Por que maoismo?
Fala-se muito de um “sectarismo” (sic!) por parte dos marxistas-leninistas-maoistas por estes afirmarem que “Fora do maoismo não há marxismo!”, em outras palavras, por afirmarem o maoismo como fase terceira, nova e superior da ideologia do proletariado. Ocorre, ao fundo e ao cabo, uma profunda incompreensão dos críticos do “maoismo sectário” sobre o que é ideologia do proletariado. Vou aprofundar o entendimento nesse ponto.
“TUDO É MARXISMO”, “NADA É REVISIONISMO”
É com essa visão que os “anti-sectários” veem o problema da luta ideológica: um problema de “intolerância ideológica” entre “vários tipos diferentes de comunistas”. Estes negam e buscam sufocar a luta ideológica sob pretexto de “anti-sectarismo” quando, em contrapartida, a história provou, desde Marx até Mao, que o marxismo enquanto ideologia do proletariado só se desenvolve em luta contra as concepções erradas no seio do movimento, contra as concepções oportunistas e revisionistas, de onde sobressaiu sempre vitoriosa a ideologia do proletariado sobre novas bases, o seu desenvolvimento. Já começo aqui denunciando os erros destes “anti-sectários”.A seguir, há de se entender o básico de materialismo histórico dialético para compreender o que vou dizer, principalmente sobre a definição marxista de ideologia, enquanto expressão da luta de classes, expressão das próprias classes. Começarei com Lenin: ele já explicou diversas vezes como não podem haver diversos partidos verdadeiramente comunistas, afinal o partido comunista é a vanguarda do proletariado, e logo, a não ser que eu esteja pressupondo que o proletariado é uma classe fracionada assim como a burguesia, não podem existir diversas vanguardas em um só país. Exatamente da mesma forma, a ideologia comunista não é fracionada, ela é necessariamente a ideologia da classe proletária, e sendo assim, não podem haver diversas expressões ideológicas proletárias, e sim somente uma – e como não existe vácuo ou espaço vazio na luta de classes, toda ideologia ou é proletária ou não é, sendo expressão ou do proletariado ou das outras classes.
Isto significa imediatamente que não existe marxismo fora do maoísmo? Não, mas essa compreensão vai nos dar bases concretas para aprofundar a questão do maoismo. Portanto, antes de responder a essa pergunta complexa, vou apresentar uma reflexão pertinente.
Existe marxismo fora do leninismo? Isto é, seria o trotskismo – por exemplo – uma “vertente” marxista legítima, ou seria a negação do método materialista histórico dialético e do socialismo científico? Igualmente, seria a social-democracia de Kautsky uma “vertente” do marxismo legítima, ou seria – mais uma vez – a negação do método materialista histórico dialético e do socialismo científico? O mesmo pode ser aplicável às todas as linhas ideológicas que se apresentam como marxista, comunista etc. e que são conflitantes entre si.
Se todas essas “vertentes” são “vertentes legítimas” do marxismo, para que então serve o método materialista dialético? Considerar várias “vertentes” conflitantes como parte do marxismo seria a mesma coisa que considerar como corretas várias respostas para uma única pergunta, como se várias hipóteses fossem verdades; isso não seria cair então no subjetivismo? Ou então, mais adiante, por fim, não seria o dito “marxismo ortodoxo”, negacionista dos aportes de Lenin, purista em essência, dogmático e religioso, a própria negação do método materialista histórico dialético?
Todas essas perguntas e reflexões são fáceis de responder para alguém que compreende os princípios do leninismo. Compreender que o marxismo não pode ser uma doutrina religiosa fechada sem a aplicação do método materialista dialético, quanto mais um conjunto livresco de “vertentes” e mais “vertentes” sem nenhuma verdadeiramente “errada ou certa”, é fundamentalmente cair para o dogmatismo ou ao revisionismo, tanto criticado pelos homens da imagem do inicio da matéria. Stalin, sobre a “Universalidade do Leninismo” já falou: “O leninismo é o marxismo da época do imperialismo e da revolução proletária. Mas exatamente: o leninismo é a teoria e a tática da revolução proletária em geral, a tática da ditadura do proletariado em particular. Marx e Engels militaram no período pré-revolucionário (referimo-nos à revolução proletária), quando o imperialismo ainda não estava desenvolvido, no período de preparação dos proletários para a revolução, no período em que a revolução proletária ainda não se tornara uma necessidade prática imediata. Porém, Lênin, discípulo de Marx e Engels, no período de pleno desenvolvimento do imperialismo, no período do desencadeamento da revolução proletária, quando a revolução proletária já havia triunfado num país, havia destruído a democracia burguesa e iniciado a era da democracia proletária, a era dos Soviets. [….] Por isso, o leninismo é o desenvolvimento ulterior do marxismo.”
Disso que afirmei, já temos uma nova base para o debate, que é: entre duas concepções distintas que se apresentam como “comunista”, somente uma pode estar certa, somente uma é proletária e a outra é necessariamente da burguesia (ou pequena-burguesia) justamente porque não há ideologia/pensamento à margem das classes. Isto porque o proletariado é uma classe, então há somente uma ideologia, uma linha política correta, e isso não é algo afirmado pelos maoistas, senão pelos próprios Marx e Engels quando criticaram os “apaziguadores” do debate entre marxistas X anarquistas, afirmando que somente uma corrente era proletária. Lenin fez o mesmo contra os oportunistas da II Internacional. Fato é que desde o surgimento do marxismo, na I Internacional, já haviam elementos vacilantes como os que atualmente criticam os “maoistas sectários” por afirmarem que somente uma corrente é proletária e as demais é revisionismo. Por fim, não existem “vertentes” do marxismo, o marxismo é um só e todas as demais interpretações conflitantes que se apresentam como comunista, do proletariado e etc. que não estiver condizente com a filosofia marxista, o socialismo científico e a economia política marxista (que são o que constitui o marxismo) são precisamente oportunistas, revisionistas. Isso nos deixou de herança os grandes chefes do proletariado, Marx, Engels, Lenin, Stalin e Mao.
Estabelecida essa base para o debate, necessitamos mais uma reflexão. Afinal, o maoísmo é marxista? Se o maoísmo é marxista – considerando que ele sucede o leninismo e apresenta aportes novos desenvolvendo o próprio leninismo -, como pode haver outra expressão ideológica do proletariado além do maoismo? Separar o maoísmo mesmo reconhecendo-o como marxista não seria negar completamente o método materialista histórico dialético e cair no subjetivismo? Sim, seria. Esse é o dilema dos subjetivistas que “aceitam” os aportes do Presidente Mao como “marxistas”, mas não nega as concepções revisionistas, afirmando que estas são também “vertentes diferentes” do marxismo; de modo curto e grosso, estes subjetivistas transformam o marxismo em um antro de ecleticismo, uma gelatina ideológica, e precisam superar esse desvio pequeno-burguês sob pena de negarem até mesmo os únicos vistos como intocáveis do marxismo por eles: Marx, Engels, Lenin e Stalin.
O DOGMATISMO TAMBÉM LEVA AO CANTO DO INIMIGO
Aos demais desvios de interpretação sobre o maoismo, há ainda outras interpretações tão perigosas quanto. Há quem afirme que seria o maoísmo somente aplicável na China e nos países atrasados, da mesma forma que Trotsky afirmava sobre o leninismo. Ou pior, há os dogmato-revisionistas que consideram o maoísmo a mais suja expressão do revisionismo moderno, concentrados em torno do revisionismo albanês de Hoxha.De fato, para mim, o maoismo é realmente a fase terceira, superior e nova do marxismo. O maoismo supera por si só a interpretação dogmática presente na retórica do “somente aplicável nos países atrasados” tipicamente trotskista ou a “crítica” dogmato-revisionista dos hoxhaistas que consideram o maoismo expressão do revisionismo moderno.
Basta que estudemos os aportes do Presidente Mao ao Marxismo-Leninismo no processo da revolução chinesa para que caia por terra as teses dogmáticas citadas logo antes. Tais aportes como: 1) a sintetização do método dialético na lei da contradição, estabelecendo-a como única lei fundamental da dialética materialista, ainda ressaltando que a unidade dos contrários é sempre relativa e transitória, enquanto que a luta dos contrários é absoluta; esse aporte é um dos mais valiosos do Presidente Mao à dialética materialista, e sendo a dialética materialista uma ciência universal do proletariado, quebra por si só as teses de aplicabilidade restrita e não-universal e de “revisionismo” atribuída ao Presidente Mao – respectivamente. 2) A teoria militar do proletariado, precisamente, a Guerra Popular Prolongada, que inspira um modo de guerra novo, que intervêm na realidade objetiva e constrói as condições subjetivas da tomada de Poder, resolvendo esse problema, que antes se limitava a esperar o “momento da insurreição”; adaptou a teoria militar para o momento histórico que vivemos, inspirado na moral proletária e no otimismo do proletariado condizente com o fato de ser a última classe da história e estar em seu processo de ofensiva estratégica da revolução mundial; por fim, a prática dos partidos comunistas marxistas-leninistas-maoistas em processo de guerra popular demonstrou também que essa não é “uma teoria somente aplicável para a China de 1949”. 3) A Grande Revolução Cultural Proletária, que é o modo correto universalmente aplicável de consolidar a ditadura do proletariado e o sistema socialista, reconhecendo e dirigindo sob o socialismo a luta de classes contra a burguesia sustentando-se nas massas para aplastar a contrarrevolução e a restauração revisionista; essa teoria a história mostrou ser universal com as restaurações capitalistas em todos os países socialistas de outrora, e não só uma “adaptação do marxismo para a China”. Sobre os aportes do Presidente Mao, ainda restam a interpretação do capitalismo burocrático e a revolução democrática de novo tipo, sendo ambos restritos aos países dominados pelo imperialismo e sendo este segundo um desenvolvimento da tese do camarada Lenin sobre a revolução nos países subjugados (que os hoxhaístas, na sua ânsia de atacar o Presidente Mao, sem saber, atacam o próprio camarada Lenin).
Em resumo, somente estas contribuições – todas universais – demonstram ser a antes “aplicação do marxismo-leninismo à realidade da China” agora um novo estágio do próprio marxismo, sendo o marxismo-leninismo-maoismo. A prática das guerras populares dirigidas por partidos marxistas-leninistas-maoistas, dos Andes peruanos, passando pelo corredor vermelho na Índia até às selvas filipinas, também demonstraram.
CONCLUSÃO
Não acredito que todo camarada que não se autodenomina maoista é definitivamente um “maldito chauvinista revisionista burguês”, inclusive porque ser comunista não é uma questão de autodenominação e sim de assimilação prática, mas porque não nego os aportes do Presidente Mao, nem os considero assim como Trotsky considerava o leninismo “somente aplicável a Rússia”, ou nesse caso a China, mas os vejo como o que eles são: aportes universais, novo estágio do marxismo. Quando alguns camaradas falam que “não existe marxismo fora do maoísmo” não estão negando Lenin e Stalin, mas, na verdade, quem nega Lenin e Stalin são aqueles que enxergam o marxismo como uma doutrina aberta e cheia de “vertentes”, livresca e subjetiva, sem qualquer uso do método dialético materialista ou entendimento das contradições; assim como aqueles que consideram o marxismo um dogma, estático, e negam o materialismo dialético. Posso afirmar sem sombra de dúvidas que os “críticos” do maoismo não se incomodariam em nada deparando-se com alguém que afirma não existir marxismo fora do leninismo, afinal sabemos que os desenvolvimentos de Lenin não são conceitos aplicáveis somente a antiga Rússia, e sim conceitos de aplicabilidade universal, porque o leninismo foi imposto como novo estágio do marxismo.O camarada Stalin travou uma luta dura contra os dogmáticos da época para impor o leninismo como fase nova, segunda e superior do marxismo, sendo os segundos contra porque isso significaria, nas suas mentes livrescas, a “negação do marxismo”; camarada Stalin afirmava, contundentemente, que não adotar o leninismo como fase superior do marxismo era precisamente negar o marxismo, era oportunismo, em outras palavras, “fora do leninismo não há marxismo”. Como mostramos, o maoismo passa pela mesma situação hoje.
Por fim, terminamos com uma citação retirada da matéria “Como compreender a Revolução peruana e a Guerra Popular”, do Núcleo de Estudos do Marxismo-Leninismo-Maoismo, que, definitivamente, põe fim a questão e mostra a razão do maoismo ser, por fim, novo estágio do marxismo:
“Todo processo revolucionário aporta e enriquece o marxismo, mas um salto de qualidade depende do momento em que se desenvolve a luta de classes e a complexidade de problemas que se apresentam, bem como da profundidade do processo revolucionário determinado e solidez da vanguarda que o dirige. E isto se verifica quando o mesmo se dá, como uma unidade, nas suas três partes constitutivas. Não é só o caso do leninismo e do maoísmo, mas o próprio surgimento do marxismo se deu a partir das três correntes do pensamento que a humanidade mais desenvolvera, a saber: a economia política inglesa, o pensamento socialista francês e a filosofia clássica alemã, e ao mesmo tempo na luta contra elas. Como ciência, o marxismo necessita se desenvolver para responder aos problemas concretos da realidade social.”
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