Tuesday, August 30, 2016

BRASIL:Companheira Sandra Lima: presente na luta!



Companheira Sandra Lima: presente na luta!

Ano XV, nº 175, 2ª quinzena de Agosto de 2016
JOÃO ANTÔNIO | MÁRIO LÚCIO DE PAULA


As mulheres sustentam sobre seus ombros a metade do céu e devem conquistá-lo.Mao Tsetung
“O nosso país e nosso mundo são um fogo de monturo. As revoltas contra a opressão, exploração, preconceitos, são um braseiro, estão se gestando. As rebeliões que estamos vendo até agora são labaredas, explosões que ocorrem aqui e acolá. Esse mundo se levantará parte por parte para derrotar esse sistema de ódio, de opressão e de miséria, para dar lugar a um mundo novo, de novos homens e novas mulheres, sem qualquer tipo de diferença e opressão. Companheira Sandra, queria que vivesse mil anos porque precisamos de você. Porque as massas pobres do nosso país precisam de você. Nós vemos hoje o fracasso colossal de um projeto demagogo, oportunista, que fala em nome daqueles que consagram verdadeiramente a sua vida e luta para a causa da libertação do povo, e que agora vemos ruir de uma forma vergonhosa. Todos oportunistas se tratam de difamar a esquerda e os comunistas em cima do julgamento dos atos daqueles que não tinham e não têm nada de esquerda. Verdadeiros revolucionários, como a companheira Sandra, aqueles que ela vanguardeou, e ajudou a formar nas novas gerações, estão muito mais fortalecidos, muito mais otimistas, com muito mais clareza. Nosso mundo está prenhe de revolução e não há outro caminho para emancipar a humanidade de todas essas mazelas, de todas essas crueldades e monstruosidades que caem sobre as massas no dia a dia. Essa luta será prolongada, árdua, difícil. Por isso queria que a companheira vivesse mil anos. Levantaremos você como nosso estandarte, bem alto, bem visível para dizer: sempre presente na luta.”
Trecho da intervenção da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP) nas homenagens a Sandra Lima

Sandra Lima participando de manifestação no Centro de BH
Conforme noticiado na edição anterior de AND, na noite de 27 de julho, o proletariado e as classes revolucionárias em nosso país perderam uma de suas mais valorosas filhas. Faleceu, após uma cirurgia para remoção de um tumor cerebral, aos 61 anos, a companheira Sandra Lima.
Com o mesmo espírito de luta que combateu o imperialismo e os reacionários, o revisionismo e todo o oportunismo, Sandra Lima enfrentou ao longo dos anos sérios problemas de saúde. Passou por cirurgias, pelo coma, pelas dores provocadas por uma doença autoimune. Diante das massas e dos inimigos de classe, jamais demonstrou dor ou vacilação. Nunca cedeu. Estava, como sempre, otimista no momento da última cirurgia.
Desde seus primeiros dias, e mesmo antes de sua fundação, o AND teve na companheira Sandra Lima uma entusiasta, uma incansável apoiadora, uma grande colaboradora e uma destacada propagandista.
Sandra Lima batalhou, constantemente inconformada, para encontrar o caminho de libertação do nosso país. Não era apenas uma dirigente popular, não apenas uma combatente cumpridora das tarefas, dedicada, abnegada, mas uma dirigente proletária, forjada na luta de classes, forjada na ciência do proletariado. Sandra era uma comunista convicta. Possuía a compreensão de que, sem o partido revolucionário do proletariado, não pode existir libertação de nosso povo e de nossa Nação. Nos últimos 20 anos de sua vida, dedicou-se, ao custo de sua saúde, com todas as suas energias, a forjar o caminho revolucionário.
Familiares, amigos e amigas, companheiros e companheiras de décadas de militância compareceram a seus funerais. A cerimônia para prestar as homenagens à companheira foi realizada no Sindicato dos Trabalhadores da Construção de Belo Horizonte e Região, o Marreta, onde, por inúmeras vezes, Sandra Lima participou de debates e lutas.
Uma guarda de honra composta por jovens revolucionárias – vestidas de preto, portando braçadeiras vermelhas com a foice e o martelo – se revezou durante os funerais. Seu corpo foi coberto pela bandeira vermelha com a foice e o martelo, a bandeira do proletariado e seu partido, o Partido Comunista. A ela foram prestadas honras como grande dirigente que deu a vida aos mais pobres, aos mais explorados e aos mais oprimidos.
Os funerais foram encerrados com as canções favoritas da companheira entoadas por seus filhos. Solenemente, de pé, os presentes cantaram A Internacional, hino do proletariado em todo o mundo. Emocionados, de punho erguido, no momento em que seu corpo foi encaminhado à cremação, em uníssono, todos cantaram Bella Ciao, canção revolucionária internacionalista.
“Companheira Sandra Lima: presente na luta!”, repetiram na despedida dessa grande revolucionária.
A VIDA E A LUTA DE UMA GRANDE REVOLUCIONÁRIA
Nascida em São Domingos do Prata, interior de Minas Gerais, a 6 de março de 1955, Sandra Maria Lima Gomes, terceira filha de Antônio de Padua Lima e Maria de Lourdes Rolla Lima, mudou-se em definitivo para Belo Horizonte nos anos 1970. Cursou parte do ensino médio no Colégio Estadual Central, palco importante da resistência secundarista ao regime militar fascista.

Companheiros de luta e familiares de Sandra cantam ‘A Internacional’ durante velório
Travou o primeiro contato com o trabalho de massas em 1976, quando passou a frequentar o Lindéia, bairro operário situado nos limites das cidades de Belo Horizonte, Ibirité e Contagem. Integrou-se rapidamente à vida comunitária, manifestando, ainda na juventude, a perspicácia e a combatividade que a marcariam como futura militante revolucionária. Ali, ajudou a organizar turmas de alfabetização de adultos e atividades culturais destinadas à juventude proletária; participou ativamente da construção do posto de saúde e das manifestações para exigir da prefeitura de Belo Horizonte redução de impostos e melhorias nas condições de transporte e saneamento do bairro. Foi durante o trabalho no Lindéia que Sandra Lima estudou a obra que a despertaria para a luta contra a opressão da mulher, A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, do grande dirigente do proletariado internacional Friedrich Engels.
No final dos anos 1970, passou a militar no Movimento Revolucionário 8 de Outubro, o MR-8. Dedicou-se por inteiro à revolução e ao combate do regime militar fascista. Nessa mesma época, envolveu-se na organização das famílias atingidas pelas enchentes que acometeram Belo Horizonte. Junto ao movimento operário classista e combativo que já havia comandado a greve da siderúrgica Mannesmann, contribuiu para que, em agosto de 1979, as ruas da capital mineira fossem tomadas por aproximadamente 30 mil trabalhadores grevistas da construção civil. Histórica, a greve assombrou os patrões e a gerência militar e ficou conhecida como a “Rebelião dos pedreiros”. Foi testemunha da ação covarde da Polícia Militar que assassinou o operário Orocílio Martins Gonçalves.
Talentosa agitadora política, Sandra se destacou nas brigadas de venda do jornal Hora do Povo, órgão do MR-8, que, àquela época, fazia críticas abertas ao regime militar e propaganda da revolução. As brigadas conquistaram as praças públicas do país pela combatividade de seus militantes. A polícia prendia num dia e, no outro, a brigada voltava à praça. Várias vezes a população arrancou das mãos da polícia os brigadistas presos. A vivacidade e a argúcia no trabalho de mobilização e politização das massas acompanharão Sandra por toda a vida de militante revolucionária. Nos anos 1980, começou a trilhar mais detidamente os importantes caminhos da luta contra a opressão da mulher, mas sempre enfocando como causa das mulheres trabalhadoras. Nesse momento, importantes cisões ocorriam no âmbito do movimento popular, opondo, de um lado, revolucionários e, do outro, oportunistas eleitoreiros. Sandra encorajava as companheiras a assumirem a linha de frente da luta reivindicativa e revolucionária. Foi com esse espírito que ela se lançou na construção da Federação Mineira de Mulheres, criada em 1984, quando assumiu a presidência. Essa organização especial de mulheres tinha um forte vínculo com as massas pobres da cidade e do campo.
Em março de 1995, integrou o grupo de militantes revolucionários que rompeu com o nacional-reformismo do MR-8 e, a partir de então, Sandra dedicou-se de forma mais profunda à árdua e coletiva tarefa de forjar os sinuosos caminhos da Revolução Brasileira. Sandra forja-se como uma intelectual proletária, de amplos e sólidos conhecimentos filosóficos, e também uma mulher de ação. No ano seguinte, participou, lado a lado com as massas empobrecidas de Belo Horizonte, das lutas por moradia na cidade: a Vila Corumbiara surgiu, então, da tomada de um terreno da prefeitura situado na região do Barreiro. Aproximadamente 200 famílias proletárias participaram da vitoriosa ocupação, que recebeu o referido nome em homenagem à batalha camponesa de Santa Elina, ocorrida em 1995, no município de Corumbiara, em Rondônia. O crucial trabalho de solidariedade à ocupação esteve sob a coordenação de Sandra Lima, que também se incumbiu de articular a rede de apoio médico às famílias acampadas.
Em 1999, atuou intensamente no apoio e na organização das mulheres proletárias da Vila Bandeira Vermelha, na cidade de Betim. Viveu e lutou junto às famílias. No dia 26 de abril daquele ano, durante o truculento ataque à Vila por parte das forças de repressão, arregimentadas pelo então prefeito da cidade, Jésus Lima (PT), as mulheres desempenharam um destacado papel. A luta popular por moradia em Minas Gerais ganhava mais um heroico e indelével capítulo regado pelo sangue dos operários Elder e Erionides, brutalmente assassinados pela polícia durante a resistência das famílias. Incansável, Sandra participou de reuniões e palestras; realizou intensa propaganda em defesa das famílias e de denúncia do hediondo crime perpetrado sob ordens da gerência Jésus Lima (PT) contra a Vila Bandeira Vermelha.

Guarda de honra composta por jovens militantes revolucionárias se revezou no funeral
Dirigente do Movimento Feminino Popular (MFP), organização fundada em 2000, Sandra Lima foi uma das principais formuladoras da linha do movimento revolucionário de mulheres brasileiro. Foi pioneira e forjadora desse destacamento das mulheres mais avançadas, mais conscientes, mais rebeldes, mais decididas a não aceitar a opressão milenar que se abate sobre elas. Também foi uma das fundadoras, além de dirigente, da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP), organização a qual forneceu aportes teóricos e práticos.
Prestou inestimáveis contribuições às batalhas travadas pelas massas trabalhadoras na cidade e, principalmente, no campo. Apoiou sem restrições a luta dos camponeses pobres pela Revolução Agrária; dirigiu inúmeros atos em celebração ao Dia Internacional da Mulher Proletária e em solidariedade ao povo palestino; atuou em greves combativas; denunciou implacavelmente o caráter farsesco das eleições reacionárias. Participou de congressos camponeses e assembleias estudantis sempre destacando a importância da formação das mulheres como ativistas e, sobretudo, como quadros dirigentes que dominem a ideologia do proletariado para que, assim, possam servir à revolução no país e à revolução mundial.
Admiradora da literatura e da arte feitas pelo povo, estimulava os jovens a lerem os clássicos do marxismo e, em certas ocasiões, ouvia e cantava canções revolucionárias e populares com as companheiras e os amigos. Era o centro das conversas mais animadas e das gargalhadas nos momentos de descontração. Com sua voz rouca, como espada em riste, combatia os inimigos de classe, instigando o povo a lutar e a se levantar contra toda a opressão.
Mãe revolucionária, empenhou-se para que seus filhos compreendessem, participassem e apoiassem sem reservas as lutas das massas no país e em todo o mundo. Com igual atenção, dedicou-se à instrução dos jovens com quem conviveu por meio de conselhos de mãe e avó.
Militante internacionalista, atuou em defesa do povo palestino, da heroica resistência dos povos do Iraque e do Afeganistão, em defesa das guerras populares no Peru, Índia, Filipinas e Turquia. Defendeu ainda as lutas de libertação nacional dos povos contra o imperialismo e contra a guerra imperialista.
Dirigiu nacionalmente a campanha pela punição dos criminosos, mandantes e executores de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados do regime militar fascista. O MFP, sob sua direção, protagonizou memoráveis protestos em repúdio ao golpe de 1964, entre os quais, destaca-se o realizado em 2012, quando a fachada do Clube Militar, situado na região central do Rio de Janeiro, foi alvejada por um enorme borrão de tinta vermelha, numa referência simbólica ao sangue dos combatentes do povo, que tombaram na luta contra o fascismo do velho Estado brasileiro.
Nas jornadas de 2013 e 2014, quando a juventude combatente se levantou contra o sistema explorador e, em particular, contra a farra realizada pela Fifa, estava sempre presente, nas primeiras filas, a flamejante bandeira do MFP. Quem a erguia altaneira e desafiadoramente era uma jovem forjada por Sandra Lima.
Sua vida e seu exemplo são inapagáveis e serão gravados em letras douradas no panteão dos heróis de nosso povo no triunfo da revolução em nosso país.

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