Há 23 anos Lucas da Costa Silva nascia em Cerejeiras, sul de Rondônia, no mesmo ano em que o município Monte Negro, do Vale do Jamari, era emancipado. Pouco depois, Jair Miotto foi eleito prefeito desta cidade e a família daquele camponês sequer podia sonhar como a vida de seu filho cruzaria com a deste latifundiário em 2015. Nas últimas horas deste ano, Lucas foi assassinado na fazenda Fluminense, do latifundiário Jair Miotto, em Monte Negro, enquanto lutava pelo direito sagrado a um pedaço de terra para viver e trabalhar.
Marta e João Antônio, pais de Lucas, camponeses paranaenses vieram para Rondônia há 30 anos tentar a sorte. Dona Marta já tinha uma filha de outro casamento, no novo estado, o casal teve mais dois filhos. Conseguiram um lote pelo Incra, onde trabalharam duro. Seu João sofreu um acidente quando derrubava de motosserra que lhe custou uma das pernas. Pode-se dizer que ele teve sorte, porque o destino de muitos migrantes foi perder a vida em derrubadas, por picadas de cobra ou doentes de malária em Rondônia. E depois que o campesinato amansou a mata amazônica vieram os latifundiários comprando suas terras a preço de banana. Ou grilando propriedades do Incra, como a fazenda Fluminense, pertencente à Gleba Rio Alto, cortada pelo Incra na década de 1980 em lotes de 50 hectares destinados à reforma agrária, mas que foram grilados por latifundiários como Jair Miotto, sem nunca terem sido entregues a seus legítimos donos, os camponeses.
Depois do acidente com o pai de Lucas, sua família trocou o lote por uma chácara em Buritis, onde cultivam uma horta para Dona Marta vender na feira da cidade. Mesmo de muleta, Seu João lavra a terra com um facão. Os três filhos seguiram o mesmo caminho dos pais. Lucas trabalhou como ajudante de pedreiro e fazendo cocheiras nas fazendas da região. Mas com a “reforma agrária” fajuta que existe neste país, só se consegue terra comprando. “Ele não poupou, não trabalhou com a cabeça”, dirão muitos. Alguém poderá dar como exemplo o filho do prefeito, Jair Miotto Junior, que em 2010, com apenas 21 anos, já declarou patrimônio de terras, caminhões, caminhonetes e outros veículos, quando concorreu ao cargo de deputado estadual. Ele foi eleito prefeito de Monte Negro, em 2014 teve o mandato cassado pela câmara municipal e em 2015 teve seus bens bloqueados pela justiça após acusação de viagens excessivas, gastos com bebidas alcoólicas e preservativos, tudo custeado com dinheiro de nossos impostos.
mioTal pai, tal filho… Numa rápida busca na internet, encontra-se que Jair Miotto pai teve rejeitadas as contas de sua gestão como prefeito e foi condenado a compra de votos para sua candidatura a reeleição, em 2004. Em março de 2015 o Tribunal de Justiça de Rondônia mandou arquivar processos contra ele e Paulo Amâncio, outro ex-prefeito de Monte Negro, acusados de desvios de recursos de servidores municipais. Eles escaparam da condenação porque os crimes prescreveram. Como sempre, a “justiça” só é rápida para determinar despejos de camponeses.
Para lutar pelas terras públicas da fazenda Fluminense, de quase dois mil hectares, Lucas e seus companheiros organizaram o acampamento Luiz Carlos. O nome foi uma homenagem ao camponês que desapareceu na fazenda de Jair Miotto. Em 2012 camponeses ocuparam as terras, cortaram por conta, distribuíram os lotes entre si e iniciaram logo a produção. Por sofrerem vários ataques de pistoleiros a mando de Jair Miotto, como medida de segurança, os camponeses só trabalhavam em grupos. Na manhã do dia 28 de novembro de 2014, o camponês Luiz Carlos da Silva saiu sozinho para trabalhar e desde então desapareceu. No local, foram encontradas pegadas em direção à sede da fazenda Fluminense. A PM só iniciou as buscas depois que familiares denunciaram na imprensa e bloquearam a rodovia R0 421 por várias horas. Um parente de Luiz Carlos teve sua casa queimada, possivelmente como represália por ter participado destes protestos.
Depois deste crime hediondo, muitas famílias abandonaram os lotes por medo, mas algumas persistiram. Em novembro de 2015, cerca de 30 camponeses, inclusive mulheres, crianças e moradores antigos, retomaram a fazenda Fluminense. No dia 12 de novembro, o acampamento foi despejado por cerca de 15 policiais da PM e GOE – Grupamento de Operações Especiais. O ex-prefeito Jair Miotto, esteve presente no despejo, e apesar de se dizer uma pessoa pacífica, ameaçou matar quem continuasse nas terras!
Todos que conheceram Lucas afirmam que ele era um jovem trabalhador, simples, prestativo, solidário, corajoso. Com apenas 23 anos se lançou numa luta contra o latifúndio onde ele é mais perigoso, sanguinário e tem a conivência e total apoio do velho Estado. Ao escolher o caminho da luta organizada e combativa, Lucas fez muito mais do que lutar por um pedaço de chão para si, deu um contributo importante para a destruição do latifúndio – tarefa mais urgente do povo brasileiro nos dias atuais. A cada dia, mais e mais camponeses tomam esta consciência e seguem o exemplo de lutadores como Lucas.
Por isso, como afirma a LCP: Lucas da Costa vive!
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