Crise da velha democracia: deputada reformista é ameaçada de morte
Adriano da Nóbrega, fundador do Escritório do Crime e assassinado em fevereiro de 2020, sob circunstâncias suspeitas. Foto: Reprodução
O Escritório do Crime, grupo paramilitar fundado por Adriano Magalhães da Nóbrega – cuja mãe e esposa já trabalharam no gabinete do Flávio Bolsonaro – planejou executar, por razões políticas, a deputada federal Talíria Petrone (Psol). A informação foi apurada pelo monopólio de imprensa revista Veja. A política é ameaçada de morte desde 2016, e o plano para matá-la teria sido tramado pelo paramilitar de extrema-direita Edmilson Gomes Menezes. O plano vazou via Disque Denúncia e a deputada não revela a ninguém seu paradeiro.
Edmilson, cujo vulgo é “Macaquinho”, foi apontado como um dos possíveis executores do homicídio político contra Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Porém, foi descartada sua participação no crime. Já a ordem para executar Talíria teria partido, segundo os denunciantes, do presídio Bangu 9, onde estão presos três investigados pela morte de Marielle.
A morte e ameaças contra lideranças ligadas a movimentos populares, ainda que com orientações políticas eleitoreiras e reformistas, tem aumentado. O controle do processo eleitoral por grupos armados ultrarreacionários e fascistas, especialmente no Rio de Janeiro, cresce na mesma proporção.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 60% da população da capital fluminense (3,7 milhões de pessoas) está sob controle de grupos armados reacionários, sejam paramilitares ligados a policiais, sejam traficantes. Só as “milícias” – grupos paramilitares de extrema-direita – controlam 33% da cidade.
Tais dados revelam o caráter semifeudal da velha democracia e do capitalismo burocrático, em que o controle militar e logo econômico direto garante a esses grupos crescimento do seu controle político sobre as massas populares e seu próprio enriquecimento.
Escritório do Crime
O Escritório do Crime foi fundado por Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, que já foi preso acusado de executar um guardador de carros que havia denunciado esquemas criminosos praticado por policiais. O próprio Adriano, em 9 de fevereiro de 2020, foi executado por uma operação conjunta das Polícias Militares (PM) da Bahia e do Rio de Janeiro, em situações suspeitas de execução extrajudicial.
Logo após a confirmação da morte do paramilitar, seu advogado, Paulo Emílio Catta Preta, relatou que no dia 4 de fevereiro de 2020 seu cliente telefonou e disse: “Doutor, ninguém está aqui para me prender. Eles querem me matar. Se me prenderem, vão matar na prisão. Tenho certeza que vão me matar por queima de arquivo”. O advogado ainda contou que, em conversa com a esposa de Adriano, soube que o paramilitar não estava armado.
‘Diga-me com quem andas...’
A esposa e mãe de Adriano foram empregadas pelo gabinete de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), sendo aquela última assalariada por mais de dez anos. Adriano também já foi homenageado algumas vezes por Flávio Bolsonaro naquela casa, entre os anos de 2003 e 2005. O próprio Jair Bolsonaro, hoje presidente do velho Estado reacionário, homenageou o ex-capitão do Bope, em 2005, na Câmara dos Deputados, após o mesmo ter sido condenado por homicídio. O hoje presidente fascista disse que o paramilitar era um “brilhante oficial”. Adriano já trabalhou também como segurança de bicheiros cariocas, sendo preso por tentativa de assassinato em 2011.
A ligação mais recente de Adriano com Flávio Bolsonaro veio à público em 2018, com o escândalo das chamadas “rachadinhas” (esquema no qual o político faz nomeação de funcionários fantasmas que recebem um alto “salário” – dinheiro pertencente ao Legislativo – e depois são obrigados a devolver parte dele para que o político se aproprie). Segundo investigações do Ministério Público, Adriano era amigo do ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro. A ex-mulher e a mãe de Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega e Raimunda Veras Magalhães (respectivamente) trabalharam no gabinete de Flávio. Queiroz teria inclusive recebido repasses de duas pizzarias controladas por Adriano. De acordo com os investigadores, dois repasses vieram das empresas controladas por Adriano.
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