Igor Mendes
Merece algumas palavras a
recente ruptura ocorrida nas fileiras da organização
sindical-eleitoreira, reformista, PSTU. Pelo que lemos no Manifesto da
“nova organização”, não se pode esperar dela nenhuma novidade, mas
apenas as mesmas velharias sobre utilização das eleições, frente de
esquerda, etc, etc.
Novo ciclo da luta de classes
Temos destacado que se abriu, a partir
das Jornadas de Junho de 2013, um novo ciclo da luta de classes no
País. O fracasso do gerenciamento petista é o traço distintivo, a chave
para entender toda a situação política atual. Mais que isso: com o PT
fracassou, na verdade, todo o oportunismo,
fracassaram as diferentes correntes “socialistas” que, de um modo ou de
outro, compartilham com o PT as mesmas origens e as mesmas ilusões com a
democracia burguesa-latifundiária.
PSOL, PSTU, PCO e outros agrupamentos
estiveram na gênese do PT, que fundaram e construíram. Jamais
apresentaram qualquer autocrítica sobre seu papel na criação deste
partido operário-burguês, ao contrário, insistem em embelezar tal
experiência como “progressiva”. O discurso sobre “revolução socialista
já!” e toda sorte de frases grandiloquentes, que aquelas correntes
entoam mais ou menos a depender das circunstâncias, jamais encontrou
correspondência com sua prática, legalista e eleitoreira, como ficou
comprovado no curso das Jornadas de Junho. Não espanta, portanto, que o
crescente rechaço das massas à farsa eleitoral (e ao petismo) venha
estreitar ainda mais suas possibilidades de atuação e perspectivas,
abrindo crises em seu meio.
Um beco sem saída
Sua divergência fundamental deu-se em
torno da atitude a adotar perante o impeachment e a ascensão de Temer. O
grupo que rompeu defendia a participação nos atos da “Frente Povo sem
Medo” e a adoção do “Não ao impeachment” como palavra-de-ordem central
para o período. A direção nacional do PSTU, ao contrário, diz que a “maioria
do partido rechaçou esta posição por considerar que o ‘Não ao
impeachment’ e a participação em atos da Frente Povo Sem Medo
significava, na prática, a mesma postura política da campanha contra o
suposto golpe, deflagrada pelo PT para tentar manter Dilma no governo. A
Frente Povo Sem Medo, encabeçada pelo MTST e o PSOL, foi simplesmente a
ala esquerda da campanha pelo ‘Fica Dilma’”.
Devemos reconhecer que o grupo que
rompeu é mais coerente com a prática anterior do próprio PSTU. Porque,
ao longo de anos, que fez este partido senão atuar, de fato, como “ala
esquerda” do petismo, embora encobrindo sua posição com “chamados” e
apoios “críticos”? Nas Jornadas de Junho e seus desdobramentos
portaram-se abertamente como linha auxiliar do PT, fazendo
vergonhosamente coro com a reação na condenação da “violência” nos
protestos, tachando de “vândalos” a juventude combatente, chegando ao
cúmulo de denunciar para a polícia a FIP e o MEPR
(que já estavam no centro da ação repressiva do Estado) como autores de
um suposto “atentado” à sua sede – o que nunca provaram, nem legal nem
politicamente. Enquanto as massas enfrentavam a Tropa de Choque, eles
convocavam atos com a Força Sindical e outras centrais sindicais
pelegas.
Em 2014, embora prometessem que “Na
Copa, vai ter luta” – para diferenciar-se do rebelde “Não vai ter Copa!”
surgido nas ruas – participaram da operação-desmonte de todas as lutas
que preocupavam o governo. Traíram, dias antes da abertura do Mundial,
as greves de duas categorias estratégicas, no caso, metroviários de São
Paulo e rodoviários no Rio.
Essa postura valeu-lhes o rechaço por
parte do conjunto do movimento popular e, particularmente, da nova
geração de ativistas que despertou para a luta neste período. Agora,
quando o afundamento do PT é um fato, dizem ser “contra todos”, tentando
em vão recuperar o prejuízo. A luta educa e, afinal, no curso dela, as
massas aprendem a julgar as organizações não pelo que prometem ou dizem
de si mesmas, mas pelos seus atos, afastando-se cada vez mais do
oportunismo.
Crise do marxismo ou crise do oportunismo?
O setor que rompeu fez diversas
referências à “marginalidade” e incapacidade da “esquerda” em dar
respostas ao atual período histórico. Particularmente significativo é o
trecho abaixo:
“A crise e posterior falência
estratégica do PT, tão evidentemente demonstrada nas jornadas de Junho
de 2013 e no episódio do impeachment, colocam para a esquerda marxista
brasileira o dilema de sua própria crise, de sua própria marginalidade,
de sua própria fragmentação. Os calendários eleitoral e sindical não comportam mais as lutas que vêm ocorrendo. É preciso uma saída estratégica. É nesse sentido que precisam trabalhar os marxistas revolucionários”. (Grifo meu).
Há aqui dois pontos que queremos
destacar. O primeiro, é que tomam a crise do PT como reveladora de sua
própria crise, reconhecendo assim a tese que temos sustentado de que tem
fracassado e chegado ao fim a época de ouro de todo o oportunismo. O
segundo ponto, grifado, aprofunda essa compreensão: dizer dos
calendários eleitoral e sindical que “não comportam” mais as lutas que
vêm ocorrendo é simplesmente uma forma adocicada de reconhecer que as
velhas direções oportunistas têm sido crescentemente ultrapassadas e
rechaçadas pelas massas, que têm posto em prática novas formas de luta e
de organização. A crise a que se referem não é da esquerda em
geral, mas da falsa esquerda, a crise é do próprio caminho
sindical-eleitoral, crescentemente repudiado pelas massas. Não é do
marxismo, enfim, mas da sua “adaptação” à ordem burguesa, da sua
negação.
Contudo, daquelas premissas, a
conclusão a que chega a nova organização é a necessidade de ampliar a
frente de “esquerda”, a começar… pelas próximas eleições! Predicando o
“novo”, praticam os surrados legalismo e cretinismo parlamentar. É
sintomático ver que, embora a cada dez palavras que pronunciem, sete
sejam “revolução”, o seu primeiro ato tenha sido criar uma página com o
nome e foto de todos os seus militantes. Como dizia o camarada Lênin,
muito a propósito, “esta gente tem sido tão corrompida e tão embrutecida pela legalidade burguesa que nem sequer pode compreender a necessidade de outras organizações, a necessidade de umas organizações ilegais que
dirijam a luta revolucionária… Esta gente tem chegado a imaginar que os
sindicatos legais, existentes por graça da autorização policial,
representam um limite, além do qual não se pode passar”.
Sim, o limite dos reformistas são os
partidos legais, “de massas” – que não guardam nenhuma semelhança com o
partido conspirativo defendido por Lenin – e a luta sindical (não há de
nenhuma parte, aliás, qualquer referência à luta no campo, apesar do seu
recrudescimento e radicalização crescentes). São escravos da democracia
burguesa, mais dependentes dela que a própria burguesia, e por isso
também seus defensores mais “radicais”.
Aos militantes sinceros
Os militantes que se iludem ou se
iludiram com essas organizações devem aprofundar o estudo do marxismo
genuíno, tal como formulado e levado à prática por Marx, Engels, Lenin,
Stalin e Mao Tsetung. E, particularmente, devem aprofundar o balanço
histórico sobre a experiência do PT. A melhor ajuda que os
revolucionários podemos dar para que avancem é seguir demarcando
profundamente os campos com sua direção oportunista, não apenas em
teoria, mas através da atuação real na luta de classes.