Publicamos
a seguir, como homenagem aos 161
anos do nascimento da grande comunista alemã Clara Zetkin,
o artigo de
Ana Botner
publicado no Jornal A Nova Democracia no
número 218, primeira quinzena de julho de
2018.
Disponível
também em:
<http://anovademocracia.com.br/no-212/9129-161-anos-do-nascimento-de-clara-zetkin>
Acesso
em: 04
de jul.
2018.
161 anos do nascimento de Clara Zetkin
- Ana Botner, A Nova Democracia, Ano XVII, nº 212 - 1ª quinzena de Julho de 2018
A obra de uma mulher comunista à serviço de sua classe
No
dia 5 de julho completam-se 161 anos do nascimento de uma das grandes
figuras do proletariado, Clara Zetkin, registrada Clara Eissner.
Nascida na Alemanha no ano de 1857, foi uma marxista convicta, tendo
dedicado toda sua vida à causa do comunismo e à luta feminina
revolucionária. Seus discursos profundos e atos heroicos induziram
em milhares de homens e mulheres a vontade de lutar.
Vladimir Lenin, Clara Zetkin e Nadezhda Krupskaya. Ilustração de Boris Lebedev, 1969 |
comunistas russos exilados.
Depois
de pouco tempo, já estava engajada na luta revolucionária e com 24
anos, em 1881, uniu-se ao Partido Socialista dos Trabalhadores, que
mais tarde seria renomeado para Partido Socialdemocrata Alemão.
Clara
trabalhou na clandestinidade, devido a lei antissocialista outorgada
pelo chanceler da Alemanha, Otto von Bismarck, que proibia qualquer
tipo de imprensa e organização de cunho revolucionário. A
perseguição do Estado alemão forçou Clara e seu
companheiro, Ossip Zetkin, a deixarem o país e se refugiarem em
Paris. Clara regressaria à Alemanha apenas dez anos depois.
Já
de volta a seu país de origem, em 1915, Zetkin organizou a
Conferência Internacional de Mulheres Socialistas contra a guerra e
em luta contra o revisionismo de Kautsky na Segunda Internacional,
que resultou em várias prisões. Um ano depois, se separa do partido
revisionista de Bernstein.
Em
1o de janeiro de 1919 é fundado o Partido Comunista da Alemanha.
Clara e outras companheiras e companheiros de luta, como Rosa
Luxemburgo, unem-se ao Partido. Entre 5 e 12 de janeiro ocorreu uma
série de greves e lutas armadas em Berlim, conhecidas como
Levantamento Espartaquista, esmagado pelas forças do governo com a
cooperação dos revisionistas do Partido Socialdemocrata Alemão.
Clara
Zetkin foi membro do Comitê Central do Partido Comunista até 1929,
bem como participou do Comitê Executivo da Internacional Comunista
de 1921 até 1933, ano em que faleceu, na União Soviética, exilada
pela ascensão do nazismo.
Clara
Zetkin e a questão feminina
Clara
Zetkin, convencida da importância das mulheres no movimento
revolucionário, contribuiu de maneira grandiosa para o avanço do
debate e compreensão sobre a questão feminina dentro dele,
escrevendo e expondo ideias verdadeiramente revolucionárias para a
época e que até hoje servem como norte para a maior compreensão
sobre o tema da emancipação da mulher.
Ela
foi uma fervorosa inimiga do feminismo burguês. Afirmava de maneira
convicta que a batalha da mulher proletária não poderia ser a mesma
que a das mulheres burguesas, que semeiam a luta contra os homens da
mesma classe.
Em
discurso feito ao congresso do Partido da Socialdemocracia da
Alemanha, em 16 de outubro de 1896, faz brilhante análise
materialista sobre o problema das mulheres e expõe a clara diferença
dos questionamentos femininos no seio de cada uma das classes que são
frutos do modo capitalista de produção: a burguesia, a pequena
burguesia (intelectualidade) e o proletariado.
Fundamenta
suas ideias afirmando que somente o modo de produção capitalista
foi capaz de pôr em evidência o problema das mulheres, posto que
com a revolução industrial a produção doméstica foi lentamente
entrando em decadência e milhões de mulheres se viram obrigadas a
encontrar seu sustento e seu sentido de vida fora do lar, ou seja, na
sociedade como um todo. A partir desse momento a consciência da
mulher para a sua situação sofreu um salto qualitativo.
Como
uma consequência do novo modo de produção e do novo sistema
social, surgiram as questões modernas sobre o problema feminino, que
assumem diferentes formas de acordo com as necessidades de cada
classe.
No
âmbito econômico, para as mulheres da grande burguesia –
caracteriza Clara – o centro de sua luta está na conquista de
igualdade na posse de propriedades; para as mulheres da pequena
burguesia e da intelectualidade, visto que sucumbem suas pequenas
produções, esse centro se baseia em oportunidades igualitárias de
treinamento profissional e no mercado de trabalho, temendo cair no
setor mais fundo do proletariado. Em ambos os casos, as formas de
liberdade que almejam, visto sua concepção de mundo, dão-se em
batalhas travadas contra os homens de sua classe. Além do mais,
expõe, “a sociedade burguesa não é fundamentalmente contra o
movimento feminino burguês, o que pode ser provado pelo fato de que
em vários Estados foram iniciadas reformas das leis, em âmbito
público e privado”.
No
caso do proletariado feminino, no entanto, é diferente. Foi a
necessidade do capitalismo por exploração de mão de obra barata e
excedente que obrigou a mulher proletária a participar do processo
produtivo. Elas se empregaram para ajudar seus maridos e filhos, e
conquistaram assim sua relativa independência financeira muito antes
das mulheres burguesas. Entretanto, nas palavras de Clara Zetkin, “se
durante a Era da Família o homem tinha direito de domar sua mulher
com chicote (pense na lei eleitoral da Bavária!), agora o
capitalismo está domando-a ainda mais”.
Mesmo
com a conquista de sua relativa independência, as migalhas do
capitalismo – com que o proletariado feminino sobrevive – não
permitem que essas mulheres desenvolvam sua individualidade em
nenhuma esfera: seja pessoal, familiar ou profissional.
Em
sua luta por emancipação, a principal contradição para a mulher
proletária não está em seu companheiro de classe, mas sim na
sociedade capitalista. Seus esforços devem ser direcionados para o
fervor da luta de classes, para a tomada do poder político pelo
proletariado como um todo, lutando lado a lado de seus companheiros
contra toda exploração e opressão que os assola.
Já
em seu texto denominado Lenin e o movimento feminino, Clara e
Lenin discutem sobre a principalidade, no movimento feminino, dos
problemas políticos do proletariado e da necessidade de forjar as
mulheres na luta revolucionária.
Rechaçando
as posições do feminismo burguês que colocam como o centro das
atividades as questões sobre a moral e a sexualidade femininas,
Lenin e Clara criticam a predileção por esse tipo de assunto nas
reuniões dirigidas pelo Partido Comunista da Alemanha com as
operárias.
Embora
as questões sexuais, no regime da propriedade privada, causem grande
sofrimento às mulheres e precisam ser mencionadas, devem sempre ser
vistas como “parte da grande questão social” – nas palavras de
Lenin. Isto é, subordinada à luta de classes.
“Ouvi
dizer que, em vossas reuniões noturnas dedicadas à leitura e aos
debates com as operárias, ocupai-vos sobretudo com as questões do
sexo e do casamento. Esse assunto estaria no centro de vossas
preocupações, de vossa instrução política e de vossa ação
educativa! Não acreditei no que ouvi. Neste momento, todos os
pensamentos das operárias, das mulheres trabalhadoras devem estar
voltados para a revolução proletária. Ela é que criará inclusive
base para as novas condições de casamento e novas relações entre
os sexos. Como pôde ficar calada?” – posiciona-se Lenin,
cobrando de Clara que criticasse as camaradas. Clara explicou-lhe que
criticou-as, mas que necessitou ter tato para não tornar-se mal
vista, a que Lenin retrucou: “Eu sei. Também me acusam de
filisteísmo. Mas isso não me perturba. Os pássaros que mal saíram
do ovo das concepções burguesas creem-se sempre terrivelmente
inteligentes.”.
Zetkin,
exemplo de luta heroica e companheira de armas de Engels, Lenin e
Stalin, sempre levantou a bandeira de que a emancipação da mulher
só pode ser possível se esta luta for incorporada à luta
revolucionária pelo comunismo.
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