Companheira Sandra Lima: presente na luta!
“O nosso país e nosso mundo são um fogo
de monturo. As revoltas contra a opressão, exploração, preconceitos, são
um braseiro, estão se gestando. As rebeliões que estamos vendo até
agora são labaredas, explosões que ocorrem aqui e acolá. Esse mundo se
levantará parte por parte para derrotar esse sistema de ódio, de
opressão e de miséria, para dar lugar a um mundo novo, de novos homens e
novas mulheres, sem qualquer tipo de diferença e opressão. Companheira
Sandra, queria que vivesse mil anos porque precisamos de você. Porque as
massas pobres do nosso país precisam de você. Nós vemos hoje o fracasso
colossal de um projeto demagogo, oportunista, que fala em nome daqueles
que consagram verdadeiramente a sua vida e luta para a causa da
libertação do povo, e que agora vemos ruir de uma forma vergonhosa.
Todos oportunistas se tratam de difamar a esquerda e os comunistas em
cima do julgamento dos atos daqueles que não tinham e não têm nada de
esquerda. Verdadeiros revolucionários, como a companheira Sandra,
aqueles que ela vanguardeou, e ajudou a formar nas novas gerações, estão
muito mais fortalecidos, muito mais otimistas, com muito mais clareza.
Nosso mundo está prenhe de revolução e não há outro caminho para
emancipar a humanidade de todas essas mazelas, de todas essas crueldades
e monstruosidades que caem sobre as massas no dia a dia. Essa luta será
prolongada, árdua, difícil. Por isso queria que a companheira vivesse
mil anos. Levantaremos você como nosso estandarte, bem alto, bem visível
para dizer: sempre presente na luta.”
Trecho da intervenção da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP) nas homenagens a Sandra Lima
Conforme noticiado na edição anterior de AND,
na noite de 27 de julho, o proletariado e as classes revolucionárias em
nosso país perderam uma de suas mais valorosas filhas. Faleceu, após
uma cirurgia para remoção de um tumor cerebral, aos 61 anos, a
companheira Sandra Lima.
Com o mesmo espírito de luta que combateu o imperialismo e os
reacionários, o revisionismo e todo o oportunismo, Sandra Lima enfrentou
ao longo dos anos sérios problemas de saúde. Passou por cirurgias, pelo
coma, pelas dores provocadas por uma doença autoimune. Diante das
massas e dos inimigos de classe, jamais demonstrou dor ou vacilação.
Nunca cedeu. Estava, como sempre, otimista no momento da última
cirurgia.
Desde seus primeiros dias, e mesmo antes de sua fundação, o AND teve na companheira Sandra Lima uma entusiasta, uma incansável apoiadora, uma grande colaboradora e uma destacada propagandista.
Sandra Lima batalhou, constantemente inconformada, para encontrar o
caminho de libertação do nosso país. Não era apenas uma dirigente
popular, não apenas uma combatente cumpridora das tarefas, dedicada,
abnegada, mas uma dirigente proletária, forjada na luta de classes,
forjada na ciência do proletariado. Sandra era uma comunista convicta.
Possuía a compreensão de que, sem o partido revolucionário do
proletariado, não pode existir libertação de nosso povo e de nossa
Nação. Nos últimos 20 anos de sua vida, dedicou-se, ao custo de sua
saúde, com todas as suas energias, a forjar o caminho revolucionário.
Familiares, amigos e amigas, companheiros e companheiras de décadas de
militância compareceram a seus funerais. A cerimônia para prestar as
homenagens à companheira foi realizada no Sindicato dos Trabalhadores da
Construção de Belo Horizonte e Região, o Marreta, onde, por inúmeras
vezes, Sandra Lima participou de debates e lutas.
Uma guarda de honra composta por jovens revolucionárias – vestidas de
preto, portando braçadeiras vermelhas com a foice e o martelo – se
revezou durante os funerais. Seu corpo foi coberto pela bandeira
vermelha com a foice e o martelo, a bandeira do proletariado e seu
partido, o Partido Comunista. A ela foram prestadas honras como grande
dirigente que deu a vida aos mais pobres, aos mais explorados e aos mais
oprimidos.
Os funerais foram encerrados com as canções favoritas da companheira
entoadas por seus filhos. Solenemente, de pé, os presentes cantaram A Internacional, hino
do proletariado em todo o mundo. Emocionados, de punho erguido, no
momento em que seu corpo foi encaminhado à cremação, em uníssono, todos
cantaram Bella Ciao, canção revolucionária internacionalista.
“Companheira Sandra Lima: presente na luta!”, repetiram na despedida dessa grande revolucionária.
A VIDA E A LUTA DE UMA GRANDE REVOLUCIONÁRIA
Nascida em São Domingos do Prata, interior de Minas Gerais, a 6 de março
de 1955, Sandra Maria Lima Gomes, terceira filha de Antônio de Padua
Lima e Maria de Lourdes Rolla Lima, mudou-se em definitivo para Belo
Horizonte nos anos 1970. Cursou parte do ensino médio no Colégio
Estadual Central, palco importante da resistência secundarista ao regime
militar fascista.
Companheiros de luta e familiares de Sandra cantam ‘A Internacional’ durante velório
Travou o primeiro contato com o trabalho de massas em 1976, quando
passou a frequentar o Lindéia, bairro operário situado nos limites das
cidades de Belo Horizonte, Ibirité e Contagem. Integrou-se rapidamente à
vida comunitária, manifestando, ainda na juventude, a perspicácia e a
combatividade que a marcariam como futura militante revolucionária. Ali,
ajudou a organizar turmas de alfabetização de adultos e atividades
culturais destinadas à juventude proletária; participou ativamente da
construção do posto de saúde e das manifestações para exigir da
prefeitura de Belo Horizonte redução de impostos e melhorias nas
condições de transporte e saneamento do bairro. Foi durante o trabalho
no Lindéia que Sandra Lima estudou a obra que a despertaria para a luta
contra a opressão da mulher, A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, do grande dirigente do proletariado internacional Friedrich Engels.
No final dos anos 1970, passou a militar no Movimento Revolucionário 8
de Outubro, o MR-8. Dedicou-se por inteiro à revolução e ao combate do
regime militar fascista. Nessa mesma época, envolveu-se na organização
das famílias atingidas pelas enchentes que acometeram Belo Horizonte.
Junto ao movimento operário classista e combativo que já havia comandado
a greve da siderúrgica Mannesmann, contribuiu para que, em agosto de
1979, as ruas da capital mineira fossem tomadas por aproximadamente 30
mil trabalhadores grevistas da construção civil. Histórica, a greve
assombrou os patrões e a gerência militar e ficou conhecida como a
“Rebelião dos pedreiros”. Foi testemunha da ação covarde da Polícia
Militar que assassinou o operário Orocílio Martins Gonçalves.
Talentosa agitadora política, Sandra se destacou nas brigadas de venda do jornal Hora do Povo,
órgão do MR-8, que, àquela época, fazia críticas abertas ao regime
militar e propaganda da revolução. As brigadas conquistaram as praças
públicas do país pela combatividade de seus militantes. A polícia
prendia num dia e, no outro, a brigada voltava à praça. Várias vezes a
população arrancou das mãos da polícia os brigadistas presos. A
vivacidade e a argúcia no trabalho de mobilização e politização das
massas acompanharão Sandra por toda a vida de militante revolucionária.
Nos anos 1980, começou a trilhar mais detidamente os importantes
caminhos da luta contra a opressão da mulher, mas sempre enfocando como
causa das mulheres trabalhadoras. Nesse momento, importantes cisões
ocorriam no âmbito do movimento popular, opondo, de um lado,
revolucionários e, do outro, oportunistas eleitoreiros. Sandra
encorajava as companheiras a assumirem a linha de frente da luta
reivindicativa e revolucionária. Foi com esse espírito que ela se lançou
na construção da Federação Mineira de Mulheres, criada em 1984, quando
assumiu a presidência. Essa organização especial de mulheres tinha um
forte vínculo com as massas pobres da cidade e do campo.
Em março de 1995, integrou o grupo de militantes revolucionários que
rompeu com o nacional-reformismo do MR-8 e, a partir de então, Sandra
dedicou-se de forma mais profunda à árdua e coletiva tarefa de forjar os
sinuosos caminhos da Revolução Brasileira. Sandra forja-se como uma
intelectual proletária, de amplos e sólidos conhecimentos filosóficos, e
também uma mulher de ação. No ano seguinte, participou, lado a lado com
as massas empobrecidas de Belo Horizonte, das lutas por moradia na
cidade: a Vila Corumbiara surgiu, então, da tomada de um terreno da
prefeitura situado na região do Barreiro. Aproximadamente 200 famílias
proletárias participaram da vitoriosa ocupação, que recebeu o referido
nome em homenagem à batalha camponesa de Santa Elina, ocorrida em 1995,
no município de Corumbiara, em Rondônia. O crucial trabalho de
solidariedade à ocupação esteve sob a coordenação de Sandra Lima, que
também se incumbiu de articular a rede de apoio médico às famílias
acampadas.
Em 1999, atuou intensamente no apoio e na organização das mulheres
proletárias da Vila Bandeira Vermelha, na cidade de Betim. Viveu e lutou
junto às famílias. No dia 26 de abril daquele ano, durante o truculento
ataque à Vila por parte das forças de repressão, arregimentadas pelo
então prefeito da cidade, Jésus Lima (PT), as mulheres desempenharam um
destacado papel. A luta popular por moradia em Minas Gerais ganhava mais
um heroico e indelével capítulo regado pelo sangue dos operários Elder e
Erionides, brutalmente assassinados pela polícia durante a resistência
das famílias. Incansável, Sandra participou de reuniões e palestras;
realizou intensa propaganda em defesa das famílias e de denúncia do
hediondo crime perpetrado sob ordens da gerência Jésus Lima (PT) contra a
Vila Bandeira Vermelha.
Guarda de honra composta por jovens militantes revolucionárias se revezou no funeral
Dirigente do Movimento Feminino Popular (MFP), organização fundada em
2000, Sandra Lima foi uma das principais formuladoras da linha do
movimento revolucionário de mulheres brasileiro. Foi pioneira e
forjadora desse destacamento das mulheres mais avançadas, mais
conscientes, mais rebeldes, mais decididas a não aceitar a opressão
milenar que se abate sobre elas. Também foi uma das fundadoras, além de
dirigente, da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo
(FRDDP), organização a qual forneceu aportes teóricos e práticos.
Prestou inestimáveis contribuições às batalhas travadas pelas massas
trabalhadoras na cidade e, principalmente, no campo. Apoiou sem
restrições a luta dos camponeses pobres pela Revolução Agrária; dirigiu
inúmeros atos em celebração ao Dia Internacional da Mulher Proletária e
em solidariedade ao povo palestino; atuou em greves combativas;
denunciou implacavelmente o caráter farsesco das eleições reacionárias.
Participou de congressos camponeses e assembleias estudantis sempre
destacando a importância da formação das mulheres como ativistas e,
sobretudo, como quadros dirigentes que dominem a ideologia do
proletariado para que, assim, possam servir à revolução no país e à
revolução mundial.
Admiradora da literatura e da arte feitas pelo povo, estimulava os
jovens a lerem os clássicos do marxismo e, em certas ocasiões, ouvia e
cantava canções revolucionárias e populares com as companheiras e os
amigos. Era o centro das conversas mais animadas e das gargalhadas nos
momentos de descontração. Com sua voz rouca, como espada em riste,
combatia os inimigos de classe, instigando o povo a lutar e a se
levantar contra toda a opressão.
Mãe revolucionária, empenhou-se para que seus filhos compreendessem,
participassem e apoiassem sem reservas as lutas das massas no país e em
todo o mundo. Com igual atenção, dedicou-se à instrução dos jovens com
quem conviveu por meio de conselhos de mãe e avó.
Militante internacionalista, atuou em defesa do povo palestino, da
heroica resistência dos povos do Iraque e do Afeganistão, em defesa das
guerras populares no Peru, Índia, Filipinas e Turquia. Defendeu ainda as
lutas de libertação nacional dos povos contra o imperialismo e contra a
guerra imperialista.
Dirigiu nacionalmente a campanha pela punição dos criminosos, mandantes e
executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados do
regime militar fascista. O MFP, sob sua direção, protagonizou memoráveis
protestos em repúdio ao golpe de 1964, entre os quais, destaca-se o
realizado em 2012, quando a fachada do Clube Militar, situado na região
central do Rio de Janeiro, foi alvejada por um enorme borrão de tinta
vermelha, numa referência simbólica ao sangue dos combatentes do povo,
que tombaram na luta contra o fascismo do velho Estado brasileiro.
Nas jornadas de 2013 e 2014, quando a juventude combatente se levantou
contra o sistema explorador e, em particular, contra a farra realizada
pela Fifa, estava sempre presente, nas primeiras filas, a flamejante
bandeira do MFP. Quem a erguia altaneira e desafiadoramente era uma
jovem forjada por Sandra Lima.
Sua vida e seu exemplo são inapagáveis e serão gravados em letras
douradas no panteão dos heróis de nosso povo no triunfo da revolução em
nosso país.
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