Friday, August 9, 2019

Brasil Liga dos Camponeses Pobres lança nota nos 24 anos da heroica resistência de Corumbiara


Cerca de 600 famílias camponesas ocuparam a fazenda Santa Elina, em Corumbiara, em 1995
No último dia 7 de agosto de 2019, o jornal Resistência Camponesa publicou uma nota da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) de Rondônia e Amazônia Ocidental intitulada Viva a Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, pela passagem dos 24 anos deste importante fato ocorrido no dia 9 de agosto de 1995, no estado de Rondônia.

Na nota, os camponeses apontam que "no dia 9 de agosto celebramos a Heroica Resistência Camponesa de Corumbiara, um dos fatos mais importantes da luta pela terra no Brasil". E ressaltam: "Esta batalha deixou claro que o camponês só pode conquistar a terra com luta organizada, combativa e independente".
Abaixo, reproduzimos trechos seguintes do texto da LCP.
"A LCP (Liga dos Camponeses Pobres) foi fruto desta heroica resistência e sempre serviu e honrou àquelas famílias e a todos camponeses pobres. Junto com o CODEVISE (Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina) em 2010, após muitas lutas, dirigiu centenas de famílias que finalmente conquistaram a maior parte da fazenda Santa Elina. O sonho dos camponeses de 1995 floresceu nas Áreas Revolucionárias Zé Bentão, Renato Nathan, Maranatã 1 e 2, Alzira Monteiro e Alberico Carvalho.
Hoje, as mais de 600 famílias que lá vivem continuam a resistência contra os órgãos do velho Estado que perseguem, reprimem e atrapalham o povo de trabalhar, como Sedam e ICM-Bio, que aplicam multas absurdas e bloqueiam seus cadastros no Idaron. Assim como o Ministério da Agricultura que empurrou créditos para o plantio de urucum, sem seguro nem política de preço mínimo, causando prejuízos enormes às famílias. Sem contar a falta de maquinários e assistência técnica, ambulância e escola polo na área.
Camponeses retomam as terras da fazenda Santa Elina em 2010
Inúmeros camponeses com pouca ou nenhuma terra continuam trilhando o mesmo caminho, se organizando em tomadas como o acampamento Manoel Ribeiro, onde famílias lutam por um pedaço de terra, desde o final de 2018. Esta tomada é parte da luta histórica por conquistar o restante das fazendas do antigo complexo Seringal Santa Elina.
Contra a crise o caminho é tomar todas as terras do latifúndio! Os latifundiários ladrões de terra só trazem misérias, desgraças, exploração e nem sequer compram nos comércios das pequenas cidades. Somente com o crescimento das tomadas de terras pelos camponeses pode haver progresso para o povo. Corumbiara é um município mantido graças a luta e trabalho dos camponeses de Vitória da União, Verde Seringal, Adriana, Vanessa, da antiga fazenda Santa Elina, entre outras áreas.

Clique aqui para ver o boletim lançado pela LCP sobre a Resistência Camponesa de Corumbiara

Os camponeses de Santa Elina contribuíram decisivamente para demarcar o caminho da Revolução Agrária, o único capaz de destruir o latifúndio e iniciar a construção de uma Nova Democracia e um Brasil novo, unindo com a luta dos operários e demais trabalhadores do campo e cidade. Mais do que nunca, devemos seguir o caminho aberto pela heroica resistência de Corumbiara.
Honra e glória aos heróis de Corumbiara Sérgio Rodrigues Gomes, Vanessa dos Santos Silva, Manoel Ribeiro (Nelinho), Maria Bonita, Ari Pinheiro dos Santos, Alcindo Correia da Silva, Ênio Rocha Borges, Ercílio Oliveira Campos, José Marcondes da Silva, Nelci Ferreira, Odilon Feliciano, Oliveira Inácio Dutra, Jesus Ribeiro de Souza, Darli Martins Pereira!"

Entenda como ocorreu a Resistência
Trechos de artigo de Mário Lúcio de Paula publicado em AND nº 154 (2ª quinzena de julho de 2015)
"No dia 9 de agosto de 1995 ocorreu a Batalha de Santa Elina, também conhecida como 'Massacre de Corumbiara'. Seiscentas famílias camponesas sem terra montaram acampamento para conquistar o sagrado direito à terra para nela viver e trabalhar. Antenor Duarte, latifundiário vizinho, organizou outros grandes fazendeiros, contratou e armou pistoleiros para atuar ao lado de tropas da Polícia Militar no despejo das famílias.
Policiais da PM e da COE fortemente armados atacaram o acampamento de madrugada, juntamente com pistoleiros. Os camponeses resistiram bravamente com as armas que tinham: paus, foices e espingardas. Depois de rendidos, foram humilhados, espancados, torturados e muitos executados. Pistoleiros e policiais furaram os olhos e castraram um camponês ainda vivo, obrigaram trabalhadores a pisar nos corpos de seus companheiros e a comer pedaços de cérebro de um acampado que teve sua cabeça esmagada. A quantidade exata de camponeses assassinados ainda é desconhecida, já que muitos corpos foram levados em camionetes. O número conhecido é de 9 camponeses, incluindo a menina Vanessa, de apenas 7 anos. A maioria dos camponeses sobreviventes tem sequelas físicas e emocionais até hoje. Muitos morreram ao longo destes 20 anos por doenças que poderiam ter sido evitadas ou tratadas, caso as famílias tivessem recebido indenização e assistência de saúde adequada.
Manifestação realizada em Rondônia em 2015, quando a Batalha de Santa Elina completou 20 anos
O Estado brasileiro foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos por esta barbaridade, mas a justiça ainda não foi feita. Numa farsa de julgamento, dois líderes camponeses e dois soldados da PM foram condenados e presos. E os maiores culpados seguem impunes: José Ventura Pereira, tenente-coronel que comandou as tropas assassinas; Valdir Raupp (PMDB), governador na época e comandante geral da PM; e Antenor Duarte, latifundiário mandante. Em 2015, numa audiência com as vítimas sobre indenizações, um juiz substituto disse que não houve massacre e que os crimes bárbaros já prescreveram.
[...]
O 'massacre' em Corumbiara foi planejado pelos latifundiários com o objetivo de aterrorizar os camponeses para que nunca mais ousassem lutar pelo direito à terra. Mas foi em vão. As tomadas de terra continuaram, com mais organização e mais preparação.
Aquela batalha despertou a atenção de operários, professores, outros trabalhadores e estudantes em luta para a importância e urgência da luta camponesa. Trabalhadores da cidade e do campo se uniram, fizeram um balanço profundo desta experiência e tiraram importantes lições.
A heroica Batalha de Santa Elina deixou claro a face de cada um dos lados em disputa. A mentira, a covardia, a injustiça, a exploração e o genocídio é a cara dos latifundiários, suas tropas de pistoleiros, seus agentes na 'justiça', nos governos, nas polícias, no monopólio dos meios de comunicação e nos movimentos oportunistas, que atuam como força auxiliar, desunindo, desmobilizando e esvaziando a luta dos camponeses. O trabalho, o heroísmo, a justiça, a igualdade e a resistência é o rosto dos bravos camponeses que lutaram pelo sagrado direito à terra.
Polícia faz campo de concentração de camponeses a céu aberto em Corumbiara, 1995
A Batalha de Corumbiara deixou patente a existência de dois caminhos do movimento camponês. De um lado, o caminho da conciliação, do pacifismo, da negociação, da reforma e das eleições podres e corruptas, onde não se consegue nada além de migalhas. De outro lado, o caminho da luta combativa e da organização independente e revolucionária, único caminho correto para a conquista da terra.
Os combatentes de Corumbiara, heróis do povo brasileiro, seguem vivos nos corações e mentes dos bravos camponeses que trilham o caminho da Revolução Agrária, tomam terras do latifúndio, cortam-na por conta própria e distribuem os lotes entre si. Produzem de forma cada vez mais cooperada e decidem coletivamente, em Assembleias Populares, tudo o que lhes diz respeito. Este é o início de uma Grande Revolução que vai mudar verdadeiramente o país, conquistar os direitos do povo, justiça e uma verdadeira democracia."

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