Vinicius Alves.
AND nº 178, primeira quinzena de outubro.
Nos meses de agosto e setembro,
cercos policiais, criminalização da luta pela terra, agressões, prisões e
assassinatos de lideranças camponesas foram amplamente denunciadas e
rechaçadas pelos camponeses em luta pela terra em Rondônia.
A gerência estadual de
Confúcio Moura (PMDB), aliada ao comando geral da Polícia Militar (PM)
de Rondônia, encabeçada pelo coronel Ênedy Dias de Araújo, tem se
caracterizado pela intensificação na repressão à luta pela terra e ao
movimento camponês, além da conivência com os crimes praticados por
latifundiários e seus bandos de pistoleiros. Todas as mortes de
camponeses que ocorreram em 2015 e 2016 não foram devidamente apuradas
nem seus responsáveis julgados.
À medida em que a escalada de repressão
contra o movimento camponês se intensifica, a resistência das massas se
impõe. O movimento camponês combativo eleva os seus graus de
mobilização, politização e organização para fazer frente ao terror
praticado pelo conluio do velho Estado com o latifúndio, anunciando que
nada deterá a luta pela destruição do latifúndio e a tomada de todas as
suas terras.
Lideranças camponesas assassinadas
Na manhã de 13 de
setembro, Edilene Mateus Porto, de 32 anos, e Izaque Dias Ferreira, de
34, foram executados quando se deslocavam de moto de sua moradia para
trabalhar no lote de terra que possuíam na Área Revolucionária 10 de
maio, no município de Alto Paraíso.
O casal foi brutalmente assassinado por disparos de espingarda calibre 12 e deixou uma filha de seis anos de idade.
O assassinato das duas lideranças segue um determinado modus operandi
com marcas de barbaridade, já que a cabeça de Izaque foi destroçada por
um disparo à queima-roupa. Ao menos seis dirigentes camponeses foram
assassinados do mesmo modo no estado nos últimos anos.
Edilene e Izaque, como a maioria dos
camponeses pobres de Buritis e do estado de Rondônia, conquistaram o seu
pedaço de terra lutando. O casal participou desde o início da luta no
então Acampamento 10 de maio, integrando comissões de moradores,
frequentando ativamente atos, reuniões e audiências públicas em
Ariquemes, Buritis, Monte Negro, Porto Velho e até Brasília, além de
ter participado dos congressos da LCP.
Tendo em vista a sua destacada atuação no
Acampamento, Izaque foi eleito coordenador pelo 6º Congresso da LCP,
ocorrido em 27 e 28 de setembro de 2014, no município de Jaru.
Conforme nota da LCP, divulgada na página Resistência Camponesa,
o casal lutou pelos direitos dos camponeses, como transporte escolar
para os jovens da Área 10 de maio, bem como participou da resistência
das famílias contra as frequentes tentativas de reintegração de posse.
Roteiro da morte
Segundo a mesma nota, a morte de Edilene e
Izaque foi anunciada, pois, assim como outras lideranças camponesas,
receberam ameaças de morte por parte de latifundiários, pistoleiros e
policiais e, em 29/12/2014, sofreram uma tentativa de assassinato, dias
depois de participarem de uma audiência da Ouvidoria Agrária Nacional,
em Porto Velho, onde denunciaram crimes praticados por PMs do município
de Buritis.
O assassinato do casal repete o “roteiro da morte”, já denunciado por AND,
em que camponeses vão aos representantes do velho Estado, denunciam as
ameaças, cobram a regularização de suas posses e depois são assassinados
vítimas de tocaias.
As ameaças contra as vidas de Edilene e
Izaque, segundo a LCP, já haviam sido denunciadas e eram de conhecimento
dos órgãos do velho Estado como a Ouvidoria Agrária Nacional, que nada
fez novamente.
Área Revolucionária 10 de Maio
A Área Revolucionária 10 de maio situa-se
na fazenda Formosa, terras públicas que chegaram a ser desapropriadas
pelo Incra para fins de “reforma agrária”, em 1995, mas foram griladas
pelo latifundiário Caubi Moreira Quito.
Os camponeses tomaram a fazenda pela
primeira vez em 2004, sofrendo consecutivos despejos por parte do
judiciário e dos latifundiários, mas sempre resistindo e retomando o
latifúndio.
Em 2014, as famílias cortaram as terras
por conta própria, distribuindo os lotes e iniciando a construção de
casas e lavouras. O Acampamento passou a ser denominado de Área
Revolucionária 10 de maio, onde os camponeses vivem, produzem e lutam em
seus lotes.
Em 2016, já foram assassinados quatro
membros da Área 10 de maio. No dia 24/04, os irmãos Nivaldo Batista
Cordeiro e Jesser Batista Cordeiro foram mortos quando saiam de moto da
área, seus corpos foram lançados sobre o Rio Candeias.
Conforme nota da Comissão Pastoral da
Terra (CPT), existiria uma lista com nomes de integrantes da LCP a serem
executados, sendo que muitos que integram essa lista já foram mortos.
O sangue será uma semente
Na nota, a LCP
destaca que a ofensiva do velho Estado – representado nas figuras de
Confúcio Moura (PMDB) e do coronel Ênedy Dias de Araújo – e do
latifúndio contra os camponeses não paralisarão a luta pela terra e a
Revolução Agrária. Pelo contrário, as fortalecerão, fortificando o ódio
dos camponeses contra os seus algozes.
Polícia é rechaçada por camponeses
No dia 22/09, os
camponeses da Área Paulo Freire IV, em Seringueiras, e a LCP de Rondônia
e Amazônia Ocidental, celebraram com uma série de atividades os nove
anos da posse das terras tomadas do latifúndio.
De manhã ocorreu uma
passeata no centro do município, onde os camponeses estenderam faixas,
distribuíram panfletos, entoaram palavras de ordem e realizaram falas
conclamando o povo a participar e a apoiar a Revolução Agrária, sendo a
passeata saudada pela população local.
Pela tarde, os camponeses realizavam um ato político na área, quando receberam a notícia de que a PM fazia uma blitz
nas proximidades, procedimento este, do qual não faltam denúncias de
abusos de autoridade e apreensões ilegais, como parte da política de
criminalização e perseguição costumeiras contra os camponeses da região.
Foram informados ainda de que a moto de um camponês que participava da
comemoração havia sido apreendida. As notícias motivaram a revolta dos
presentes, que se dirigiram até o local e não permitiram a apreensão do
veículo.
Intimidados e sob os gritos de “Fora
daqui, PM assassina!”, os policiais solicitaram o reforço de outra
viatura, mas os camponeses não se amedrontaram e avançaram sobre estes,
em repúdio à descarada provocação, forçando-os a refugiarem-se nas suas
guarnições e recuar. Os PMs foram forçados a conduzir suas viaturas de
marcha ré por cerca de 800 metros, sob uma chuva de pedaços de madeira e
pedras lançadas pelos camponeses, atestando a autoridade das massas,
que não abaixam a cabeça frente a toda essa política fascista e
criminalizadora do velho Estado.
Camponês executado
O camponês Sebastião Pereira dos Santos,
de 39 anos, do Acampamento Jhone Santos, foi executado por pistoleiros
no município de Vale do Paraíso. O ataque ocorreu na noite de 27/09,
quando dois homens chegaram à casa da vítima e um deles, armado com um
revólver, efetuou sete disparos contra Sebastião, acertando seis. A
companheira do camponês ainda entrou em luta corporal com o atirador,
tentando evitar o assassinato, mas foi agredida e ameaçada de morte.
Sebastião foi levado para o Hospital Regional de Ji-Paraná, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu na manhã de 28/09.
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