Friday, July 12, 2019

Caso Neymar: Basta um episódio envolvendo um ricaço para fazer cair a máscara feminista de hipócritas

MFP – Movimento Feminino Popular BRASIL


“As mulheres sustentam sobre seus ombros a metade do céu, e devem conquistá-la.”

Presidente Mao Tsetung
O episódio que recentemente veio a público, rodeado do sensacionalismo costumeiro, envolvendo a acusação da modelo brasileira Najila Trindade, de ter sido estuprada pelo milionário e famoso jogador de futebol, também brasileiro, Neymar, serviu uma vez mais, para revelar o arraigamento da mentalidade atrasada, patriarcal e machista na sociedade brasileira. Mais que isto, pôs a nu de como o que pesa é a natureza de classe no tratamento dos fatos, quando estão envolvidos ricos e poderosos. O episódio também faz caco das poses e arroubos com que a Globo, que invade os lares brasileiros com suas programações com cenas apelativas de exposição da intimidade pessoal, com vistas a maior audiência, travestidas de defesa da “liberdade” sexual e de comportamento, particularmente se utilizando da exposição do corpo e sexualidade da mulher.
O recente episódio que veio a público envolvendo a acusação de estupro da modelo Najila Trindade por Neymar (rodeado do sensacionalismo costumeiro) serve para revelar o arraigamento da mentalidade atrasada, patriarcal e machista da sociedade brasileira. Põe a nu, também, os dois pesos e duas medidas da opinião publicada dos monopólios de imprensa, uma, quando os “suspeitos” são pretos e pobres – condenados até que se prove o contrário, outra, quando os acusados são ricos e poderosos: meninos inocentes, vítimas das suas vítimas.

O fato de Bolsonaro ter dado a este episódio quase o status de problema de Estado é revelador de como este caso explicita toda a misoginia estrutural de nossa velha sociedade semicolonial e semifeudal. A verdade é que todos os demônios e preconceitos mais rasteiros sobre o papel da mulher vieram à tona a partir deste caso. Lamentável é que muitos setores ditos progressistas, e mesmo ativos representantes do “feminismo”, tenham capitulado deste enfrentamento sério e necessário quando ele se apresenta às claras.

Najila tem sido execrada e não espantará se, de vítima, daqui a pouco seja ela a sentar no banco dos réus. Os monopólios de imprensa já fizeram sua parte, encarregando-se de inverter os papeis de acusador e acusado. Sua cobertura, mesmo aquelas mais “sutis”, apresenta a mulher como uma “aproveitadora” e Neymar, coitadinho, como um menino ingênuo. Afinal, não é natural que um playboy milionário possa usar as pessoas a seu bel prazer? Que mal há em que um ricaço, que ostenta mansões, carrões, aviões, possa igualmente comprar, usar e ostentar as mulheres como bem entenda, consintam elas ou não?

É esta visão de mundo grosseira, tacanha, prostituída, que está por trás de toda a enternecida defesa do “menino Neymar” que tem prevalecido no senso comum.

Ele afirma que não a agrediu e não a estuprou. Mas o fato inconteste é que as marcas da agressão estão registradas em fotografias que foram publicadas por ele mesmo, em mais uma demonstração de desrespeito, ao expor o corpo de Najila nas redes sociais. Em sua defesa e não podendo negar os fatos, Neymar chega ao absurdo de afirmar que a agrediu porque ela pediu. É, portanto, um réu confesso, certo da sua impunidade uma vez que as “leis” - inclusive as que supostamente protegem as mulheres – não chegam até os condomínios fechados da burguesia.


Na verdade, o fundo de todo esse discurso machista e misógino, reproduzido diuturnamente pelos monopólios de comunicação, pelas igrejas e outras estruturas ideológicas do velho Estado reacionário é expressão do pensamento reacionário e decadente das classes dominantes em nosso país, a grande burguesia, o latifúndio e o imperialismo (principalmente ianque), revelando a pútrida ideologia dessa velha sociedade patriarcal, semifeudal e semicolonial. Para essa sociedade o valor da mulher é medido por padrões de beleza e sensualidade que correspondam à sua utilidade enquanto mercadoria e não pela condição social da imensa maioria delas, ou seja, trabalhadoras que são, seres humanos completos com capacidades produtiva e científica. Toda essa cultura reacionária da opressão feminina serve para sustentar a base dessa sociedade de exploração. Historicamente os sistemas de exploração e opressão relegaram as mulheres do povo às funções mais secundárias na sociedade, a de meras reprodutoras exaltando-as como rainhas do lar para que se resignassem à condição da escravidão doméstica. Tudo para reduzir ao máximo sua prática social e assim aplastar sua participação na luta de classe, separando do proletariado revolucionário a metade do seu exército.

No capitalismo cabe às mulheres do povo a extenuante tarefa do trabalho doméstico, trabalho invisível e embrutecedor que garantem a reprodução da força de trabalho para as classes exploradoras na forma de trabalho gratuito. Com isto os salários podem ser mantidos em níveis baixíssimos, o patrão não precisa desembolsar nada para garantir que seu empregado se apresente no trabalho diariamente, alimentado, vestido e cuidado todos os dias. Ele explora a classe de duas formas: na fábrica, com pouca paga e no lar, com esse trabalho não pago da mulher. Quando são inseridas na produção social é para aumentar a exploração da classe impondo a elas uma dupla jornada.

Em propagandas oficiais, o próprio monopólio de imprensa, em campanhas contra a violência sobre a mulher, afirma que, em casos de estupro a palavra da vítima basta para abrir processo. Porque então este mesmo monopólio, com a Rede Globo à cabeça, faz sensacionalismo criando um ambiente de ataque e condenação à vítima? Revela o fundo hipócrita de seu discurso de “arautos dos direitos das mulheres e das liberdades sexuais”.

Esses mesmos órgãos do monopólio de comunicação que se apresentam como vanguarda na “luta das mulheres pela liberalização sexual” são os maiores promotores da utilização do corpo feminino como objeto sexual e apologistas da prostituição. São, no máximo, a vanguarda do atraso, defendendo com novas roupagens a velha tara burguesa de converter a mulher em mero objeto de consumo, tanto no lar como na rua. As novelas cumprem um papel ideológico de fortalecimento do machismo, naturalizando a pornografia e a prostituição, alimentando esse mercado extremamente lucrativo, para que as meninas, desde a mais tenra idade, acreditem que seu valor está na exposição de sua sexualidade, estimulando um comportamento sexual desregrado e degenerado, como se isso fosse a “libertação” da mulher. Chegam a defender a prostituição como uma “profissão digna como qualquer outra”, quando é, na verdade, a maior expressão do rebaixamento da condição humana, tanto de quem se prostitui quanto de quem se utiliza da prostituição. Em seus programas de “entretenimento” glamorizam a prostituição como se as mulheres que vivem nesta condição não sofressem os piores tipos de humilhações e violências. Promovem e fortalecem diuturnamente a velha cultura de subjugação feminina, enquanto demagogicamente fazem campanhas “contra a violência sobre a mulher”. Quando fazem denúncias dos inúmeros casos diários de feminicídio, naturalizam o problema como se fosse uma questão de desvio de conduta moral ou de personalidade individual dos agressores e escondem que a base de todo esse repugnante cenário é a manutenção dessa sociedade de exploração e opressão. Contudo, o final feliz das novelas costuma ser sempre igual: para a mulher “regenerada”, o altar e o casamento, a redenção nos braços do príncipe encantado.

O caso Neymar é mais uma expressão de como a mulher é tratada nessa sociedade, vítima de todo o tipo de violência, exploração e opressão. São mais de 1300 estupros praticados por dia no nosso país segundo dados oficiais, e esses números elevadíssimos seguramente ainda são subestimados. Na verdade, além desses horrores com que convivemos diariamente, a maior parte dos estupros acontecem sobre os brancos lençóis dos ditos bem-casados, abençoados pelas igrejas que lhes impõem seus caducos dogmas e segundo os valores morais hipócritas, certificados pelos cartórios dessa velha sociedade. Os crimes de estupro são muito difíceis de ser comprovados tanto por geralmente acontecem sem testemunhas, quanto por ser acobertado pela cultura machista que justifica as maiores barbaridades no comportamento masculino. Influenciados pela ideologia machista, os homens que praticam o estupro pensam que têm o direito de tomar a mulher pela força, quando ela não quer praticar sexo ou não quer fazer da forma como o homem quer impor. É direito da mulher querer interromper uma relação sexual se assim é o seu desejo. Na maioria das vezes as mulheres se sujeitam a fazer o que não desejam, o que as faz sentir sujas, por uma série de constrangimentos que lhes é imposta, como o que é normal e aceitável nessa sociedade. O fetiche das “fantasias sexuais” e da exacerbada erotização de tudo promovido pela indústria pornográfica, que cada vez mais inunda os meios de comunicação, publicações e entretenimentos, estimula todo tipo de degeneração humana e serve à manutenção da mulher como puro objeto, desprovida de desejo, sentimento e dignidade próprios e apontada como ser inferior. Difunde-se o mito de que o estuprador é o homem pobre e negro, saído de um matagal ermo, quando a maior parte dos casos de estupro e assédio ocorrem dentro de casa ou no ambiente de trabalho. Sem falar das incursões policiais nas favelas, que deixam um rastro não apenas de jovens assassinados, mas também, muito comumente, de mulheres violadas. Sobre isso, o monopólio de imprensa e os arautos da “moralidade cristã” guardam um silêncio cúmplice e criminoso.

Todo o feminismo burguês e pequeno-burguês, supostamente radical, convergem para esse mesmo tipo de pensamento e apontam como suposta “libertação sexual” da mulher o direito dela expor seu corpo e usar sua sexualidade como “empoderamento” não importando forma, a qualquer preço e a qualquer custo. Como se a emancipação da mulher fosse a “conquista” do direito de fazer todas baixezas tidas por “coisas de homem”. Ou seja, estimulam que homens e mulheres desenvolvam relacionamentos efêmeros, baseados exclusivamente em sexo, desligados de outros aspectos da vida social, particularmente da luta de classes. Isto não é nem de longe o que mulheres e homens podem construir juntos elevando sua condição humana. Para contrapor essa velha cultura de subjugação da mulher é necessário destruir as bases sobre as quais ela se sustenta, a sociedade de exploração e opressão de classe e a propriedade privada. Ao mesmo tempo em que destruímos esta velha sociedade do individualismo e egoísmo, construímos uma nova, coletivista, com novas bases sociais, em que a mulher é considerada um ser humano completo, inserida na prática social ombro a ombro com o homem. Junto com essa nova sociedade se erguerá uma Nova Cultura em que as relações entre homens e mulheres serão de tipo mais elevada e profunda, baseadas em companheirismo e respeito.

Para não julgar o caso Neymar pelas aparências, é necessário refletir sobre todas essas questões, baseando-nos numa análise de classes da sociedade. Neymar é considerado um ídolo de uma geração inteira de jovens. Quão triste e miserável é uma ordem em que os exemplos das futuras gerações não são legítimos membros do povo, seus trabalhadores e pensadores verdadeiros, mas projetos de jogador como este tal. De fato, neste sentido, Neymar não passa de um moleque: não completou sua formação como atleta, menos ainda como ser humano. É, ele também, um lúmpen dos tantos que uma sociedade em decomposição como a nossa cria diariamente. O que não espanta, se pensarmos que é também um lúmpen miliciano que se senta hoje na cadeira de presidente desta republiqueta.

Seu comportamento machista reforça nesses mesmos jovens a concepção de que os homens devem usar as mulheres como objeto, de forma descartável, como uma propriedade. O discurso de que “se ela apanha, é porque fez por merecer” ou “porque gosta”, é parte dessa mesma concepção. É a mesma lógica que leva à prática do feminicídio, realidade cada vez mais grave em nosso país e em todo o mundo, hoje, mais do que nunca em crescente desordem, afundado na crise geral de decomposição do capital, o imperialismo.

O Movimento Feminino Popular repudia toda essa velha ordem hipócrita e reafirma a luta pela construção de uma sociedade que ponha fim a toda repugnante ordem de opressão feminina. A condição para transformar essa realidade que subjuga a mulher do povo diariamente só pode se dar através da destruição da base material que a sustenta. Nos países semicoloniais/semifeudais como o Brasil, bem como a imensa maioria dos países no mundo, esse caminho passa pelas Revoluções de Nova Democracia ininterruptas ao Socialismo.

A origem e a causa da opressão feminina é a propriedade privada, bem como o patriarcado e a divisão da sociedade em classes antagônicas dela derivadas, que serve e reproduz a exploração e opressão do homem pelo homem. Somente com a erradicação completa desses fatores e sua substituição por novas relações de produção, baseadas na propriedade social dos meios de produção e de distribuição da riqueza, pode conduzir a emancipação das mulheres ao emancipar politicamente a classe operária e demais classes trabalhadoras. Ou seja, a revolução social do proletariado – composta de homens e mulheres – para o estabelecimento do socialismo em transição para a sociedade sem classes, o comunismo.

MFP – Movimento Feminino Popular


Junho – 2019

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