a China.
O capitalismo burocrático brasileiro, a propósito, teve queda na previsão de crescimento, escamoteada pelo coronavírus, sendo que na realidade é uma crise geral de decomposição. O mercado financeiro estimou em 2,2% o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país para este ano. Alguns bancos, no entanto, afirmam que a economia não crescerá mais do que 2%.
As indústrias instaladas no Brasil, como a fábrica da LG em Tatuapé (SP) e da Samsung e Motorola, em Campinas, paralisaram a produção por falta de componentes eletrônicos provenientes da China, como chips, circuitos integrados e outras peças. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), metade das empresas relataram ter problemas para receber os insumos e componentes vindos do social-imperialismo chinês.
Já o preço internacional de outras importantes comodities para o capitalismo burocrático brasileiro também está em queda livre. A soja, que representa mais de 30% das exportações para a China, é uma das mercadorias com forte queda nos preços, juntamente com o minério de ferro (21% das exportações).
Crise de superprodução relativa
A ocorrência do coronavírus é apenas um fato que precipita a paralisação de parte da produção de alguns ramos da indústria e a queda dos lucros de alguns desses ramos. Porém, atrás desse fato já há uma superprodução relativa de capital latente.
A crise de superprodução relativa de capital ocorre quando a produção de capital extrapola em demasia a capacidade de consumo da sociedade definido, em última instância, pela contradição entre o caráter social da produção e a apropriação capitalista do produto*.
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Para se ter uma noção, o desemprego no USA atingiu um recorde de baixa: o índice é de 3,5% de desemprego, o que equivale praticamente a “pleno emprego” em outubro de 2019. É o menor índice dos últimos 50 anos, puxado pela diminuição na taxa de juros, que impulsiona a oferta de crédito para a produção industrial. Porém, em outubro, a criação de novos postos de trabalho na indústria diminuiu pela primeira vez em seis meses, embora a produção tenha crescido em novembro em 1,1%. Enquanto isso, o USA e a China elevam tarifas tributárias para as exportações uns dos outros, buscando proteger seus mercados consumidores por medo de não ter para onde escoar suas mercadorias e capitais.
Tudo isso são sinais de que a produção já sobrepassou os limites da capacidade de consumo, produção que segue sendo impulsionada para além do limite da capacidade de consumo devido ao crédito e ao sistema financeiro, criando as famosas “bolhas especulativas”.
Nota:
* É a contradição fundamental do capitalismo. Consiste em que a produção é cada vez mais socializada, isto é, aumenta a divisão do trabalho, a interdependência dos ramos de produção, da grande indústria, do número de operários em cada fábrica e em toda a sociedade em comparação com os setores médios – fato que eleva a produtividade do capitalismo na sociedade; porém tal socialização confronta-se com os limites da apropriação capitalista, na qual ao proletariado é concedido apenas uma pequena parte do produto de seu trabalho (na forma de salário), que, por sua vez, deve ser apenas o mínimo necessário para sua sobrevivência visando garantir uma maior mais-valia ao capitalista, que se apropria do resto do produto para reinvestir a maior parte na produção para não ser engolido pela concorrência, elevando ainda mais a produtividade. Tal apropriação capitalista (relações de produção capitalistas), que limita o consumo das massas populares, entra em choque com a tendência ao crescimento sem limites da produção capitalista (caráter social da produção que eleva o desenvolvimento das forças produtivas). O ápice dessa contradição gera a crise de superprodução relativa de capital. Assim F. Engels, em Anti-Dühring, define a marcha das crises: “O comércio paralisa, os mercados ficam superlotados de mercadorias, os produtos paralisam nos armazéns, sem encontrar saída; o dinheiro circulante torna-se invisível, o crédito desaparece, as fábricas fecham, as massas carecem de meios de vida, precisamente por haverem produzido em demasia os meios de vida, e por todos os lados vêm-se falências, insolvências e liquidações. A paralisação dura anos inteiros, as forças produtivas e os produtos desperdiçam-se e destroem-se em massa até que, por fim, à força de tanto depreciar-se, as mercadorias encontram uma saída e a produção e o intercâmbio vão se reanimando pouco a pouco. Paulatinamente, a marcha se acelera, o passo de passeio converte-se em trote, e de trote industrial em galope e, finalmente, numa desenfreada e vertiginosa carreira industrial, comercial, bancária e especulativa, para terminar, depois dos saltos mais arriscados... na fossa de um novo crack!”
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