Camponeses
organizados pela FNL e LCP fazem combativa manifestação em Montes
Claros repudiando os ataques dos latifundiários contra os camponeses no
Norte de MinasMais de 200 camponeses tomaram as ruas do
centro da cidade de Montes Claros na tarde de sol escaldante do dia 16
de março. A manifestação, convocada pela Liga dos Camponeses Pobres do
Norte de Minas e Sul da Bahia (LCP) e pela Frente Nacional de Luta Campo
e Cidade (FNL), parou por três horas o trânsito da maior cidade do
Norte de Minas.
A combativa manifestação ocorreu uma
semana depois do covarde ataque de pistoleiros acobertados pela PM ao
Acampamento Terra Prometida no latifúndio Norte América em Capitão
Enéas. No ataque, contratado pelo latifundiário Leonardo Andrade
(ex-secretário municipal de Agricultura e filho de Renato Andrade), o
dirigente regional da FNL, Tiago Coimbra, ficou gravemente ferido com
tiros na cabeça, tórax e pernas, outro camponês foi ferido à bala e
diversos camponeses espancados, inclusive uma senhor de 75 anos que teve
a clavícula quebrada por uma coronhada.
Camponeses da FNL à frente da manifestaçãoDurante
a vibrante manifestação, que reuniu ativistas e massas camponesas e
quilombolas das cidades de Capitão Enéas, Pirapora, Varzelândia,
Verdelândia (Cachoeirinha), Pedras de Maria da Cruz, Jequitaí, Jaíba,
Matias Cardoso, Jaíba, Manga e contou com a participação e apoio
decidido dos ativistas do Comitê de Apoio à Luta pela terra de Montes
Claros, milhares de boletins de repúdio aos latifundiários foram
distribuídos.
Nesta contundente nota a LCP reafirma posição sobre o episódio em Capitão Enéas e outros espalhados pelo Brasil de que: “O terror não vai parar a luta pela terra!”. Além
disso, analisa historicamente as chacinas cometidas contra a
resistência dos camponeses por terra e dos indígenas por território,
afirmando que: “Estes banhos de sangue não foram capazes de parar a luta pela terra!” e ainda “Os camponeses retomaram as terras
da fazenda Santa Elina (RO) e retomaram as terras da fazenda Santa
Lúcia em Pau D´Arco (PA). As famílias da Nova Cachoeirinha (Verdelândia)
resistem e reafirmam que todas as terras roubadas dos posseiros em 1967
serão retomadas e as famílias do Acampamento “Terra Prometida” em
Capitão Enéas resistem pelo direito a viver e trabalhar com dignidade
nas terras do latifúndio Norte América!”
Final vibrante da manifestação deixa recado aos latifundiários de que terror não vai parar a luta pela terraA
manifestação seguiu pelas principais ruas da cidade em direção ao
parque de exposições, esclarecendo e convocando a população a apoiar os
camponeses que resolutamente marchavam com suas bandeiras vermelhas
erguidas, sob uma temperatura de mais de 35 graus, causando
incredulidade e admiração a quem assistia e ouvia as consignas que
ecoavam por vários quarteirões: “É terra, é terra, a quem nela trabalha e
viva agora e já a Revolução Agrária!”, “É morte, é morte, ao
latifundiário! E viva o poder camponês e operário”. Segurando a faixa da
frente “Viva a Revolução Agrária! Morte ao Latifúndio!” e “Terra para
quem nela trabalha!” se revezaram unidos os camponeses das áreas da LCP e
da FNL, dando uma demonstração classista de que o ataque aos camponeses
pobres em qualquer lugar e organização é um ataque à luta pela terra, é
um ataque ao povo pobre do campo e da cidade, um ataque à luta
democrática em nosso país e no mundo!
Governo Pimentel-PT é denunciado por cumplicidade com os latifundiáriosEntregando
o ouro dos latifundiários, num lapso de verdades que todos sabem, mas
que não são ditas publicamente pelas classes dominantes, o delegado
regional Renato Henriques havia afirmado à imprensa que “
Investigações
já formalizadas indicam que dentro do parque de exposições, onde Leo
Andrade estava cuidando de seus animais era o local que ele utilizava
para se reunir com as pessoas, seus funcionários e ali combinaram de
praticar essa reintegração de posse ilegal e criminosa”. Isso
revelou claramente a criminosa quadrilha dos latifundiários da Sociedade
Rural, que se organiza através do Sindicato Rural, dentro do Parque de
Exposições. Quer dizer: enquanto posam de produtores rurais, planejam
durante os leilões e eventos, os ataques aos camponeses e suas
lideranças, organizam e agenciam bandos de pistoleiros para sua operação
conjunta e articulada com as polícias, inclusive financeiramente.
Como também denunciou a LCP na mesma nota: “É
assim que funciona em todo o Norte de Minas e no Brasil, como foi o
assassinato por tocaia de nosso dirigente Cleomar Rodrigues em Pedras de
Maria da Cruz, por pistoleiros e policiais civis de Januária, que
publicamente prestam “serviços” aos latifundiários da região, membros da
Sociedade Rural de Montes Claros.”
A manifestação camponesa
denunciou a intrínseca relação entre o Estado e os latifundiários que
numa ofensiva sangrenta contra a luta pela terra no Norte de Minas,
relançaram na quinta feira (15.03) o “Movimento Paz no Campo”. Manifestação toma as ruas e tem forte adesão da populaçãoRevelando
mais uma vez, o caráter de classe do velho e genocida Estado brasileiro
e não por mera coincidência, alguns dias depois dos ataques em Capitão
Enéas e da declaração “infeliz” do delegado regional da Policia Civil de
Montes Claros, Renato Henriques voltou à cena declarando que “a polícia
civil tomará atitudes drásticas para estabelecer a paz na região...”,
anunciando a atuação policial como “Operação Paz no Campo”, sinalizando
positivamente aos latifundiários, descontentes com a repercussão das
prisões, ocorridas no local e hora do crime, de pistoleiros,
agenciadores como Andreia Beatriz e o advogado de Leonardo Andrade,
Robson Lima.
Panfletagem é realizada durante a manifestaçãoNão
menos importante é o papel dos monopólios de imprensa, nesta guerra
civil reacionária, para criminalizar a luta dos camponeses e do povo de
modo geral. Não foi atoa que os latifundiários utilizaram o principal
noticiário regional de TV, filiada à Rede Globo, para passar sua versão
dos fatos e lançar sua ofensiva em entrevista do Presidente da Sociedade
Rural, José Luiz Veloso Maia, dias depois do ataque, enquanto que
nenhuma liderança da FNL fora procurada para se posicionar. Neste
sentido a nota da Comissão Nacional das Ligas, apontou o núcleo da
questão:
“Ataque de pistoleiros contra camponeses da Frente Nacional
de Luta Campo e Cidade no latifúndio Norte América em Capitão Enéas,
Norte Minas, é crime encomendado, premeditado e tem a cobertura do
Estado e do monopólio da imprensa.” E mais:
“São ridículas e
mentirosas as manchetes do monopólio da imprensa para divulgar os fatos.
“Troca de tiros”, G1; “Conflito Agrário”, Estado de Minas; “Conflito em
Fazenda”, O Tempo; o que houve foi um ataque covarde, uma emboscada,
com alvos premeditados, pistoleiros armados contra camponeses
desarmados.”
Pichações denunciam Leonardo Andrade como assassino - Parque de ExposiçõesQuando
os camponeses pararam na maior e mais importante praça de Montes
Claros, a Dr. Carlos, que funciona como um terminal de ônibus ligando
todas as regiões da cidade, centenas de trabalhadores manifestaram o seu
apoio à manifestação, se aproximaram, ficaram atentos e vários
aplaudiram quando as lideranças rechaçaram o gerenciamento
Temer/PMDB/PSDB, o governo Pimentel/ PT, toda a farsa eleitoral e a
intervenção militar, que se iniciou no Rio de Janeiro, como guerra
contra o povo, para manter a subjugação nacional, guerra preventiva
contra a rebelião popular que cresce e toma vulto cada dia mais.
O Movimento Feminino Popular - MFP
também se pronunciou fazendo uma saudação classista ao proletariado e às
mulheres do povo, particularmente as camponesas que tiveram presença
maciça no ato e manifestou sua posição sobre a crescente onda de
assassinatos de mulheres no Brasil. Também se pronunciou quanto ao
assassinato da vereadora Marielle Franco do PSOL, caracterizando como
crime de Estado, cometido neste ambiente de intervenção militar no Rio
de Janeiro.
Pichações denunciam Leonardo Andrade como assassino Mercado MunicipalDurante
todo o trajeto, mas principalmente nesta praça e no parque de
exposições, a PM tentou conter o ato atravessando suas viaturas na
frente, tentando intimidar o carro de som e invadindo o interior da
manifestação, no que foi repelida prontamente. Policiais disfarçados, a
paisana, seguiram a manifestação e na frente do parque foi montado um
enorme operativo policial, muito antes dos manifestantes chegarem até
lá. Mas nada disso impediu a marcha dos camponeses de seguir seu trajeto
até o fim, onde as duas partes antagônicas desta contenda se
encontraram cara a cara, mas não ainda para um embate definitivo, mas
como parte dele: camponeses versus latifundiários, com a polícia,
serviçais do latifúndio, se colocando no meio para a defesa de seus
amos. Os latifundiários tremeram, de medo e ódio, acossados em sua “casa
grande”, saíram para fora sob gritos de
“ASSASSINOS” e
ficaram escondidos atrás dos policiais, dentro da grade, naquele antro
medieval, que abriga siglas como a TFP e outros lixos arcaicos ao mesmo
tempo que pomposamente pronunciam terminologias agrotécnicas e por fim
onde se reúnem as velhas oligarquias e suas aspirações monárquicas e o
novo latifúndio, o “agronegócio”.
Durante o ato na frente do Parque de
Exposições, um grupo de jovens lançou tinta vermelha contra a fachada, a
força foi tamanha que algumas garrafas foram parar dentro do parque,
mas parte delas atingiu o muro deixando registrado que o sangue
derramado dos companheiros e companheiras na luta pela terra, não ficará
impune. Por fim, as organizações camponesas conclamaram: “Destruir o latifúndio já, e tudo o que ele engendra de atraso na economia, na política, na cultura de nosso país. Unir
camponeses, indígenas e quilombolas! Com o apoio dos operários e demais
trabalhadores da cidade! Varrer todo esse lixo de corrupção, miséria,
injustiça, exploração, opressão e genocídio, para conquistar a Nova
Democracia e o Brasil Novo”.
No balanço da manifestação um dirigente da FNL em acordo com a LCP concluiu: “cumprimos
o objetivo de levar ao povo de Montes Claros e de toda a região a
verdade sobre a luta pela terra, denunciando os crimes do latifúndio e
desmascarando as mentiras da polícia e da imprensa. Uma demonstração de
força e união dos camponeses. Demos uma resposta a esses bandidos
latifundiários que com esse ataque eles só conseguiram nos fortalecer
mais: o companheiro Tiago já está melhor, as famílias continuam nas
terras e agora estamos mais unidos do que antes”.
Terra para quem nela vive e trabalha!
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