Ruas de Atenas: palcos da fúria popular do povo grego
A aprovação chegou a render um elogio por bom comportamento dirigido
aos sabujos do Syriza por parte de uma porta-voz da Comissão Europeia,
Mina Andreeva:“A primeira avaliação da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI é que as autoridades gregas começaram a aplicar a segunda parte das medidas no tempo e de forma satisfatória.”
Naquela altura, nem bem se completavam 15 dias desde outra famigerada madrugada, a do dia 12 para o dia 13 de julho, quando a “extrema esquerda”, que se viabilizou como alternativa para gerenciar o draconiano arrocho capitalista na Grécia, subscreveu um “acordo” para estender indefinidamente a “austeridade” — o “terceiro resgate” desde 2010, ou seja, o terceiro nó dado no laço da forca instalada na Grécia, tornado possível graças ao primeiro e ao segundo e que permitirá o quarto e o quinto, senão o sexto e os enésimos a seguir, pelos anos vindouros.
Entre aquela madrugada e a outra, entretanto, o parlamento grego, conforme ordens da Alemanha e da França, havia aprovado no dia 16 de julho quatro das mais impiedosas novas medidas de “austeridade”, quatro dentre 14 exigências feitas por Berlim e Paris como condições inegociáveis para que se começasse a costura do “terceiro resgate”. Foram elas, segundo a semântica e o léxico repletos de eufemismos comumente usados para maquiar crimes de lesa-pátria: ajuste do imposto ao consumidor e ampliação da base de contribuintes para aumentar a arrecadação do Estado; reformas múltiplas no sistema de aposentadorias e pensões para torná-lo financeiramente viável; privatização do setor elétrico, a menos que se encontrassem medidas alternativas com o mesmo efeito; e criação de leis que assegurassem cortes de gastos quase que automáticos se o governo não cumprir com suas metas de superávit fiscal.
Em suma, e traduzindo: aumento dos impostos que incidem sobre os consumos de primeira necessidade da população, como alimentos e transportes; dificuldades infinitas para que um grego consiga se aposentar e depreciação do valor das aposentadorias; privatização ou privatização que possa ser chamada por outro nome (talvez “concessão”); e grilhões jurídicos que acorrentem as decisões político-econômicas tomadas no âmbito do Estado grego a uma espécie de primazia institucional de um arrocho que parece não ter fim.
Além destas, constam ainda entre as 14 exigências feitas pelos manda-chuvas da Zona do Euro e aceitas por Alexis Tsipras: “pedir ajuda contínua ao Fundo Monetário Internacional”; contrarreforma das leis trabalhistas, incluindo a “revisão” de acordos coletivos pregressos; “aumentar de forma importante o sistema de privatizações, com a transferência de 50 bilhões de euros em ativos gregos para fundos independentes com sede na Grécia”; permitir que a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) volte a Atenas, e que a ela sejam submetidas todas as “reformas do governo” antes de serem apreciadas pelo parlamento; e “voltar a examinar, e se for o caso mudar, as leis aprovadas nos últimos seis meses que podem ter levado ao retrocesso dos programas de resgate anteriores”.
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