a nova democracia Ano XIII, nº 140, 1ª quinzena de Novembro de 2014
Rafael Gomes Penelas
Terminada a apuração do segundo turno da farsa eleitoral, verificamos que, apesar da chantagem do TSE e do esforço inaudito dos marqueteiros, o rechaço ao circo eleitoral se fez vigoroso. As abstenções, votos nulos e brancos atingiram a marca de 37.279.085 na disputa presidencial. Aproximadamente um milhão e meio a menos que no primeiro turno, porém um número significativo e assustador para os eleitoreiros, levando em conta os esforços sem precedentes das campanhas milionárias para criar um ambiente de disputa e polarização entre as duas candidaturas.
Embora tenha-se mantido a média, o número de abstenções cresceu 2.439.004 em comparação com o 1º turno. Se formos analisar os ‘não-votos’ nas disputas para governador, também veremos uma grande vitória do boicote. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, o boicote atingiu 4.348.950 (35,8%) no segundo turno, superando o candidato desmoralizadamente eleito, Luiz Fernando Pezão, que teve 4.343.298 de votos. O Rio, por menção honrosa, recebeu merecidamente o status de estado com mais “eleitores rebeldes”.
Para encobrir mais uma vez o vexame da “festa da democracia” do velho Estado, os organizadores da farsa eleitoral não divulgam os números absolutos, utilizam estatísticas distorcidas e o truque dos “votos válidos”. Das cerca de 142 milhões de pessoas consideradas “aptas a votar”, incluindo a porcentagem dos ‘não-votos’, que é ardilosamente retirada do cômputo geral pelo TSE, a gerente de turno reeleita, Dilma Rousseff (PT), obteve apenas 38,2% dos votos e seu adversário, Aécio Neves (PSDB), 35,7%. O boicote atingiu 26,1% do “eleitorado”.
O incômodo espinho do rechaço ao circo eleitoral e o desgaste produzido pelas pugnas entre as legendas do Partido Único não podem ser apagados com discursos conclamando a “união”, ditados pelas coordenações de campanhas dos candidatos.
Ainda que uma parcela considerável possa ter anulado os votos, votado em branco ou simplesmente não comparecido às urnas por não ver opções entre as legendas, ou não por plena consciência política, estamos certos de que uma respeitável parcela, robusta e em crescimento, o fez movida pelo caminho apontado pelas jornadas de protestos de junho e julho de 2013. Muito disso se deve a persistente e combativa campanha empreendida por inúmeras organizações, sobretudo pela Frente Independente Popular do Rio de Janeiro (FIP-RJ), que, nascida e forjada nas lutas da juventude combatente, ergueu nos protestos populares da capital fluminense a palavra de ordem ‘Não vote, lute pela revolução!’.
O boicote “cresce e aparece”
No fim da tarde e início da noite de 23 de outubro, três dias antes do segundo turno, ativistas independentes e organizações como o Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), a Rede Estudantil Classista e Combativa (RECC), a Unidade Vermelha-ORNL, a Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP), o Fórum de Oposição Pela Base (FOB), o Movimento dos Moradores e Usuários em Defesa do Iaserj, o Movimento Feminino Popular (MFP), a Comissão de Pais e Familiares dos Presos Políticos e a Aldeia Maracanã, convocados pela Frente Independente Popular, realizaram uma nova manifestação contra a farsa eleitoral no Centro do Rio de Janeiro.Os manifestantes se concentraram no camelódromo da Uruguaiana, onde foram distribuídos milhares de panfletos, e, em seguida, seguiram em passeata até a Cinelândia. O vídeo produzido por AND pode ser conferido em nosso canal no YouTube com o título ‘Ativistas do Rio conclamam: Nem Dilma, nem Aécio! Abaixo a farsa eleitoral’.
Dois dias depois, 25 de outubro, uma panfletagem foi realizada na Praça da Cruz Vermelha, também na região central. Durante os meses de agosto, setembro e outubro, a FIP-RJ realizou inúmeras atividades pela campanha de boicote à farsa eleitoral, como atos, panfletagens, debates, etc. Os relatos foram publicados nas últimas edições de nosso jornal.
— Tentam criar essa polarização entre Dilma e Aécio. Enquanto um é de direita assumida, a outra finge ser de “esquerda”. Na verdade, os 12 anos de governo do PT mostraram que este partido governa para a burguesia, assim como seu antecessor. Esta semana recebemos a notícia de mais um camponês assassinado em Minas Gerais, um produtor de mel da Liga dos Camponeses Pobres. Andei pesquisando e vi que, na questão do campo, o governo do PT foi pior que FHC, pois assentou menos famílias e matou mais camponeses. Isso que queremos dizer: independente de quem ganhe, o povo e seus movimentos independentes, na cidade ou no campo, devem se preparar para mais lutas! — disse um ativista da FIP durante a manifestação do dia 23.
Em São Paulo, no dia 16 de outubro, a Frente Independente Popular (FIP-SP) realizou uma aula pública com o tema ‘Farsa Eleitoral e Crise da Água’, na Praça do Forró, em São Miguel Paulista, distrito da região leste de SP.
Em 25/10, diversas organizações, entre elas a Frente Pelo Voto Nulo, realizaram o ato- show ‘Rap pelo voto nulo’, no Vale do Anhangabaú, que contou com diversas atrações. No dia 23, uma nova manifestação havia sido realizada no Centro da capital. Por toda cidade, inúmeros cartazes foram colados nos muros e vias públicas com a inscrição ‘Dilma = Aécio’.
Em 24/10, os goianos realizaram o ‘Ato contra a farsa eleitoral e a repressão do Estado contra o povo’, no dia do aniversário da capital Goiânia.
A Frente Independente Popular de Pernambuco (FIP- PE) também realizou inúmeras atividades, como um debate sobre as eleições na UFPE e várias panfletagens na capital Recife e região metropolitana. Na véspera da farsa eleitoral, os ativistas postaram uma mensagem em rede social sobre atividade realizada no dia 24: “Hoje tivemos mais uma atividade de agitação e propaganda do boicote eleitoral. Mais uma vez o povo mostra que, apesar de toda propaganda, chantagem e o investimento bilionário para convencer o povo a ‘escolher’ um dos candidatos, a insatisfação nas ruas é enorme. Popular mesmo é o boicote!... Nossa campanha distribuiu até o momento cerca de 25 mil panfletos, afixou perto de 500 cartazes e lambes, pintou muros em várias cidades, distribuiu cerca de 5 mil adesivos. Esteve presente no Recife antigo, na MIMO, no Janga, em Paulista, Igarassu, Casa Amarela, em Brasilit, na Várzea, em Peixinhos”.
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