Fausto Arruda, AND nº 187, p.3
A crise política — que se agrava
na disputa dos grupos de poder entrincheirados nos três poderes da
república, e que sobre a base da crise econômica (crise do do
capitalismo burocrático) já se transformou em luta encarniçada — é
expressão da pugna entre as frações burocrática e compradora da grande
burguesia local, em que ambas buscam atrair para si o apoio da classe
dos latifundiários, cujo apoio decidirá quem domina mais o aparelho de
Estado a seu benefício e por servir mais ao imperialismo, principalmente
ianque.
A luta no
campo da política, com os golpes vibrados pela Operação “Lava Jato”, com
as altercações envolvendo governadores, deputados, senadores, juízes,
procuradores, ministros de tribunais superiores e o monopólio de
imprensa, com acusações, delações, vazamentos, traições, rasteiras e
rupturas, é onde ela se manifesta de modo mais dinâmico.
As siglas
partidárias ou seus políticos que conformam tais grupos de poder e
representam uma ou outra destas frações das classes dominantes locais
servem-se das estruturas das instituições do Estado sob seu controle
para golpear seus contendentes. Porém, por trás da Operação “Lava Jato”
maneja a mão do imperialismo ianque que quer salvar seu sistema de
dominação, fazendo, para tanto, uma faxina nas instituições
desmoralizadas e desacreditadas do velho Estado, desmascarando e punindo
as cúpulas dos seus partidos, além dos tecnocratas e empresários que os
têm dado suporte através da corrupção na gestão da coisa pública.
Tentam, com isso, convencer a opinião pública de que o problema não é do
sistema apodrecido, mas sim dos indivíduos políticos.
No
parlamento, Temer, dando cumprimento às ordens imperialistas, mesmo
servindo-se da velha política do “é dando que se recebe”, vai empurrando
cada vez mais com dificuldade sua base aliada, ainda mais agora, depois
da ruptura de Renan diante da sanção da “PEC” da Terceirização e de
outras medidas sem audiência do senado, onde também se digladiam os
grupos de poder das frações das classes dominantes.
O anúncio
de pesquisas de opinião indica aquilo que alguns generais tagarelaram
sobre a possibilidade de sua saída, se a coisa andar mal. De qualquer
maneira, o parecer do relator do Tribunal Superior Eleitoral sobre a
eleição da chapa Dilma-Temer é pela sua cassação, tudo a depender do
andar da carruagem do mercado (leia-se bancos, FMI, Banco Mundial e
especuladores em geral). O descrédito dos políticos, das empresas e das
instituições só aumenta a cada delação. E, com as denúncias contra
Aécio, se o Cabral e o Cunha fizerem delação premiada de tudo que sabem,
no desespero de reduzir suas penas, teremos matéria para além da
“delação do fim do mundo” da Odebrecht.
No campo
da economia, por sua vez, a crise segue se aprofundando a cada anúncio
dos índices de desemprego, sempre em elevação, de crescimento do país
como rabo de cavalo (para baixo), de quebradeira das pequenas e médias
empresas, dos fabulosos lucros dos bancos e da desnacionalização de
terras e minas. Contrastando com este quadro, vemos o matraquear de
economistas e arautos do monopólio da comunicação, vassalos do mercado, a
prometerem maravilhas se as medidas de ajuste imperialista forem
implementadas. Longe de seus desejos e ilusões, a atual crise, por seu
prolongamento e sintomas, já se caracteriza como crise não apenas no
sentido meramente econômico, e sim como crise geral do capitalismo
burocrático secularmente enfermo e agonizante, em meio da crise geral do
imperialismo.
Carrascos
Tais
medidas constantes do receituário imperialista, para serem
implementadas, necessitam de mãos que a manejem com a rapidez igual a
rapidez do verdugo no manejo do machado, da forca ou da guilhotina.
A
maquiagem dessa crise pelo oportunismo petista para garantir a reeleição
de Dilma Rousseff, atrasando-se nas medidas do ajuste fiscal imposto
pelo imperialismo, levou a que a inevitável crise econômica explodisse
em meio à crise política das disputas de frações, abrindo caminho para
sua substituição pela dupla Temer e Meirelles no gerenciamento do
Estado. No único objetivo de que docilmente Temer atuasse na política,
transformando em lei o que o apátrida Meirelles, encarregado pelo FMI e
pelo Banco Mundial, aplicasse do arsenal de medidas de ajustes. Assim,
aprofundando mais ainda a exploração e padecimento do povo, bem como a
subjugação nacional.
O impeachment
de Dilma não estava no plano imperialista, na medida que ela fazia com
aplicação a sua política. A deposição foi, na verdade, produto da
própria crise política e das pugnas dos grupos de poder dentro dela. No
entanto, a emenda resultou melhor que o soneto, já que para o desempenho
dessa missão de esfolar o povo, os vende-pátria Temer e Meirelles são
até mais gabaritados. Ambos já devidamente escolados e qualificados em
gerenciamentos como o de FHC e Luiz Inácio, por suas qualidades
subservientes à política e ditames das agências do imperialismo.
Medidas,
tais como limitação dos gastos públicos, condição para renegociar
dívidas dos estados, repatriação de dinheiro colocado indevidamente no
exterior (corrupção), liberação dos recursos das contas inativas do
FGTS, fim das desonerações da folha de pagamento de empresas com uso
intensivo de força de trabalho, liberação de um bilhão de reais para os
pecuaristas depois da Operação “Carne Fraca”, para não falar das
contrarreformas antipovo da Previdência e Trabalhista, incluída a
Terceirização. Todas embutem os interesses imperialistas, principalmente
da fração compradora da grande burguesia e do latifúndio.
Porém,
apesar de golpear duramente o povo aumentando tanto a taxa de exploração
e mais-valia, drenar os recursos extorquidos da população para a
banqueirada e o “agronegócio” e cortar brutalmente no orçamento das
áreas sociais já extremamente críticas e caóticas, tais ajustes vão se
revelando inócuos para a velha ordem no alcance de seus objetivos
falaciosos de “reativar a economia”, de “retomar o crescimento”, de
“gerar mais empregos” e de “sanear as finanças públicas”, frente à
colossal crise econômica e falência das finanças do velho Estado, dentro
da crise geral do imperialismo.
Crise geral do imperialismo e a condição semicolonial e semifeudal
Temos
afirmado a condição semicolonial e semifeudal de nosso país, observando a
definição de Lenin segundo a qual, com o surgimento do imperialismo, o
mundo ficou dividido entre um punhado de nações opressoras e uma imensa
maioria de nações oprimidas e exploradas, sendo estas divididas entre
colônias e semicolônias.
As
semicolônias, como é o caso do Brasil, são constituídas por Estados que
na aparência são soberanos, mas em essência são dominados pelo
imperialismo, que exerce sua dominação através de classes dominantes
lacaias, às quais disputam entre si os postos de mando das instituições
estatais como o executivo, o legislativo e o judiciário, colocando-os a
serviço de seus interesses de classes exploradoras. Assim, afirmamos ser
o Estado brasileiro um Estado burguês-latifundiário, serviçal do
imperialismo.
Historicamente,
no Brasil, desde os tempos imperiais sob o semicolonialismo inglês e,
após o surgimento do imperialismo, sob dominação inglesa e,
posteriormente, ianque, os “governos” — em verdade, gerenciamentos de turno —
têm conduzido o país sob as rédeas da subjugação nacional, que é a
política imposta pelo imperialismo, para que os países
semicoloniais/semifeudais o sirvam como economia complementar.
Nos
momentos de crise profunda como a que eclodiu a partir de 2008, o
imperialismo aumenta a sua avidez sobre as colônias e semicolônias na
busca de manter seus ganhos às custas do maior saqueio das mesmas,
diretamente, abocanhando ainda mais seus recursos minerais, pelo
controle e extorsão do orçamento nacional e pela retirada de direitos
dos trabalhadores. Tudo para elevar a taxa de exploração com a
consequente elevação de seus lucros.
Situação revolucionária em desenvolvimento
Não é
demais afirmar que a crise na economia produz a pugna entre os grupos de
poder representantes das frações das classes dominantes, abrindo uma
crise política que em seu aprofundamento termina por envolver a
sociedade de cima a baixo. Essa pugna pelo controle do aparelho de
Estado, por ganhar mais ou perder menos, se radicaliza, enquanto que,
para enfrentar a crise econômica, aumentam o grau de exploração sobre as
massas, as quais, por sua vez, rebelam-se contra esse estado de coisas e
são cada vez mais reprimidas por crescente violência.
Essa é a
situação objetiva revolucionária: os de cima não conseguem governar como
antes e os de baixo não aceitam mais viver nas condições da velha
ordem.
Os de cima
desencadeiam uma guerra civil reacionária contra o povo do campo e da
cidade, que se lança desesperadamente na defesa de seus direitos
pisoteados, respondendo com tomadas de terra no campo e protestos cada
vez mais belicosos nas cidades.
Tal
situação depende da existência mínima de uma vanguarda revolucionária
determinada para que transforme os protestos e lutas das massas no campo
e na cidade em ações revolucionárias pela conquista do poder político.
Em perspectiva, os carrascos do povo não escaparão.
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