Friday, July 6, 2018

161 anos do nascimento de Clara Zetkin - Jornal A Nova Democracia



Publicamos a seguir, como homenagem aos 161 anos do nascimento da grande comunista alemã Clara Zetkin, o artigo de Ana Botner publicado no Jornal A Nova Democracia no número 218, primeira quinzena de julho de 2018. Disponível também em: <http://anovademocracia.com.br/no-212/9129-161-anos-do-nascimento-de-clara-zetkin> Acesso em: 04 de jul. 2018.

161 anos do nascimento de Clara Zetkin

Ana Botner, A Nova Democracia, Ano XVII, nº 212 - 1ª quinzena de Julho de 2018

A obra de uma mulher comunista à serviço de sua classe

No dia 5 de julho completam-se 161 anos do nascimento de uma das grandes figuras do proletariado, Clara Zetkin, registrada Clara Eissner. Nascida na Alemanha no ano de 1857, foi uma marxista convicta, tendo dedicado toda sua vida à causa do comunismo e à luta feminina revolucionária. Seus discursos profundos e atos heroicos induziram em milhares de homens e mulheres a vontade de lutar.
Vladimir Lenin, Clara Zetkin e Nadezhda Krupskaya. Ilustração de Boris Lebedev, 1969
Clara teve seu primeiro contato com a causa revolucionária quando ingressou na universidade para se tornar professora. Lá conheceu diversos membros do movimento operário da Alemanha e vários
comunistas russos exilados.
Depois de pouco tempo, já estava engajada na luta revolucionária e com 24 anos, em 1881, uniu-se ao Partido Socialista dos Trabalhadores, que mais tarde seria renomeado para Partido Socialdemocrata Alemão.
Clara trabalhou na clandestinidade, devido a lei antissocialista outorgada pelo chanceler da Alemanha, Otto von Bismarck, que proibia qualquer tipo de imprensa e organização de cunho revolucionário. A perseguição do Estado alemão forçou  Clara e seu companheiro, Ossip Zetkin, a deixarem o país e se refugiarem em Paris. Clara regressaria à Alemanha apenas dez anos depois.
Já de volta a seu país de origem, em 1915, Zetkin organizou a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas contra a guerra e em luta contra o revisionismo de Kautsky na Segunda Internacional, que resultou em várias prisões. Um ano depois, se separa do partido revisionista de Bernstein.
Em 1o de janeiro de 1919 é fundado o Partido Comunista da Alemanha. Clara e outras companheiras e companheiros de luta, como Rosa Luxemburgo, unem-se ao Partido. Entre 5 e 12 de janeiro ocorreu uma série de greves e lutas armadas em Berlim, conhecidas como Levantamento Espartaquista, esmagado pelas forças do governo com a cooperação dos revisionistas do Partido Socialdemocrata Alemão.
Clara Zetkin foi membro do Comitê Central do Partido Comunista até 1929, bem como participou do Comitê Executivo da Internacional Comunista de 1921 até 1933, ano em que faleceu, na União Soviética, exilada pela ascensão do nazismo.
Clara Zetkin e a questão feminina
Clara Zetkin, convencida da importância das mulheres no movimento revolucionário, contribuiu de maneira grandiosa para o avanço do debate e compreensão sobre a questão feminina dentro dele, escrevendo e expondo ideias verdadeiramente revolucionárias para a época e que até hoje servem como norte para a maior compreensão sobre o tema da emancipação da mulher.
Ela foi uma fervorosa inimiga do feminismo burguês. Afirmava de maneira convicta que a batalha da mulher proletária não poderia ser a mesma que a das mulheres burguesas, que semeiam a luta contra os homens da mesma classe.
Em discurso feito ao congresso do Partido da Socialdemocracia da Alemanha, em 16 de outubro de 1896, faz brilhante análise materialista sobre o problema das mulheres e expõe a clara diferença dos questionamentos femininos no seio de cada uma das classes que são frutos do modo capitalista de produção: a burguesia, a pequena burguesia (intelectualidade) e o proletariado.
Fundamenta suas ideias afirmando que somente o modo de produção capitalista foi capaz de pôr em evidência o problema das mulheres, posto que com a revolução industrial a produção doméstica foi lentamente entrando em decadência e milhões de mulheres se viram obrigadas a encontrar seu sustento e seu sentido de vida fora do lar, ou seja, na sociedade como um todo. A partir desse momento a consciência da mulher para a sua situação sofreu um salto qualitativo.
Como uma consequência do novo modo de produção e do novo sistema social, surgiram as questões modernas sobre o problema feminino, que assumem diferentes formas de acordo com as necessidades de cada classe.
No âmbito econômico, para as mulheres da grande burguesia – caracteriza Clara – o centro de sua luta está na conquista de igualdade na posse de propriedades; para as mulheres da pequena burguesia e da intelectualidade, visto que sucumbem suas pequenas produções, esse centro se baseia em oportunidades igualitárias de treinamento profissional e no mercado de trabalho, temendo cair no setor mais fundo do proletariado. Em ambos os casos, as formas de liberdade que almejam, visto sua concepção de mundo, dão-se em batalhas travadas contra os homens de sua classe. Além do mais, expõe, “a sociedade burguesa não é fundamentalmente contra o movimento feminino burguês, o que pode ser provado pelo fato de que em vários Estados foram iniciadas reformas das leis, em âmbito público e privado”.
No caso do proletariado feminino, no entanto, é diferente. Foi a necessidade do capitalismo por exploração de mão de obra barata e excedente que obrigou a mulher proletária a participar do processo produtivo. Elas se empregaram para ajudar seus maridos e filhos, e conquistaram assim sua relativa independência financeira muito antes das mulheres burguesas. Entretanto, nas palavras de Clara Zetkin, “se durante a Era da Família o homem tinha direito de domar sua mulher com chicote (pense na lei eleitoral da Bavária!), agora o capitalismo está domando-a ainda mais”.
Mesmo com a conquista de sua relativa independência, as migalhas do capitalismo – com que o proletariado feminino sobrevive – não permitem que essas mulheres desenvolvam sua individualidade em nenhuma esfera: seja pessoal, familiar ou profissional.
Em sua luta por emancipação, a principal contradição para a mulher proletária não está em seu companheiro de classe, mas sim na sociedade capitalista. Seus esforços devem ser direcionados para o fervor da luta de classes, para a tomada do poder político pelo proletariado como um todo, lutando lado a lado de seus companheiros contra toda exploração e opressão que os assola.
Já em seu texto denominado Lenin e o movimento feminino, Clara e Lenin discutem sobre a principalidade, no movimento feminino, dos problemas políticos do proletariado e da necessidade de forjar as mulheres na luta revolucionária.
Rechaçando as posições do feminismo burguês que colocam como o centro das atividades as questões sobre a moral e a sexualidade femininas, Lenin e Clara criticam a predileção por esse tipo de assunto nas reuniões dirigidas pelo Partido Comunista da Alemanha com as operárias.
Embora as questões sexuais, no regime da propriedade privada, causem grande sofrimento às mulheres e precisam ser mencionadas, devem sempre ser vistas como “parte da grande questão social” – nas palavras de Lenin. Isto é, subordinada à luta de classes.
Ouvi dizer que, em vossas reuniões noturnas dedicadas à leitura e aos debates com as operárias, ocupai-vos sobretudo com as questões do sexo e do casamento. Esse assunto estaria no centro de vossas preocupações, de vossa instrução política e de vossa ação educativa! Não acreditei no que ouvi. Neste momento, todos os pensamentos das operárias, das mulheres trabalhadoras devem estar voltados para a revolução proletária. Ela é que criará inclusive base para as novas condições de casamento e novas relações entre os sexos. Como pôde ficar calada?” – posiciona-se Lenin, cobrando de Clara que criticasse as camaradas. Clara explicou-lhe que criticou-as, mas que necessitou ter tato para não tornar-se mal vista, a que Lenin retrucou: “Eu sei. Também me acusam de filisteísmo. Mas isso não me perturba. Os pássaros que mal saíram do ovo das concepções burguesas creem-se sempre terrivelmente inteligentes.”.
Zetkin, exemplo de luta heroica e companheira de armas de Engels, Lenin e Stalin, sempre levantou a bandeira de que a emancipação da mulher só pode ser possível se esta luta for incorporada à luta revolucionária pelo comunismo.

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