Na noite do dia 19 de dezembro de 2024, a importante liderança faxinalense Iracema Correia dos Santos, de 64 anos, foi assassinada a tiros, possivelmente, segundo informações de outros veículos de imprensa, em frente ao seu neto, em sua própria casa localizada no Faxinal do Bom Retiro, município de Pinhão, Paraná. A liderança era conhecida localmente por ser uma intrépida lutadora pelos direitos dos povos faxinalenses e, particularmente, pela luta em defesa da terra para aqueles que nela vivem e trabalham.
Prova de sua luta orgânica diante das injustiças impostas aos camponeses faxinalenses pobres, sem terra ou com pouca terra, incorporou-se, em 2005, à Articulação dos Povos Faxinalenses (APF) e atuou junto a coletivos de educação e território, lutando duramente pela construção de uma escola municipal dentro de sua comunidade, demanda que nunca foi atendida pela prefeitura de Pinhão.
Sua morte, segundo a “investigação” da Polícia Civil, apontaria para um latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte, pois R$ 30 mil, frutos de uma venda anterior de erva-mate realizada pela vítima, sumiram de sua casa. Entretanto, o que não parece estar sendo levado em consideração pela polícia é que, conforme apontado em nota divulgada pela APF e pelo Núcleo em Defesa dos Direitos de Povos e Comunidades Tradicionais (NUPOVOS/IFPR), há 18 anos Dona Iracema sofria ameaças e intimidações devido a disputas de terras. Há ainda de se considerar que seu nome estava entre aqueles registrados no Caderno de Conflitos do Campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Mesmo diante do reconhecimento do território de Faxinal Bom Retiro como Área Especial de Uso Regulamentado (ARESUR), a segurança do território é considerada pouco efetiva e insuficiente diante do crescente desenvolvimento da contradição que se dá entre grileiros, latifundiários e grandes empreendimentos, por um lado, e os povos faxinalenses e camponeses pobres, sem terra ou com pouca terra, por outro.
Segundo nota de pesar divulgada por estudiosos locais e nacionais, as famílias da região empreendem, há décadas, uma luta pelo direito ao território e convivem com violência e assassinatos recorrentes. A nota também afirma que, durante sua vida, Iracema enfrentou constantes assédios dos jagunços da madeireira Zattar, que, desde que se instalou na região em 1950, deu origem aos conflitos que persistem até hoje, onde os camponeses sofrem com a especulação de terras disputadas com a madeireira.
Os estudiosos também denunciam que os latifundiários arrendam as terras dos faxinais e, junto com empresários da região, buscam convencer as famílias a negociarem seus terrenos por valores irrisórios. Além disso, alertam que a morosidade e negligência do Estado servem apenas “aos interesses dos grandes” e que este não pode continuar tratando as violências sofridas por esse povo como “questões de ordem pessoal, mas sim como parte de dinâmicas sociais de conflitos fundiários e violências que há muito tempo atravessam e corroem as existências dos povos dos faxinais, sem a devida atenção do Poder Público”.
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