Editorial da edição nº 166 de A Nova Democracia, 2ª quinzena de março de 2016.
Fausto Arruda
O show
pirotécnico do monopólio dessa imprensa reacionária, sedenta por um fato
político que faça esboroar de vez a gerência petista com o impeachment
de Dilma, é mais um capítulo do espetáculo vergonhoso em que se
desembocou a política oficial do Brasil e da qual é parte o grande
fracasso do oportunismo petista no gerenciamento do velho Estado.
Essa
imprensa reacionária, amamentada nas tetas do regime militar fascista,
depois de se esbaldar com as verbas publicitárias e negócios à custa do
erário público nas relações com o gerenciamento petista, insiste em
posar de vestal da moral e da ética puritana, num verdadeiro frenesi por
flashs dos
melhores ângulos de dirigentes petistas sob coerção ou algemados. Armam
todo esse raivoso espetáculo midiático contra Luiz Inácio e PT porque
estes foram, em um dia já remoto, gente de esquerda.
Tamanha
espetacularização da “delação premiada” de Delcídio do Amaral e da
operação da Polícia Federal no “Instituto Lula”, na residência e em
outros lugares frequentados por Luiz Inácio e sua família, já é parte de
um cenário duma escalada fascistoide, da ditadura de promotores (gente
conservadora, reacionária e antipovo) e da Polícia Federal. A múmia PSDB
e outras siglas da “oposição”, municiadas pelas trapalhadas do PT,
pretendem elevar a Polícia Federal e os tribunais apodrecidos do velho
Estado a heróis anticorrupção e reservas morais do país!
Esta foi a
maior, até agora, das pantomimas da ética fascista que assola o país e
que deu rendas à última bravata do senhor Luiz Inácio.
Após seu
breve depoimento, executado da forma abusiva com que este Estado
reacionário dispensa sistematicamente ao povo, Luiz Inácio cometeu o
discurso que esperava nunca mais ter de fazer: ameaçar voltar a ser o PT
radical de seus primeiros anos de vida. E o fez porque caiu na real de
que, mesmo depois de tudo que fez pelos banqueiros, pelas montadoras,
pelos usineiros e pelos latifundiários, eles demonstram não precisar
mais de seus serviços, pelo menos e por hora à frente do gerenciamento
de seu Estado.
Na verdade, se trata de que a crise do imperialismo e seu reflexo aqui neste país semicolonial/semifeudal — que
o PT e demais oportunistas quiseram dourar como potência emergente,
membro e “liderança do bloco” do futuro poder mundial (Brics) e outras
tolices mais —
atira as diferentes frações das classes dominantes locais numa luta
desapiedada para ver quem vai seguir por cima e quem terá de se
contentar como sócio menor. E esta briga se processa através dos grupos
de poder e as diferentes legendas do Partido Único das classes
dominantes, que se servem das denúncias de corrupção e das campanhas de
moralização. A corrupção como modus operandi
da gestão da coisa pública e as campanhas de moralização como demagogia
para desqualificar o opositor e fazer passar seus promotores por
campeões da honestidade e salvadores da pátria.
Luiz
Inácio, indignado não sem razão, porém sem abandonar seu discurso
manhoso, com palavras bem medidas e na busca de comoção popular, contou,
mais uma vez, sua sina de nordestino que, na infância, por milagre,
escapou da morte. Como se sente e acredita ser um escolhido, fruto de
milagres, narrou os outros nos fatos de ter “obtido um diploma de
torneiro mecânico”, ter adquirido “consciência política e fundado um
partido” e, por fim, “ter sido eleito presidente do país”.
Arrogante,
Luiz Inácio não esconde mal conhecer a história da classe operária
brasileira e de desdenhar o que conhece. Pelo menos acontecimentos — como sobreviver à miséria, obter diploma de curso profissionalizante e adquirir consciência política — tão
comuns nas vidas de milhares de brasileiros pobres e simples, na vida
dele ganha chancela e benção de milagres. Muito antes dele ser inflado
no cenário político como liderança popular, dado seu perfil
anticomunista, milhares de operários foram perseguidos, presos e
torturados por lutarem em defesa dos direitos da classe. Milhares de
dirigentes populares politicamente avançados, ao longo de nossa
história, foram brutalmente eliminados pelos aparelhos repressivos do
velho Estado brasileiro por sua militância comunista revolucionária. No
próximo 25 de março se completarão 94 anos que um grupo de operários
fundou o Partido Comunista do Brasil (PCB).
Além do que os poucos direitos dos trabalhadores —
seja a jornada de 8 horas, direitos a férias remuneradas, salário
mínimo, 13º salário, direito à estabilidade que foi arrancado pelos
milicos, bem como os direitos previdenciários sob o bombardeio de todos
governos e essa imprensa monopolizada nos últimos trinta anos, dentre
outros —
foram conquistas arrancadas com muita luta e os sacrifícios das vidas
de inúmeros autênticos líderes operários, os quais nunca se arvoraram à
ambição personalista de salvador da pátria. Tudo isto se conquistou bem
antes de se cogitar sequer a existência do PT e da CUT. E estes são, de
fato, os únicos direitos dos trabalhadores. Nada de substancial foi
conquistado depois da existência do PT e da CUT, ao contrário, a
ascensão destes ao gerenciamento do velho Estado representou a
desmobilização dos trabalhadores, uma cooptação do movimento sindical
pior que no período varguista e a imposição da ilusão de trocar a luta
combativa por promessas eleitoreiras.
Personalista,
megalômano e egocêntrico, Luiz Inácio acredita piamente ter sido o
“melhor presidente do país”. Com as sucessões de governos reacionários e
medíocres que conformam a história de nosso país, ser o melhor entre
eles não seria nenhuma façanha. Porém, pelos próprios critérios que faz
sua comparação, sequer chega ao pé de um Getúlio Vargas (mesmo tendo
este caudilho sido um tirano aderido ao fascismo por certo período). E
menos ainda no chinelo de um João Goulart, pois Jango sofreu as maiores
sabotagens desde o primeiro dia de governo e nunca chamou usineiros de
heróis. Muito pelo contrário, apoiou os trabalhadores que combatiam
estes sanguessugas. Goulart, mesmo sendo um burguês nacionalista e
vacilante, foi derrubado por um golpe civil militar organizado e
sustentado pelo imperialismo ianque porque, de fato, tentou levar a cabo
o projeto de seu grupo de realizar as “reformas de base”, a começar
pela reforma agrária. Minusculamente, o PT, Luiz Inácio, Dilma, a
cambada oportunista do PCdoB e demais “fisiológicos” armam hoje a
gritaria de “golpe” porque estão a ponto de serem depostos
constitucional e legalmente, por votação do congresso que legitimam como
a mais democrática das instituições.
Nesta
altura dos acontecimentos, ainda que não se conformam, Luiz Inácio e seu
PT já se deram conta que estão colhendo o que semearam. Outro dia mesmo
não eram eles que instigavam o show
midiático-policialesco da prisão com algemas de adversários? Quem não
se lembra da farsa cinematográfica protagonizada pelo governo de Luiz
Inácio, em 2008, quando das prisões de Daniel Dantas, Celso Pitta, Naji
Nahas e outros notórios bandidos pela Polícia Federal? Prisões e
apresentações dos presos algemados, as quais realizadas com o mesmo
espetáculo, filmadas pela própria polícia e com os toques da produção
global.
Apologistas
deste velho Estado, embelezadores desta democracia corrupta e podre,
passaram décadas falando de supostas elites para escamotear e esconder
do povo brasileiro seus verdadeiros inimigos de classe: o imperialismo, a
grande burguesia e os latifundiários. Deve ser o seguinte, que as
elites de que falam são umas “más elites” que disputam o gerenciamento
do Estado com outras “boas elites”, estas com as quais se locupletaram
com as propinas e o erário público. Isto, apesar de eles, Luiz Inácio e o
PT, como os demais governos anteriores, terem proporcionado a todas
elas, inalteradamente, todos os privilégios e os maiores lucros, como
sempre fez questão de gabar-se o milagroso, referindo-se ao seu governo:
“Nunca na história deste país os banqueiros lucraram tanto”.
Por fim,
Luiz Inácio atacou “alguns meios de comunicação” e chegou a nomear a
Rede Globo, para a qual havia se derretido após ter sido eleito
presidente. E, conclamando o PT a reagir e recomeçar do zero, avisou: “Acharam que bateram na cabeça da jararaca, mas bateram foi no rabo…”. Bravata! Ninguém mais do que Luiz Inácio sabe que os militantes do PT — que algum dia tiveram ideias progressistas e mesmo socialistas — ou
já pularam fora do barco pela traição do projeto inicial ou
envelheceram acomodados em altos cargos e burocracias estatais. Não
poucos destes são os novos ricos do país. Os novos membros do PT, os
filiados desde sua ascensão ao topo do velho Estado, entendem outra
coisa por militância. São todos gente direitista, carreirista, todos
ávidos por cargos rendosos. Luiz Inácio sabe que seu PT, longe de ser
uma jararaca, está mais para um capado. Não tanto pela sujeira própria
dos suínos, mais pelo parasitismo deste exemplar. Resta a Luiz Inácio
entender seu papel em tudo isto, já que é ele o grande líder desta
“façanha histórica”, como gosta tanto de jactar-se.
Ao final
aí está o que o PT e todos oportunistas de sua “frente popular”
conseguiram com seu “projeto para o Brasil” via velho Estado genocida e
sua democracia feita de cretinismo parlamentar e negociatas corruptas:
enlamear a honrada legenda da esquerda; conseguiram dar palanque para a
velha direita se levantar. A canalha da extrema-direita, entrincheirada
no meio da grande burguesia, dos latifundiários, das igrejas e também
nas hostes das classes médias, forçam a barra tachando o PT e demais
oportunistas eleitoreiros com a etiqueta de “esquerda” e até mesmo de
“comunista”. Isto constitui num insulto repugnante à verdadeira
esquerda, aos verdadeiros comunistas e à gloriosa memória dos heróis e
heroínas de nosso povo que consagraram suas vidas à causa da
independência nacional, da democracia popular e do socialismo.
Mas todo
este prejuízo não é nada diante da exploração continuada de nosso povo,
da miséria, da opressão, da repressão sistemática e incessante que
suporta nas favelas, bairros pobres e no campo. Mazelas que o PT, Luiz
Inácio e seus compinchas tentaram encobrir com muita propaganda
ilusionista, créditos para endividamento das massas pobres e
programinhas assistencialistas recomendados pelo Banco Mundial, em troca
de votos. Mas a crise se aprofunda e as massas estão se levantando, a
luta continua!
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