Em março de 2013, a Folha de São Paulo publicou o artigo “A nova rota da reforma agrária no Brasil” assinado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário Pepe Vargas e o presidente do Incra Carlos Guedes. Ao ler o subtítulo “A desigualdade caiu mais no campo do que na totalidade do país” já nos perguntamos: de qual país eles estão falando?
Uma série de dados estatísticos vem em seguida: “O
Brasil promoveu a maior política de acesso à terra do mundo em pleno
século 21. Os 87 milhões de hectares destinados à reforma agrária
equivalem em dimensão a 27% das terras agrícolas do país. Eles já
superam, em número e área, o total dos imóveis rurais brasileiros com
extensão superior a 5.000 hectares. Tal atuação, na sua maioria
realizada durante os governos Lula e Dilma, contribuiu
significativamente para a redução da desigualdade de renda no meio rural
brasileiro. No período de 2003 a 2009, a queda da desigualdade foi de
8,3% no campo contra 6,5% na totalidade do país.”
Em março de 2013, a Folha de São Paulo publicou o artigo “A nova rota da reforma agrária no Brasil” assinado pelo ministro do Desenvolvimento Agrário Pepe Vargas e o presidente do Incra Carlos Guedes. Ao ler o subtítulo “A desigualdade caiu mais no campo do que na totalidade do país” já nos perguntamos: de qual país eles estão falando?
Uma série de dados estatísticos vem em seguida: “O
Brasil promoveu a maior política de acesso à terra do mundo em pleno
século 21. Os 87 milhões de hectares destinados à reforma agrária
equivalem em dimensão a 27% das terras agrícolas do país. Eles já
superam, em número e área, o total dos imóveis rurais brasileiros com
extensão superior a 5.000 hectares. Tal atuação, na sua maioria
realizada durante os governos Lula e Dilma, contribuiu
significativamente para a redução da desigualdade de renda no meio rural
brasileiro. No período de 2003 a 2009, a queda da desigualdade foi de
8,3% no campo contra 6,5% na totalidade do país.”
Porém, a realidade que vivemos é bem diferente.
Queremos
aqui fazer um resumo da história da área Paulo Freire 3, em
Seringueiras, que é um exemplo da verdadeira situação agrária no Brasil:
Incra, justiça, polícias e pistoleiros obedecem cegamente as ordens de
latifundiários e reprimem violentamente camponeses pobres que vivem e
trabalham na área onde antes só tinha gado para exportação. Os alimentos
produzidos pelos camponeses ajuda a abastecer a cidade de Seringueiras,
conquistando o apoio de trabalhadores, comerciantes e democratas.
No dia 13 de abril, esta área foi palco de um dos despejos mais absurdos da história de Rondônia,
a mando do juiz federal de Ji Paraná, Flávio da Silva Andrade. Mesmo
sem resistir, as 84 famílias foram atacadas com spray de pimenta, bombas
de efeito moral, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha,
disparados por 200 policiais civis, militares e federais, do GOE e do
Exército. Alguns camponeses foram presos e mesmo estando deitados no
chão, rendidos e algemados, policiais ajoelharam no pescoço deles e
jogaram spray de pimenta em seus rostos. Filhos e esposas presenciaram
tamanha violência. Policiais atiraram em cães dos camponeses sem motivo
algum. 5 pessoas, entre elas 3 crianças, foram hospitalizadas. Crianças e
até adultos ficaram várias noites acordando sobressaltados,
traumatizados com tanto terror.
A polícia, o latifundiário Timiro e seus pistoleiros ficaram na área. Policiais ainda ameaçaram os camponeses: “Cuidado
com o fazendeiro Timiro e seus comparsas que estão lá dentro da
fazenda. Se vocês virem eles, corram, pois nós não responsabilizamos
pelas vidas de vocês”. As famílias, que saíram apenas com a roupa
do corpo, não puderam se aproximar da área nem retirar seus pertences,
sequer roupas para as crianças continuarem estudando. Quando os
camponeses puderam entrar, constataram que botijas de gás, bombas
pulverizadoras, galões de venenos, foices, facões e tambores de leite
tinham sido roubados. Vale também destacar que a liminar de reintegração
permitia apenas a família “de Peder” e os camponeses entrarem na
fazenda.
O despejo não obedeceu o protocolo de
avisar com 48 horas de antecedência o ministério público e outros órgãos
públicos, assim como a OAB e movimentos sociais, medida preventiva de
excessos e violências. Outro absurdo: um dia antes do despejo, a justiça
federal decidiu que dois dos seis lotes que compõem a fazenda, um total
de 800 hectares, foram liberados para o Incra realizar assentamento das
famílias.
Política agrária do governo Lula/Dilma/PT conseguiu a façanha de ser ainda pior que a do governo FHC
Abaixo vamos relatar outros fatos
importantes da atuação do latifúndio, seus bandos armados e seus agentes
no velho Estado na área Paulo Freire 3:
2. Certa vez, um funcionário do Incra
perguntou aos camponeses da área Paulo Freire 3 por que não invadiam
também as fazendas vizinhas, pois nenhuma tem documento, confirmando os
boatos que sempre correram na região. A fazenda Riacho Doce são terras
da União, o título foi ilegalmente emitido pelo Incra para o filho de
Tião Terboi, na época com 12 anos! Hoje, quem está a frente das ameaças e
perseguições aos camponeses é Artemiro Craus, conhecido como Timiro.
Sua participação ativa indica que ele não é um simples arrendatário de
pasto, ele deve ter comprado as terras de Tião, mas não aparece nos
processos. Esta situação nebulosa é muito comum em várias áreas de
conflito agrário. Timiro possui muito gado e outras terras na região,
inclusive uma de mais de 5.000 hectares. Existem boatos de que ele
também tomou o lote de um agricultor vizinho a uma de suas propriedades.
3. Em dezembro de 2012, quando os
camponeses retomaram as terras, capturaram um pistoleiro armado e
filmaram um depoimento dele onde assume que trabalhava para Timiro com a
ordem de matar qualquer camponês que tentasse retomar a fazenda. O
vídeo provava o que as famílias sempre denunciaram, mas nada foi feito.
4. Recentemente, em entrevista na TV, a
Ouvidora Regional dos latifundiários, Márcia Nascimento, disse
cinicamente que havia conflitos entre grupos de camponeses da área. Ela
só não falou que esta é uma prática antiga do Incra: colocar famílias
contra famílias, provocar enfrentamentos entre elas. Em julho de 2012 os
camponeses fizeram uma assembleia e a maioria rejeitou a proposta do
Incra de esperarem a negociação acampados numa área de 200 hectares
oferecida por Timiro. Mesmo sabendo da negativa das famílias, numa
reunião dias depois em Porto Velho, o Ouvidor Nacional dos
latifundiários Gercino José forçou um acordo, que foi aceito por parte
dos acampados, contra a decisão da maioria.
5.
A
Ouvidoria dos latifundiários acompanhou o despejo de setembro de 2012 e
não fez nada para garantir o direito dos camponeses retirar todas suas
ferramentas, materiais, criações e produção. Como sempre, a Ouvidoria
dos latifundiários também não fez nada contra o fato de Timiro manter
pistoleiros na área.
6. A polícia despejou os camponeses 8
vezes, sempre destruindo suas casas, roças e criações. Chegaram a atirar
bala de borracha em mulheres grávidas e crianças. Um senhor acabou
falecendo, porque a polícia não permitiu que seu filho fosse à cidade
buscar o remédio que ele tinha que tomar; quando ele foi socorrido, já
era tarde. O camponês Orlando Pereira Sales, conhecido como Paraíba e
outro camponês foram assassinados. A esposa do Paraíba também sofreu um
grave atentado. Como sempre, nada foi feito.
7. No dia 21 de novembro de 2012, dois
camponeses da área presenciaram uma boiada de Timiro transitando na
BR-429 sendo escoltada por uma viatura da PM. Os camponeses tentaram
fotografar, mas os policiais agrediram um deles com coronhadas, tomaram a
máquina fotográfica e apagaram as fotos.
8. A Promotora de São Miguel não
permitiu a prefeitura arrumar a estrada para que o escolar pudesse
entrar na área e transportar as crianças para a escola. Quando chove, a
estrada fica péssima, até de moto é difícil transitar. Algumas crianças
chegam a andar até 12 Km para pegar o escolar. Duas vezes uma criança
desmaiou na estrada.
10. A justiça federal determinou que
quase 70% da fazenda deve ser retomado ao latifundiário e apenas 800
hectares deve ser entregue ao Incra para distribuir às 84 famílias
camponesas.
11. Fábio da Fetagro trabalhou na área
para convencer os camponeses a abandonarem seus lotes, ficarem acampados
numa área alagada até o Incra negociar as terras. Os camponeses não
aceitaram e Fábio disse aos camponeses, comerciantes e políticos de
Seringueiras, que a LCP era uma organização criminosa. Os camponeses
dizem: “Não pode ser bandido quem nos incentiva a trabalhar nas terras”
Onde existe opressão, existe resistência
Uma vez, as famílias prenderam um ônibus
e uma combi escolares, das redes municipal e estadual de educação. Com
este justo protesto conseguiram que o escolar entrasse na área, mesmo só
no período da seca, pois a estrada nunca foi arrumada adequadamente,
foi uma conquista importante da união e combatividade dos camponeses.
Mas as famílias sempre se reorganizaram,
retomaram as terras e reiniciaram a produção, pois a necessidade é
maior que a repressão, assim como e certeza da justiça da luta sagrada
pela terra para quem nela trabalha. Assim como milhões de camponeses que
lutam nos 4 cantos do Brasil, os bravos camponeses da área Paulo Freire
3 necessitam e contam com o apoio desinteressado de trabalhadores das
cidades, pequenos e médios comerciantes, intelectuais honestos,
entidades e pessoas democratas.
O povo quer terra, não repressão!Terra para quem nela vive e trabalha!
Conquistar a terra, destruir o latifúndio!
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