Tuesday, November 11, 2014

Carta de Mumia Abu-Jamal sobre o desaparecimento forçado de 43 estudantes em Iguala – México.




 mumia abu-jamalNo México, o fogo arde, tanto literal como metaforicamente. Isto se passa porque milhares de jovens sentem uma calorosa indignação contra seu corrupto governo, como ficou demonstrado na resistência, que inclui a queima de edifícios do governo no dia 13 de outubro em Chilpancingo, capital do estado de Guerrero, México. Porque queimaram os prédios? Os manifestantes estavam cobrando o prazo não cumprido para que os oficiais do governo apresentassem com vida os quarenta e três estudantes detidos e desaparecidos por um grupo de policiais corruptos.

No dia 26 e 27 de setembro, agentes da polícia municipal de Iguala, Guerrero, abriram fogo contra três ônibus cheios de estudantes na Escola Rural Normal de Ayotzinapa. Seis pessoas – três estudantes e outras três pessoas que passavam pelo local – foram assassinadas! Mais 25 pessoas foram feridas! Os quarenta e três estudantes foram levados por veículos da polícia e nunca mais foram vistos.


A cada dia, as cidades do país são convulsionadas por dezenas de manifestações, fechamentos de avenidas e outras ações que exigem o regresso com vida dos 43 estudantes.

A raiva expressa nos protestos contra a polícia terrorista e brutal não tem se aplacado, mas tem se tornado mais forte. Em 22 de outubro, centenas de milhares de pessoas no México e por todo o mundo se manifestaram pelo regresso dos 43 desaparecidos.

Na Escola Rural Normal de Ayotzinapa e por todo o México, os filhos dos camponeses tem a oportunidade de receber uma boa educação que os preparam para ser professores. Mas, assim como nos Estados Unidos, a política neoliberal aplica reformas educacionais no México que estabelecem o fim das escolas normais rurais criadas nos anos 30 do século passado. Por que? Porque estas escolas desafiam a hegemonia do neoliberalismo ao ensinar aos estudantes a pensar de maneira crítica e a questionar a atual situação do mundo.

Quando os normalistas resistiram a desapropriação de suas escolas, o governo respondeu com terror policial e agora com a desaparição dos próprios estudantes.

Mas os protestos seguem e se radicalizam. É interessante e revelador que, quando um grupo islâmico sequestrou centenas de meninas na Nigéria, o mundo se enfureceu. Mas, quando um grupo de policiais corruptos e brutais massacraram a um grupo de estudantes, sequestraram a 43 destes e se negam a dizer onde estes se encontram, a imprensa corporativa neoliberal encobre suas ações.

No México, o povo segue exigindo a apresentação com vida dos estudantes desaparecidos. A luta segue.

Desde a nação encarcerada sou Mumia Abu-Jamal.

1 de novembro de 2014.

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