25.3.15
IGOR MENDES -
Sexta-feira
13 e domingo 15 ocorreram atos em diversas cidades do país, a favor e contra o
governo Dilma, respectivamente. A manifestação de domingo, como era esperado,
foi muito maior que a de sexta, porque realmente a insatisfação com a gerentona
é geral. As “manifestações” chapa branca convocadas pela CUT é forçoso
reconhecer, foram um fiasco, apesar dos milhares de reais torrados a título de
“ajudas de custo” para viabilizá-las. Espetáculo de peleguismo que põe no
chinelo o velho PTB dos anos de 1950.
A
flagrante enxurrada de mentiras repetidas durante a última farsa eleitoral
apresenta agora a fatura- não para quem mentiu, naturalmente, e sim para a
população, atacada de todos os lados por aumento de impostos, juros
estratosféricos, corte de investimentos públicos (sobretudo nas áreas sociais),
retirada de direitos trabalhistas e saqueio do erário pela corrupção. A
imprensa internacional já se refere à política de Dilma como “medidas de
austeridade”, embora o PT afirme tratar-se de meros “ajustes”, de resto
passageiros.
Talvez
Dilma e seus ministros fossem mais inteligentes ficando calados, pois cada vez
a emenda parece piorar o soneto.
Esse
conjunto de fatores explica a massividade dos protestos de domingo, 15-03, e
não uma adesão instantânea da população ao fascismo, “explicação” histórica
e idealista. Em política não existe espaço vazio e, naturalmente, a oposição de
fachada, notadamente o PSDB, com considerável apoio da Rede Globo, corre para
tirar o máximo de proveito da situação, de acordo com suas ambições eleitorais.
Chega a ser cômico ver próceres do direitismo, como o playboy Aécio Neves, que
privatizaram até o que não tínhamos, e mais recentemente, no curso das jornadas
de junho e seus desdobramentos, mandaram descer o porrete na juventude (afinal,
como atuou mesmo a polícia de Alckmin?) falarem agora de “combate a corrupção”
ou “direito de manifestação”.
Alguns
celerados assanharam-se ao ponto de clamar uma intervenção militar, o que podem
esperar sentados, uma vez que banqueiros e latifundiários, notórios
articuladores internos do golpe de 64, estão satisfeitos e devidamente
representados no governo petista, através de figuras emblemáticas como Joaquim
Levy e Kátia Abreu, por exemplo. No plano externo o imperialismo
norte-americano, outro artífice fundamental do golpe, aprendeu que
“democracias” de mentirinha podem ser mais lucrativas e politicamente mais
seguras que regimes abertamente fascistas, a menos que seus interesses estejam
imediatamente ameaçados. Ninguém em sã consciência sustentará ser esse o caso.
Se há,
como há, um crescimento da opinião pública de direita na sociedade isso se
deve, em grande medida, a ação do próprio PT e daquilo que alguns chamam de
“Lulismo”, que sempre estimulou a despolitização nas massas, sua maior corporativização,
um ecletismo ideológico capaz de chamar a um José Sarney de “companheiro” e aos
usineiros de cana do nordeste “heróis nacionais”, ademais de um pragmatismo
vil, no melhor estilo toma-lá-da-cá, a nossa velha continuada república velha.
Esse governo, também, nunca deixou de reprimir greves de servidores e
manifestações populares- que o digamos nós, presos por ousar protestar contra a
farra da FIFA.
Não cabe a
autêntica esquerda ficar de braços cruzados esperando o belo dia em que uma
revolução cairá dos céus. Ao contrário, é necessário disputar esse ambiente
geral de insatisfação, desmascarando incansavelmente os lobos em pele de
cordeiro que proliferarão como mosquitos, e orienta-lo em direção ao seu
correto alvo. Esse velho estado reacionário, erigido sobre o sangue de todas as
revoltas democráticas que esmagou e que existe apenas para onerar e reprimir as
massas populares. Acreditar que esse Estado, e as classes que o dirigem, farão
qualquer reforma estrutural que vá de encontro a seus próprios interesses é uma
ilusão que tem sido desmentida ao longo dos últimos cinco séculos.
Em defesa
dessa ordem iníqua que massacra nossa gente, unir-se-á sempre a falsa esquerda
(ou “nova direita”) e a direita escancarada. Dilma o disse com todas as letras,
chamando a oposição à responsabilidade ao afirmar que “a instabilidade não
serve a ninguém”. O limite das suas brigas é exatamente esse: o temor de que os
trabalhadores se mobilizem de forma independente, em defesa de uma autêntica e
nova democracia. Esse é o único caminho capaz de salvar o país da catástrofe e
só o tempo e os esforços dos revolucionários, democratas e verdadeiros
patriotas, ademais da experiência própria do povo mesmo, poderá ir revelando-o,
pouco a pouco.
2015 está
apenas começando.
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NOTA DO EDITOR – Ficamos muito
felizes em receber ontem o e-mail do Comitê pela Liberdade de Igor Mendes e
todos os presos políticos. No e-mail os bravos lutadores explicam que foram
encarregados de enviar um artigo exclusivo do nosso colaborador e ativista
político IGOR MENDES, que escreveu diretamente da prisão.
Ele informa aos leitores e internautas que continuará enviando seus textos para nossa trincheira da
liberdade de informação e expressão, embora não possa se comprometer com
regularidade. “Pediu inclusive para agradecê-lo pelo belo depoimento que você
prestou a favor dele em juízo no TJ-RJ”. Cumpri apenas meu dever como
cidadão, ativista social e Conselheiro da ABI.
Segue um pequeno recado que ele nos
enviou no mesmo papel que escreveu o texto: "Desculpem o atraso com que
esse texto chegará às suas mãos, talvez envelhecido por novos acontecimentos.
Estas linhas são escritas dentro da prisão, no interior do complexo
penitenciário de Bangu, em condições portanto excepcionais. Um longo trajeto
será percorrido desde agora, quando, à caneta, rascunho estas linhas, até a sua
publicação na rede. Ainda assim insisto em retomar minha contribuição nessa
página, e gostaria de agradecer, desde já, a oportunidade. Tentam calar-me,
prendendo-me. Por isso escrever, ainda que mal, marca meu protesto contra o arbítrio
e a perseguição política que têm atingido a geração das jornadas de junho. Não
deixa de ser, para mim, um gesto libertador".
Defendo a extinção imediata de todos
os processos e o cancelamento das condenações! Vale esclarecer, para que esse artigo
(carta) chegasse ao seu destino (TRIBUNA da IMPRENSA online) por e-mail, foi
necessário reescrevê-lo também em condições precárias, pois o ‘Comitê pela
Liberdade de Igor Mendes’ tem a foto da carta, e não ela em si. (Daniel
Mazola).
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