Em defesa das famílias camponesas do Para Terra I/Varzelândia
Reproduzimos carta aberta publicada na página Resistência Camponesa
3. Desde 1998 várias famílias de camponeses pobres de Varzelândia e região se reuniram, adquirindo crédito fundiário por meio de contrato firmado com o Banco do Nordeste dando origem ao que hoje é o Para Terra I. Há quinze anos lutamos em cima dessas terras para dela tirar nosso sustento e transformar o Para Terra I em uma das comunidades com a maior produção de hortifrutigranjeiros de Varzelândia e região.
4. No Para Terra I produzimos milho, feijão, mandioca, abóbora, quiabo, tomate, cenoura, couve, alface, pimenta e muitos outros mantimentos e nossa produção abastece dezenas de mercados e feirantes de Varzelândia e São João da Ponte. Temos uma área irrigada de 12.48 hectares através da qual produzimos e comercializamos coletivamente vários produtos. No ano de 2011 produzimos mais de 1.800 kilos de sementes de abóbora e 1.418 kilos de sementes de alface. No ano de 2012, além da produção de 787 kilos de abóbora colhemos mais de 18.000 mil kilos de pimenta.
5. No ano de 2006 as famílias do Para Terra I, juntamente há várias comunidades da região consideradas quilombolas, com o apoio da Liga dos Camponeses Pobres e da Liga Operária, construímos de forma coletiva e independente do estado a Ponte da Aliança Operário-Camponesa sob o ribeirão Arapuim entre as comunidades Para Terra I e Nossa Senhora Aparecida.
6. Na construção da ponte nós da comunidade Para Terra I tivemos papel fundamental participando ativamente de todo o trabalho que beneficia hoje dezenas de comunidades. Participaram centenas de pessoas da obra, entre elas dezenas de quilombolas das comunidades Araruba, Nossa Senhora Aparecida, Conquista da Unidade, Brilho do Sol, Boa Vista, Modelo, Furado Seco, São Vicente, Orion e Limeira.
7. Mais de 80 mulheres e 300 homens participaram da obra de construção da ponte em mais de 1.800 dias de trabalho voluntário coletivo, sendo que no enchimento da cabeceira da ponte chegaram a participar dos trabalhos num mesmo dia mais de 70 pessoas. A construção da ponte foi e continua sendo um grande e importante exemplo da força que temos quando estamos unidos e organizados.
8. As crianças e jovens do Para Terra I estudam nas escolas da região e junto aos companheiros da Escola Popular desenvolvemos uma primeira campanha de alfabetização através da qual, cerca de 18 jovens e adultos aprenderam a ler e escrever. E, após muitos esforços, hoje temos uma escola municipal dos anos iniciais do ensino fundamental na qual estudam cerca de 40 crianças.
9. Ainda como resultado do trabalho da Escola Popular temos hoje um grupo de teatro que existe há três anos formado por cerca de 15 adolescentes e que já apresentou peças em escolas e eventos em Varzelândia, Verdelândia, Pedras de Maria da Cruz e Manga. Além de participarem de um curso ministrado por respeitado diretor de teatro de Montes Claros através de projeto cultural financiado pelo Ministério da Cultura.
10. A comunidade do Para Terra I é conhecida e respeitada por toda a população de Varzelândia e região e um exemplo disso é a realização da já tradicional Feira de Produção que, em sua ultima edição no ano de 2012 em dois dias de intensas atividades, reuniu centenas de pessoas em apresentações musicais/artísticas e torneio de futebol, além de visitantes e apoiadores de Belo Horizonte e Brasília. Nesta feira participaram várias comunidades quilombolas, sendo os vencedores do torneio de viola conhecidos cantadores do Brejo dos Crioulos.
11. Não abrimos mão de nossas terras e não sairemos do Para Terra I. Somos todos parte de um mesmo povo que desde o período da escravidão, passando pela histórica batalha de Cachoeirinha em 1967 (durante o regime militar) e até os dias atuais, lutamos pelo fim do latifúndio improdutivo e pela distribuição das terras roubadas de nossos antepassados aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra.
12. Convocamos todo o povo de Varzelândia, São João da Ponte e região a apoiarem nossa luta pelo direito de vivermos e trabalharmos em cima de nossas terras, respeitando nossa autonomia econômica, política e cultural de respondermos nós mesmos sobre nossos destinos.
13. Conclamamos a todas as pessoas honestas e de bem, todas as autoridades e órgãos responsáveis ou relacionados à criação do Território Quilombola que se oponham a violência que representa a expulsão de nossas terras e/ou a inclusão forçada de nossa comunidade ao “Território Quilombola do Brejos dos Crioulos”.
Associação dos Trabalhadores Rurais do Para Terra I
Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Bahia
Fevereiro de 2013
1. Nós 35 famílias camponesas assentadas no Para Terra I no município de
Varzelândia (MG) estamos sendo ameaçadas de expulsão pelo próprio
estado para a suposta criação do “Território Quilombola do Brejo dos
Crioulos”. Estamos sendo também coagidos a aderirmos ao suposto
território num flagrante desrespeito a nossa autonomia como comunidade. É
justo e necessário distribuir a terra para os camponeses pobres da
região, mas acreditamos que isso deve ser feito tomando e cortando as
terras do latifúndio e não dos camponeses pobres.
2. As ameaças de expulsão do Para Terra I são mais uma forma encontrada
pelo estado para nos dividir. Somos todos camponeses pobres,
trabalhadores que lutamos por terra e uma vida digna. Muitos de nós
temos parentes quilombolas (avós, tios, sobrinhos, genros, comprades,
netos), muitos moradores do Para Terra I são casados com pessoas que
farão parte do território quilombola e muitas pessoas que se consideram
quilombolas vivem no Para Terra I.3. Desde 1998 várias famílias de camponeses pobres de Varzelândia e região se reuniram, adquirindo crédito fundiário por meio de contrato firmado com o Banco do Nordeste dando origem ao que hoje é o Para Terra I. Há quinze anos lutamos em cima dessas terras para dela tirar nosso sustento e transformar o Para Terra I em uma das comunidades com a maior produção de hortifrutigranjeiros de Varzelândia e região.
4. No Para Terra I produzimos milho, feijão, mandioca, abóbora, quiabo, tomate, cenoura, couve, alface, pimenta e muitos outros mantimentos e nossa produção abastece dezenas de mercados e feirantes de Varzelândia e São João da Ponte. Temos uma área irrigada de 12.48 hectares através da qual produzimos e comercializamos coletivamente vários produtos. No ano de 2011 produzimos mais de 1.800 kilos de sementes de abóbora e 1.418 kilos de sementes de alface. No ano de 2012, além da produção de 787 kilos de abóbora colhemos mais de 18.000 mil kilos de pimenta.
5. No ano de 2006 as famílias do Para Terra I, juntamente há várias comunidades da região consideradas quilombolas, com o apoio da Liga dos Camponeses Pobres e da Liga Operária, construímos de forma coletiva e independente do estado a Ponte da Aliança Operário-Camponesa sob o ribeirão Arapuim entre as comunidades Para Terra I e Nossa Senhora Aparecida.
6. Na construção da ponte nós da comunidade Para Terra I tivemos papel fundamental participando ativamente de todo o trabalho que beneficia hoje dezenas de comunidades. Participaram centenas de pessoas da obra, entre elas dezenas de quilombolas das comunidades Araruba, Nossa Senhora Aparecida, Conquista da Unidade, Brilho do Sol, Boa Vista, Modelo, Furado Seco, São Vicente, Orion e Limeira.
7. Mais de 80 mulheres e 300 homens participaram da obra de construção da ponte em mais de 1.800 dias de trabalho voluntário coletivo, sendo que no enchimento da cabeceira da ponte chegaram a participar dos trabalhos num mesmo dia mais de 70 pessoas. A construção da ponte foi e continua sendo um grande e importante exemplo da força que temos quando estamos unidos e organizados.
8. As crianças e jovens do Para Terra I estudam nas escolas da região e junto aos companheiros da Escola Popular desenvolvemos uma primeira campanha de alfabetização através da qual, cerca de 18 jovens e adultos aprenderam a ler e escrever. E, após muitos esforços, hoje temos uma escola municipal dos anos iniciais do ensino fundamental na qual estudam cerca de 40 crianças.
9. Ainda como resultado do trabalho da Escola Popular temos hoje um grupo de teatro que existe há três anos formado por cerca de 15 adolescentes e que já apresentou peças em escolas e eventos em Varzelândia, Verdelândia, Pedras de Maria da Cruz e Manga. Além de participarem de um curso ministrado por respeitado diretor de teatro de Montes Claros através de projeto cultural financiado pelo Ministério da Cultura.
10. A comunidade do Para Terra I é conhecida e respeitada por toda a população de Varzelândia e região e um exemplo disso é a realização da já tradicional Feira de Produção que, em sua ultima edição no ano de 2012 em dois dias de intensas atividades, reuniu centenas de pessoas em apresentações musicais/artísticas e torneio de futebol, além de visitantes e apoiadores de Belo Horizonte e Brasília. Nesta feira participaram várias comunidades quilombolas, sendo os vencedores do torneio de viola conhecidos cantadores do Brejo dos Crioulos.
11. Não abrimos mão de nossas terras e não sairemos do Para Terra I. Somos todos parte de um mesmo povo que desde o período da escravidão, passando pela histórica batalha de Cachoeirinha em 1967 (durante o regime militar) e até os dias atuais, lutamos pelo fim do latifúndio improdutivo e pela distribuição das terras roubadas de nossos antepassados aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra.
12. Convocamos todo o povo de Varzelândia, São João da Ponte e região a apoiarem nossa luta pelo direito de vivermos e trabalharmos em cima de nossas terras, respeitando nossa autonomia econômica, política e cultural de respondermos nós mesmos sobre nossos destinos.
13. Conclamamos a todas as pessoas honestas e de bem, todas as autoridades e órgãos responsáveis ou relacionados à criação do Território Quilombola que se oponham a violência que representa a expulsão de nossas terras e/ou a inclusão forçada de nossa comunidade ao “Território Quilombola do Brejos dos Crioulos”.
Associação dos Trabalhadores Rurais do Para Terra I
Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Bahia
Fevereiro de 2013
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