Sunday, June 5, 2022

for debate - sobra 'A crescente militarização da Europa em meio à crise geral sem precedentes do imperialismo'

nosotros no compartimos in este articulo -la referencia a la 'lucha di liberacion de la nacion ucraina' ni el final - qui corresponde a una evaluacion subjectivista de la situacion y de la tendencia  - nota de maoist road

Presidente do Comitê Militar da União Europeia visita o Quartel-General das Potências Aliadas da Europa. Foto: EEAS (European Union Website)

No dia 11/05, os países nórdicos Finlândia e Suécia anunciaram seu desejo de se juntar à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O anúncio ocorreu em meio à guerra de agressão do imperialismo russo à Ucrânia e ao aprofundamento sem precedentes da crise geral do imperialismo da qual é parte a já pressagiada próxima crise de superprodução, ampliando as tensões entre as potências e superpotências imperialistas, componente de uma das três grandes contradições de nossa atual época: as contradições interimperialistas.

A OTAN, atualmente, serve como espada do imperialismo ianque na Europa, pela qual maneja a União Europeia e usa como principal forma de se opor e cercar o imperialismo russo. Nesse sentido, as manifestações de interesse por parte da Finlândia e Suécia foram suficientes para gerar grande rebuliço no imperialismo russo, que já se pronunciou sobre possíveis retaliações caso a entrada dos países nórdicos na organização seja concretizada. A importância da movimentação da Finlândia e Suécia é agravada pelo fato de que esses dois países são, historicamente, considerados países neutros no que tange aos conflitos militares da Europa. Consideração esta falsa, se considerada a entrada da Suécia e Finlândia na Força Expedicionária Conjunta do Reino Unido (JEF) em 2015. De qualquer modo, desde o fim da 2° Guerra Mundial, a Finlândia assumiu uma postura “neutra” e não aderiu à OTAN como parte de um acordo entre a Rússia e ocidente, processo que gerou, inclusive, a origem do termo “finlandização” para se referir a países menores que, sob a pressão de potências, assumem uma postura de não-antagonismo com os países imperialistas de primeira ordem. A finlandização era, também, a estratégia da Rússia para a Ucrânia, mantendo-a como uma zona-tampão contra o avanço da OTAN, como muito bem analisa a matéria “A quimera progressista de oportunistas e revisionistas e a guerra de libertação nacional do povo e nação ucranianos”.  

A entrada da Suécia e Finlândia à OTAN não pode ser vista como evento isolado, uma vez que faz parte de uma situação geral de crescente militarização dos países imperialistas. É mandatório, para entender essa militarização, ter em mente a profunda e atual crise geral do imperialismo, da qual não fugiram os países nórdicos (na Suécia, a disparidade entre ricos e pobres atingiu taxas inatingidas desde 1940, como denuncia o artigo “Suécia: as massas se rebelam!”). Essa crise, manifestada em forma de crise relativa de superprodução e que avançou a passos largos nos últimos anos, têm servido para destruir quaisquer ilusões com a existência de um Estado de bem-estar social. Desesperados por manter sua situação minimamente estável, os países imperialistas têm em alta conta a demanda de expandir suas reservas. Para cumprir com essa necessidade, buscam aumentar a exploração e opressão sobre os povos

oprimidos do mundo, desatando novas guerras de agressão contra países coloniais ou semicoloniais ou aprofundando as já existentes. Contudo, os imperialistas entendem também que esse desatar irá gerar, inevitavelmente, o agravamento da situação revolucionária nos países dominados, que se manifestará em forma de guerras de libertação nacional e revoluções de Nova Democracia. Sua militarização ocorre, então, por dois motivos: a preparação para a tempestade vindoura, anunciada pela crescente combatividade e conscientização das massas, já evidenciada nos mais diversos levantamentos pelo mundo e crescimento dos movimentos revolucionários; e como preparativo para as inevitáveis lutas, interimperialistas ou não, que emergirão da disputa pela repartição das colônias e semicolônias.

Entendendo que a militarização das potências e superpotências faz parte de uma reação à crise geral do imperialismo e suas consequências, cabe uma análise mais atenta a esse processo.

Alemanha lidera militarização da União Europeia

Recrutas do Serviço de Defesa Voluntário de Bundeswehr. Foto: Sean Gallup/Getty Images

A União Europeia tem avançado constantemente em sua militarização, principalmente (mas não exclusivamente) após o início da guerra de agressão russa ao povo ucraniano. Como afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, “pela primeira vez, a União Europeia vai financiar a compra e entrega de armamentos e outros equipamentos para um país que está sob ataque. Esse é um momento divisor de águas”. A divisão de águas, contudo, não se dá no que diz respeito ao apoio da União Europeia a países sob ataque, mas também no que tange ao desenvolvimento militar específico de cada país. 

Até o momento, diversos países europeus já anunciaram significativo aumento no orçamento militar: a Romênia anunciou um crescimento de investimento para 2023 de 2,02% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para o setor militar (o orçamento para este setor aumentou 14% de 2021 para 2022). A Bélgica anunciou um planejamento que busca, até 2030, aumentar o orçamento para defesa de 0,9% do PIB para 1,54% do PIB (de 4,2 bilhões de euros para 6,9 bilhões de euros). Já a Polônia anunciou um projeto que visa atingir a taxa 3% do PIB destinado para o setor de defesa, para depois aumentar mais ainda (atualmente, o país destina 2,1%). A Itália e a Suécia estipularam a meta de destinar 2% do PIB para a sua defesa. A Suécia anunciou um aumento de 318 milhões de dólares no orçamento de “defesa”. A Itália atualmente destina 1,41%, enquanto 1,3% do PIB do país nórdico é destinado para o setor militar. 

A liderança no aumento do orçamento destinado ao setor militar, contudo, está nas mãos da Alemanha. O chanceler do país, Olaf Scholz, anunciou, logo após o início da invasão russa, que a Alemanha buscaria destinar 2% de seu PIB para o orçamento militar, alavancando os atuais 1,53%. Isso significa um aumento de 46,9 bilhões de euros, em 2021, para 100 bilhões, em 2022, um aumento de mais de 100%. A taxa de 2% do PIB destinado ao setor militar é, na verdade, uma recomendação antiga da OTAN, mas a Alemanha oferecia resistência em aderir.

Mesmo se a proposta de Scholz se tratar de algo mais gradual, como aponta o Stockholm International Peace Research Institute (Sipri), a Alemanha teria que gastar em torno de 151,1 bilhões de euros nos próximos cinco anos para cumprir a promessa. Esses gastos colocariam o país, como aponta o próprio Instituto, como o 3° país que mais destina dinheiro ao setor militar, atrás somente dos Estados Unidos e Rússia.

O recente aumento no PIB não é o único movimento em direção à militarização por parte da Alemanha. Apesar do país ser comumente apontado como pacífico, principalmente por sua postura ser até então de resistência em aceitar a recomendação da OTAN sobre a destinação de 2% do PIB ao setor militar, foi a Alemanha que propôs, em 2013, a criação do Framework Nations Concept (FNC), um projeto que buscava trazer o tópico de cooperação militar de volta para o primeiro plano da OTAN. O FNC criou três estruturas diferentes, cada uma liderada por um país europeu, (Alemanha, Reino Unido e Itália) que juntavam países aliados em objetivos comuns, principalmente militares. Entretanto, como aponta o artigo Força Expedicionária Conjunta e Rivalidade Imperialista nos Países Nórdicos (cujo título em inglês é Joint Expeditionary Force and Imperialist Rivalry in the Nordic), do portal de notícias revolucionário Tjen Folket, o FNC foi criado como uma tentativa da Alemanha de fortalecer sua hegemonia dentro da União Europeia, enfraquecendo assim a influência do Estados Unidos no continente Europeu. Foi a partir do FNC, contudo, que se originou uma força que faria justamente o contrário, fortalecendo a presença ianque na Europa e enfraquecendo a hegemonia alemã. Essa força é conhecida como UK Joint Expeditionary Force, ou Força Expedicionária Conjunta do Reino Unido (JEF, na sigla em inglês).

Força Expedicionária Conjunta fortalece influência ianque na Europa

Países pertencentes à JEF. Foto: Tjen Folket

A Força Expedicionária Conjunta foi criada em 2015 por parte de um acordo do Reino Unido, Dinamarca, Estônia, Letônia, Lituânia, Holanda e Noruega. Posteriormente, outros países se somaram, como a Finlândia e Suécia, em 2017, e a Islândia, em 2021. Militarmente, a JEF é composta principalmente por militares e equipamentos das forças armadas britânicas, que atuam como direção da Força Expedicionária. Em 2019, a Força Expedicionária tomou parte em um treinamento das Forças Navais dos Estados Unidos no Mar Báltico (Baltops) e realizou diversas operações por conta própria na mesma região.

Por mais que inicialmente derivado do conceito de FNC, fica cada vez mais claro que a JEF se diferencia da ideia inicial proposta pela Alemanha. Na verdade, conflitos entre o Reino Unido e a Alemanha colocam a JEF cada vez mais distantes dos interesses do último. Esses conflitos se manifestam, por exemplo, na saída do Reino Unido da União Europeia e na crescente influência do Reino Unido, inclusive por meio da JEF, sobre a região do Mar Báltico e dos países nórdicos, regiões de grande interesse político, militar e econômico para a Alemanha.

A crescente influência do Reino Unido sobre os países bálticos fere não somente os interesses da Alemanha, mas também da Rússia e da França. A região do mar báltico compreende, além dos países nórdicos, países que foram semicolônias da União Soviética social-imperialista, como Estônia, Lituânia e Letônia. No momento atual, em que a crise geral sem precedentes do imperialismo empurra os países imperialistas para uma nova divisão das colônias e semicolônias, esses países ocupam um local de importância na disputa imperialista (principalmente entre Rússia e o imperialismo alemão, britânico e ianque).

Sobre o papel da JEF, o  já mencionado artigo do Tjen Folket menciona que essa força robustece o poder do USA na Europa. Isso porque, mesmo o USA não ocupando lugar formal dentro da JEF, o Reino Unido serve como principal aliado dos EUA na Europa, fato que fica evidenciado quando é considerado o longo histórico de atuação conjunta entre USA e Reino Unido, como por exemplo na guerra do Afeganistão. 

Nesse sentido, a JEF serve como evidenciação da crescente militarização dos países europeus, inclusive de países historicamente considerados neutros, como os países nórdico. Militarização esta que, apesar de ter dado um salto após o início da guerra de agressão russa à Ucrânia, possui suas bases em eventos de anos anteriores à esta. A JEF mostra como as rivalidades e disputas imperialistas existem para além do conflito OTAN versus Rússia, estando presente também nas “uniões” das nações ocidentais (OTAN, UE, etc). Por fim, a JEF serve como uma ofensiva militar do USA na Europa, por meio de seu mais forte aliado Europeu, o Reino Unido.

Revoluções são a tendência principal da atualidade

Os fatos tratados acima permitem algumas conclusões sobre a situação atual do mundo. Primeiramente, que a militarização faz parte da contínua e crescente crise geral sem precedentes do imperialismo, severamente agravada nos últimos anos, inclusive nos países nórdicos (a disparidade entre ricos e pobres atingiu taxas que não eram atingidas desde 1940, como apontado pelo documento “Suécia: as massas se rebelam!”). Como forma desesperada de adiar o estopim da crise e apaziguar o aumento da combatividade e conscientização das massas em seus territórios (que já ocorre a amplos passos), os imperialistas se preparam para aumentar a exploração dos povos oprimidos das colônias e semicolônias, desatando novas guerras de agressão e agravando as já existentes. Esse movimento, contudo, longe de apaziguar a situação, somente a agravará, tornando fértil o terreno para as guerras de libertação nacional e revoluções de Nova Democracia nos países oprimidos, situação que refletirá inevitavelmente nos países imperialistas. Os imperialistas, por sua vez, entendem essa tempestade vindoura, e sua militarização funciona também como preparação para combater as massas em rebelião. 

É possível notar também que são falsas as análises que buscam simplificar as disputas imperialistas colocando de um lado a Rússia e de outro a OTAN, como uma organização unida e indivisível. Unilateral, essa análise não considera todos os aspectos da contradição, ignorando as contradições (ainda não antagônicas) que existem entre os países da OTAN e aqueles da União Europeia. Por outro lado, um olhar completo para a situação, que considera não somente as disputas imperialistas mais antagônicas, mas também aquelas menos evidentes, revela o que já fora apontado há tempo: que as contradições interimperialistas não permitem uma união absoluta das potências imperialistas; o conluio dessas potências e superpotências é, na verdade, relativo, enquanto as disputas são absolutas.

Podemos sintetizar a discussão acima e situação atual em cinco pontos principais: 1) a crise geral sem precedentes do imperialismo, manifesta agora sob forma de crise de superprodução relativa de capital, levará à uma maior exploração das massas, tanto nos países imperialistas quanto nos países semicoloniais e coloniais; 2) a necessidade de maior exploração aumenta a tensão entre potências e superpotências imperialistas, que vêem como necessidade latente a expansão de seus mercados e o enfraquecimento das hegemonias de outras potências; 3) a busca pelo lucro máximo, ao lado da crise geral, leva, como apontado por Lenin, à dominação não somente de países semifeudais e principalmente agrários, mas também de semicolônias industrializadas, como é o caso dos países do Leste Europeu, antigas semicolônias do imperialismo da União Soviética revisionista; 4) a disputa entre superpotências hegemônicas abre caminho para que pequenos países imperialistas, como é o caso dos países nórdicos, ampliem seus domínios sob pequenos países coloniais e semicoloniais; 5) todos esses pontos evidenciam que novas revoluções são tendência principal da atualidade. Essas revoluções se manifestarão a partir do aumento das guerras de agressão que, consequentemente, criarão terreno fértil para as guerras de libertação ou resistência nacional que devem, sob direção das organizações revolucionárias que crescem em todo mundo, assumir caráter de Revoluções de Nova Democracia ininterruptas ao socialismo.

 

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