Wednesday, January 11, 2023

BRASIL: Editorial semanal - A segunda bolsonarada é só um aviso, não? (AND)


Denunciamos, repudiamos e rechaçamos veementemente as manifestações golpistas que tomaram de assalto a sede dos “Três Poderes” em Brasília. Tal fato e o decreto de intervenção federal do presidente Luiz Inácio – ainda que essa medida foi apenas na área de segurança pública do DF e não em todo DF – são fatos gritantes de uma crise política, institucional e militar que o governo atual, os partidos oficiais e os monopólios de imprensa fingem não ver sua gravidade, ocultando-a da população brasileira; bem como, buscam encobrir que suas causas estão na decomposição de toda essa velha ordem de exploração e opressão do nosso povo e de subjugação da Nação, secularmente vigentes. Em primeiro lugar é esta questão que se coloca.

Em segundo lugar, se faz necessário pôr a nu o que há de fundo neste acontecimento que sacudiu a capital federal e assombrou o país. É fato que os manifestantes acampados nas portas de quartéis, há meses, pedindo intervenção militar e seus organizadores são os mesmos atores das ações do fracassado atentado a bomba no aeroporto de Brasília e os mesmos atores de assalto à sede dos “Três Poderes”. Assim como, é fato que os altos mandos militares encorajaram os acampamentos às portas dos quartéis com as declarações de serem estes atos “democráticos” e “legítimos”. Ademais, não bastasse o fato de o governo de coalizão reacionária ter aceitado, na calada da noite, a imposição de tutelagem sobre si pelo Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) com a nomeação de um títere seu, José Múcio, para o Ministério da Defesa, assim como as indicações para o comando das três forças, esse mesmo ministro, assim que empossado, não descansou em afagar o movimento anticomunista golpista de acampamentos em quartéis, repetindo a arenga dos generais de que se tratam de manifestações democráticas.

Por sua vez, a ilusão pequeno-burguesa, do governo que se inicia, de se apoiar exclusivamente na lei, como é de praxe a demagogia de governantes anunciar, encorajou também os golpistas em seus intentos já tão anunciados. De duas, uma: ou o governo propositalmente abriu os flancos da defesa da segurança das sedes dos “Três Poderes” (pelo menos, a do Palácio da Planalto) como uma armadilha, favorecendo o acontecimento, e com isso desgastar politicamente os golpistas, ou demonstrou pusilanimidade como continuação do acoelhamento que se viu em toda sua campanha eleitoral frente às ameaças e intimidações fascistas da campanha de Bolsonaro.

Quanto à primeira hipótese, é a menos provável, mas é estranho porque o presidente da república Luiz Inácio, todo o governo, os seus serviços de informação, enfim, grande parte da população brasileira sabíamos que as caravanas de golpistas não iriam a Brasília para fritar bolinhos. Sabedores disto, deixar as sedes dos poderes desprevenidas quanto à defesa de possíveis ataques, confiando somente nas atribuições do governo do DF na segurança da capital federal, é algo que contraria por completo os protocolos de segurança de Estado de quaisquer governos de quaisquer países. A presidência da república dispõe do Batalhão da Guarda Presidencial do Exército (subordinado ao QG de Brasília), onde estava este contingente quando ocorreram os ataques, e por que não impediram a invasão? São lorotas do falante Ministro da Justiça as suas falas sobre falhas dos serviços de inteligência do governo do Distrito Federal, que o governador fora enganado etc., ora, ora! Quem não sabia que Anderson Torres era o secretário de segurança do DF e quem ele é, de fato? Além de tudo seria uma tática esdrúxula, um jogo de gato e rato que não corresponde à situação crítica que vive o país. Ainda que a ilusão do atual governo na legalidade possa ser absurda, seria ingenuidade atroz deste contar que com o fracasso desse ataque, isto por si só deterá o movimento dos golpistas. Ocorrido os fatos, com todas as consequências que cairão sobre os manifestantes golpistas e por mais dura que possa ser a punição deles, não se deterão, pois o buraco é muito mais embaixo.

Quanto à segunda hipótese, a mais provável, só pode ser explicada pelo acovardamento do governo e instituições ante as constantes ameaças, chantagens e provocações de generais e dos bolsonaristas. O mesmo comportamento pusilânime da campanha eleitoral de Lula, baseado no postulado de que responder à altura as agressões golpistas seria cair em provocação e que o correto seria atuar considerando a posição do ACFA para atraí-lo (aceitação da tutela), e que ao fim e ao cabo se pode estabilizar a situação do país através das eleições, que se pode tirar o país da crise com o receituário do FMI, que se pode acabar com a fome e criar uma “nova classe média” dando o bolo para os banqueiros e os farelos dele para o povo, que o país pode ser uma potência mundial sendo semicolônia dos ianques, e blá, blá, blá.

Em terceiro lugar, é preciso desmascarar a hipocrisia dos “campeões da democracia”. Não foi a Rede Globo e todos os articulistas liberais reacionários que, desde 2014, mobilizaram a opinião pública numa verdadeira cruzada da ética fascista? Quem não se recorda das mobilizações anticomunistas, em 2015 e 2016 em todas as capitais, com cobertura exclusiva da Rede Globo, em horário nobre, com faixas exigindo criminalização do comunismo e o “fechamento do Congresso”? Agora, irada, como se tivesse toda a moral do mundo, emprega os piores impropérios de seu vocabulário contra os golpistas. Ora senhores, aqueles setores da chamada “classe média” politizada pela Rede Globo, é a mesma que ontem elegera Bolsonaro e que, hoje, radicalizada e organizada pelo bolsonarismo, se apresenta como tropa de choque da contrarrevolução golpista. Lidem com a vossa cota de responsabilidade.

Esse movimento anticomunista - que, a propósito, em seus acampamentos contavam com vasta experiência em logística, tipicamente militar - foi estruturado nos últimos quatro anos diretamente pelo então presidente da república, Jair Bolsonaro, aglutinando o que há de pior nos porões das polícias e das Forças Armadas, “milicianos”, assassinos profissionais pautados pela “moral e bons costumes”, comerciantes de armas e a ala direita ultrarreacionária da pequena e média burguesias, claramente financiado por um certo setor de grandes burgueses e latifundiários ladrões de terras da União que impõem a servidão onde parasitam. Esse movimento seguirá fustigando o governo, assim como durante o governo Bolsonaro atacou com operações militares o movimento camponês, e logo se voltará com ainda mais fúria contra o movimento revolucionário das massas, assim que este se manifeste contundentemente no cenário político nacional.

E não deixa de ser preocupante, ainda que nenhuma vírgula foi escrita ou dita pelos monopólios de imprensa e partidos oficiais, a conivência descarada do ACFA para com essa intentona golpista – a propósito, nem mesmo o discurso do gerente de turno Luiz Inácio, cujo governo está sob ataque, tocou neste ponto, mas sim, num primeiro pronunciamento sobre esses fatos, preferiu comparar a extrema-direita com os “stalinistas fanáticos” fazendo graça e coro com os anticomunistas sofisticados da Rede Globo.

Sobre os altos mandos, cabe perguntar: de onde partiu essa súcia de celerados anticomunistas, onde estiveram acampados em Brasília todo esse tempo? Não estavam na frente do Quartel General do Exército, com direito a conversações diárias com autoridades militares, que chegaram a conceder-lhes mais espaço ao seu acampamento? A quem se dirigem os golpistas, clamando por uma solução golpista, senão aos altos mandos militares, recebendo destes, entre recados aparentemente ambíguos e manifestações menos ruidosas de incentivo, afagos de declarações de que se tratam de manifestações democráticas?

São os generais de alto coturno que, desde 2015, chantageiam a Nação, dizendo que ou o país se curva ao seu “Projeto de – subjugação – da Nação”, ou sobrevirá o caos, frente ao qual eles imporão sua “intervenção militar”. Não foi isso o que disse o boquirroto Hamilton Mourão, em loja maçônica, em 2015, repetindo recentemente por ocasião do 87o aniversário do Levante Popular de 1935? Não foi isso o que disse reiteradas vezes o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas-Bôas, inclusive às vésperas das eleições de 2018, e dias antes do pleito de 2022? Não é esse “caos” com fim golpista que essa extrema-direita está buscando criar? Portanto, deve-se ressaltar em primeiro termo o fato de que os maiores responsáveis pelo crescimento de todo esse movimento anticomunista são os altos mandos militares da ativa e os generais de pijamas, assim como o covarde Bolsonaro, todos desde sempre viscerais anticomunistas. O que não é nenhuma novidade: as próprias instituições Forças Armadas fazem questão de deixar claro em toda sua liturgia bolorenta e patrioteira. O anticomunismo em toda linha é, em essência, golpista e pró-fascista, e a história contemporânea de nosso país o comprova cabalmente.

É necessário que todos os verdadeiros democratas e revolucionários, numa unidade de ação, combatam firmemente contra esse movimento golpista anticomunista. Este pretende, através de distúrbios de todo tipo, arrastar a opinião pública desacreditada com a putrefação a que chegou as instituições desse velho Estado de latifundiários e grandes burgueses, serviçais do imperialismo, principalmente ianque, a ser base social para a reedição do nefando regime militar. É preciso esclarecer as massas populares de que esses são os maiores inimigos da Pátria e dos interesses do povo. Para fazê-lo, é preciso romper definitivamente as ilusões com o caminho burocrático do velho Estado e dessa velha democracia moribunda. As velhas instituições só têm desviado sistematicamente as massas do caminho democrático da revolução de nova democracia, que segue pendente de realização, pois fora sempre frustrada pela ação golpista sanguinária destas mesmas forças armadas anticomunistas. Ao longo da história contemporânea do país, quando não prevaleceu os regimes ditatoriais criados por golpes militares, prevaleceram os regimes da velha democracia burguesa, que só ilusões e frustrações trouxeram às massas, tornando-as presas fáceis para as manipulações golpistas. Assim foram os governos militares que inauguraram a república, os governos das oligarquias da política do café com leite, o da ditadura de Vargas e os golpes contra este em 1945 e 1954, ou as ameaças golpistas ao governo de JK, o golpe contra Goulart e o impeachment de Dilma, num ciclo que se repete reeditando crueldades contra nosso povo e a subjugação da Nação pelo imperialismo estrangeiro. A tarefa só poderia ser mobilizar as massas levantando alto a bandeira da revolução de nova democracia, em confronto direto com a ofensiva contrarrevolucionária golpista, e sem ilusões com a velha democracia e seus governos de turno!


 

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