Saturday, December 10, 2022

Brasil - Estudantes ocupam universidades por todo país e ExNEPe convoca dia nacional de mobilização

A nova democracia

Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND

Estudantes de todo o país estão realizando ocupações e manifestações contra os novos bloqueios no orçamento de R$ 244 milhões para as Universidades e R$ 208 milhões para os Institutos Federais (totalizando R$ 452 milhões), feitos pelo governo militar de Bolsonaro no dia 28 de novembro, durante jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo. Neste momento, os estudantes ocupam a reitoria da Universidade Estadual de Maringá (UEM), duas universidades no Rio Grande do Sul, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Universidade Federal do Pampa (Unipampa), uma em Santa Catarina, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e uma em Espírito Santo, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEPe) também convocou, para o dia 12/12, um dia nacional de combate ao corte de verbas na Educação.

A onda de ocupações de universidades teve início no mês de outubro deste ano, logo após os cortes de R$ 328 milhões pelo governo militar de Bolsonaro, no dia 30 de setembro. Sob a direção da ExNEPe, vitoriosas ocorreram na Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, no Instituto Federal de São Paulo (IFSP), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A resposta contundente dos estudantes dirigidos pela ExNEPe fez o governo militar recuar com os cortes naquele momento. As atuais ocupações e lutas em curso no mês de dezembro indicam o desenvolvimento destas formas de luta com a qual milhares de estudantes estão se mobilizando e impedindo o fechamento de suas universidades.

MEC tenta enganar liberando R$ 300 mi para educação, porém rombo é quase 4x maior

Diante da resposta decidida dos estudantes em luta, o governo federal repassou R$ 300 milhões ao MEC em 08/12. O MEC afirmou às universidades que usará parte desses valores para pagar “o que falta” do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), contudo não afirmou se essa verba será suficiente para o pagamento dos mais de 257 mil estudantes que recebem auxílio (segundo dados do Censo de Educação Superior de 2021). 

Além disso, as universidades precisam de pelo menos R$ 1,121 bilhões para pagar as dívidas pendentes de dezembro, o que inclui pagamento de bolsas de extensão e de pesquisa, salário de terceirizados, contas de água e luz. Além das universidades, o MEC é responsável por pagar as bolsas de mestrandos e doutorandos, que é feita através da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – que anunciou não ter condições de pagar os mais de 200 mil bolsistas.

Leia também: ExNEPe: 'Todos às ruas no dia 12/12 contra os cortes e em defesa da Educação Pública e Gratuita!'

Por todo o país: ocupações e manifestações

Estudantes já ocupam universidades em dois estados, centenas de atos são realizados por todo país, sobretudo a partir da semana do dia 6 de dezembro.

Rio de Janeiro:

No dia 7 de dezembro, milhares de estudantes, professores e técnico-administrativos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tomaram as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro contra os cortes de R$ 452 milhões da verba da educação pelo governo militar de Jair Bolsonaro e generais. Os manifestantes denunciaram o corte como mais um ataque à educação pública, gratuita e que sirva ao povo e defenderam a greve de ocupação para resistir aos ataques.

A manifestação iniciou em frente ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCS) da UFRJ, no Largo de São Francisco, Centro do RJ, onde os milhares de estudantes e trabalhadores da educação, entre docentes e técnico-administrativos, se reuniram em preparação para o ato. Durante a concentração, ativistas do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) denunciaram que, além dos cortes de verbas de dezembro, os terceirizados da UFRJ estão sem receber há dois meses. Eles defenderam que, em uma próxima manifestação, a comida do Restaurante Universitário (RU) fosse impedida de chegar ao “bandejão” (como é chamado o RU) e fosse distribuída pelos próprios estudantes, para que os terceirizados pudessem tomar parte na luta em defesa de seus direitos.

Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND

Após a concentração, a manifestação passou por pontos importantes da cidade, como o Largo da Carioca, e rumou até a Cinelândia. Vias importantes do centro foram bloqueadas pelos estudantes em luta, que receberam amplo apoio dos trabalhadores e trabalhadoras do centro do Rio de Janeiro. Uma faixa erguida pelos ativistas do MEPR convocava os estudantes a Defender a UFRJ com unhas e dentes! Contra os cortes: Greve de Ocupação!. Gritos de ordem como Ir ao combate sem temer, ousar lutar, ousar vencer!, É greve, é greve, de ocupação! Nem sucateamento nem privatização e  Avante, avante, avante juventude! A luta é o que muda, o resto só ilude! foram exclamados pela juventude em luta.

Uma equipe de reportagem do AND esteve presente e conversou com os estudantes e trabalhadores sobre como os cortes afetam suas áreas e pesquisas.

A professora Fátima Siliansky, docente da UFRJ e presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) também concedeu uma entrevista ao AND

O fato é que embora essa seja uma atitude que foi feita por esse governo, nada impede que a situação de crise que o país passa, no qual não há, dentro dos marcos desse sistema de capitalismo burocrático, uma saída diante disso. Nada nos vai garantir que as universidades no ano que vem não estarão também com seu orçamento comprometido. A unidade, a luta, a perspectiva da greve de ocupação é fundamental para mostrar que a gente não vai aceitar isso.

[Afeta] muitas aulas práticas que a gente precisa, saídas de campo, e principalmente a presença dos alunos, que tem muitos que nem conseguem chegar na universidade relatou uma estudante de biologia da UFRJ. 

Taíssa, professora de Arquitetura da UFRJ, relatou que os ataques à educação não são de hoje:

O problema não é só a gente não estar recebendo bolsa agora. É uma quantidade enorme de pesquisadores que trabalham sem bolsa porque já foram cortadas há ó… Esse corte vem acontecendo há décadas. 

Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND

Os estudantes e professores também denunciaram que, apesar dos cortes terem sido feitos pelo governo de Bolsonaro e generais, os ataques à educação devem continuar nas próximas gestões.

Policial militar fotografa rosto de estudantes que protestavam contra cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND

Trabalhador fotografa manifestação em apoio ao ato. Foto: Banco de dados AND

Trabalhador compra a edição número 250 de AND, na manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND

Estudantes da UFRJ realizam grande manifestação contra os cortes na Educação. Foto: Banco de dados AND

Paraná:

O Diretório Central dos Estudantes da UEM, Gestão UEM Presente, ocupou a Reitoria da universidade junto de centenas de estudantes no dia 08/12. A ocupação ocorreu em meio a uma manifestação durante uma reunião do Conselho de Administração, os estudantes exigiam a contratação de professores para sanar as necessidades dos cursos e estudantes, contra a privatização dos Hospitais Universitários no Paraná e contra os cortes realizados pelo governo militar de Bolsonaro e generais.

Indo em manifestação até a Reitoria da universidade, os estudantes foram recebidos com as portas fechadas. Não desistindo de reivindicar suas exigências, as centenas de estudantes continuaram a entoar as palavras de ordem Para barrar a privatização, greve geral de ocupação! e Ô reitoria, deixa eu entrar, se não abrir, eu vou ter que derrubar!. Os estudantes conseguiram entrar na reitoria e lá estabeleceram a ocupação. Foram distribuídos, no local, panfletos com os títulos Reitoria Ocupada - Exigimos o pagamento imediato das bolsas! Barrar os cortes na educação com greve de ocupação! e Construir uma vigorosa onda de ocupações por todo o Brasil para barrar a privatização da educação pública!

Estudantes da UFPR também ocuparam o prédio do curso de Psicologia. Em nota, o Centro Acadêmico de Psicologia, Gestão Edson Luís, afirmou: "Após uma vitoriosa manifestação, que contou com cerca de 50 estudantes da UFPR, UTFPR, PUC e outras instituições de ensino, os mesmos se dirigiram ao Prédio Histórico da UFPR e ocuparam o segundo andar do bloco de psicologia. A Frente Estudantil Contra a EaD junto aos estudantes dos cursos de psicologia, pedagogia, filosofia e outros cursos, tiveram ação fundamental na organização dos protestos e da ocupação!". Além disso, eles exigem a contratação de professores para o curso de Psicologia, assim como reivindicam que os Restaurantes Universitários não sejam fechados no período de dezembro, tendo em vista que, devido aos cortes orçamentários recentes a universidade não tem verba para pagar os auxílios que prometeu aos estudantes que necessitam do RU, assim como exigem o aumento da bolsa-emergencial de R$300,00, que não supre a demanda para a permanência estudantil. Ademais, reivindicam que todos os cortes feitos contra as universidades sejam revertidos, que seja feito o pagamento dos bolsistas da CAPES e CNPQ e que toda a verba retirada das Instituições Federais de Ensino seja restituída imediatamente.

 

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