Friday, September 16, 2022

Elizabeth II: legado de saques, opressão e exploração - a nova democracia - brasil


Monarquia inglesa, apêndice da burguesia imperialista, é peça-chave na legitimação do imperialismo inglês e dominação de classe na Inglaterra. Foto: Banco de Dados AND

Elizabeth II, rainha da decrépita monarquia britânica, morreu em 8 de setembro, após 96 anos de vida baseados em saques imperialistas e opressão e exploração dos povos oprimidos de todo o mundo. 

Enquanto os líderes das potências e superpotências imperialistas e os porta-vozes da burguesia (monopólios de imprensa) rondam a morte da anciã do imperialismo inglês com debates sobre o “futuro da nobreza” e o seu legado de “descolonização”, deixam de lado todo seu papel na legitimação do regime imperialista e exploração dos povos oprimidos, em especial da Ásia, África e Caribe e América do Sul. As torturas e mutilações contra os insurgentes que lutavam contra a dominação inglesa no Quênia, o apoio e financiamento do Apartheid na África do Sul e o apoio à Guerra do Iraque são alguns dos poucos crimes hediondos cometidos pela cabecilha da nobreza britânica, fatos que os monopólios de imprensa e figurões do imperialismo, que compactuam responsabilidade nas atrocidades, “esqueceram” de mencionar. 

A nova primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, declarou que Elizabeth II é uma inspiração para ela. Já o ex-primeiro-ministro do país, Boris Johnson, que saiu desmoralizado do governo em meio à grave crise no Reino Unido, declarou que o dia da morte de Elizabeth II foi o dia mais triste do país. O ex-presidente do Estados Unidos (USA), Barack Obama, que conduziu dez vezes mais ataques de drones a países oprimidos que George Bush, declarou se sentir grato por ter testemunhado a liderança da “rainha”. Já Donald Trump, outro ex-presidente do USA, mencionou em nota sobre o “tremendo legado de paz e prosperidade para a Grã-Bretanha” que marcou o regime da monarca. O atual presidente do USA, Joe Biden, deixou suas condolências à “família real”. 

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, manifestou sua “profunda admiração por uma mulher de grande personalidade cujo senso de dever e devoção deixou, ao longo de mais de sete décadas de reinado, um legado de liderança e estabilidade para o povo britânico e para o mundo”. 

Elizabeth II e a política semicolonial do imperialismo inglês

Rainha Elizabeth cumpriu papel fundamental na dissimulação do imperialismo inglês. Foto: Charge de Latuff/MintPress/Brasil247

Elizabeth II assumiu o trono inglês em 1949, período após a 2ª Guerra Mundial em que a Inglaterra se encontrava em grave crise e o USA alçava ao posto de superpotência a partir da expansão artificial de crédito para conceder empréstimos bilionários às potências europeias arrasadas no pós-guerra.

Um outro elemento importante desse contexto é o embrião do crescimento dos movimentos de libertação nacional pelo mundo, principalmente devido à atuação da União Soviética dirigida pelo grande Stalin e o desenvolvimento de Partidos Comunistas por todo mundo que foram determinantes nas lutas dos povos oprimidos, expresso nos anos anteriores à 2ª Guerra Mundial através da política de Frente Única Mundial contra o nazifascismo. Essa política e o apoio dado pela União Soviética aos países oprimidos fez crescer, no seio do povo dessas nações, as aspirações de libertação do jugo do colonialismo que viriam a se concretizar com as diversas guerras de libertação nacional que tomaram forma na década de 1960. 

Enfraquecido após o conflito interimperialista e sob a pressão dos movimentos de libertação nacional, o Reino Unido é obrigado a mudar o caráter de suas colônias a fim de conseguir manter o domínio do seu capital financeiro sobre esses países. O Império Britânico foi substituído pela Comunidade Britânica das Nações (British Commonwealth of Nations), e parte das colônias do Reino Unido passaram ao estado de semicolônias, saindo do domínio exclusivo da Inglaterra para a exploração de vários países, que competem entre si pelas matérias-primas e mercado do país oprimido. Assim, a comunidade, que existia desde 1926, passou a constar na Declaração de Londres no ano de 1949. 

A Comunidade das Nações, como é conhecida hoje, é composta de 53 países (51 dos quais faziam parte do Império Britânico) e possui como símbolo o “Chefe da Comunidade das Nações”, cargo que foi ocupado por Elizabeth II até a sua morte e hoje ocupado pelo novo cabecilha da nobreza,  Charles III. Dentre os 53 países que compõem a organização, existem ainda 16 que constituem os “reinos da Comunidade das Nações”. São países como Antígua e Barbuda, Canadá, Belize, Bahamas, Jamaica e Tuvalu, que, como parte dos resquícios do sistema feudal e como forma de legitimar ideologicamente o imperialismo inglês são submetidos a reconhecerem o monarca da Inglaterra como chefe de Estado.

Hoje, empresas britânicas controlam mais de R$ 5,1 trilhões de reais no continente africano. Os países da Comunidade das Nações servem diretamente ao imperialismo inglês: com a influência política e econômica, a Inglaterra pode financiar regimes semicoloniais neste países, facilitando a introdução e domínio do capital financeiro inglês; ademais, a legislação da Comunidade das Nações facilita a existência de baixas taxas de impostos sobre as sociedades e a existência de paraísos fiscais para a Inglaterra. Os países africanos perdem bilhões de reais anualmente por conta dessas isenções. Em 2015, em torno de R$ 1 trilhão foi extraído da África por meio de “repatriação” dos lucros de multinacionais e movimentações ilegais em paraísos fiscais. O dado é de uma análise de 2017 feita por organizações britânicas e africanas, como a Global Justice Now. Nessa relação, o governo britânico tem responsabilidade especial, uma vez que atua como chefe de diversas das redes dos paraísos fiscais.

Elizabeth II visita Banco da Inglaterra, que guarda centenas de milhares de barras de ouro frutos da espoliação imperialista. Foto: Eddie Muholland/WPA Pool

Em 2014, quando em torno de 14 países do Caribe passaram a exigir a medida reformista de reparação histórica à Inglaterra pela colonização, a legislação da Comunidade das Nações foi usada pelo país europeu para negar suas obrigações. 

Tal é o verdadeiro caráter da Comunidade das Nações e da “descolonização” realizada por Elizabeth II, alardeada aos quatro ventos pelos chefes do imperialismo e pelos monopólios de imprensa. 

A monarquia inglesa e a mistificação da luta de classes

O papel ideológico e político nefasto que cumpre a monarquia inglesa não é exclusivo aos povos dos países oprimidos, mas também ao próprio povo inglês. Desde o século XVII, quando a Inglaterra passou pela Revolução Inglesa e a burguesia inglesa ascendeu como nova classe dominante, a nobreza e os latifundiários como classe  perderam a hegemonia no poder do Estado. Apesar disso, diferentemente de países como a Alemanha e a França, em que as revoluções burguesas aboliram a monarquia, a revolução inglesa, que as antecedeu, sofreu várias restaurações monárquicas e a burguesia optou por conservar a nobreza, respeitando uma fração de seus interesses e aburguesando-a, deslocou-a do centro do Poder político e converteu-a em seu apêndice de dominação. 

Dali em diante, até hoje, a monarquia inglesa cumpre um papel ideológico fundamental na dominação de classe na Inglaterra, forjando uma fantasiosa unidade  na sociedade britânica ao legitimar o ideal chauvinista de uma “nação inglesa” e uma “cultura britânica” personificadas no monarca da vez, buscando colocar em segundo plano a luta de classes. 

Segundo a imprensa revolucionária Red Voice Media, esse papel ficou claro durante as décadas de 1980 e 1990, quando os acontecimentos da vida pessoal da “princesa” Diana foram usados para distrair as massas operárias dos protestos e greves que ocorriam na época. Agora, a morte de Elizabeth II já começa a ser utilizada para desviar o foco dos trabalhadores da grave crise econômica e política do Reino Unido. Após o anúncio da morte da monarca imperialista, centrais sindicais conciliadoras, como a União Nacional dos Trabalhadores Ferroviários, Marítimos e de Transporte (RMT, sigla em inglês), cancelaram uma greve marcada para os dias 15/09 e 17/09, sob a justificativa de um “luto nacional”. A luta de classes, assim, é subjugada ao ideal reacionário de nação, legitimado pela monarquia inglesa.

Revisionismo inglês: atacar a monarquia para deixar impune o Estado burguês

Um segundo ator na mistificação da luta de classes é o revisionismo inglês. Este setor aproveita do sentimento de rejeição da monarquia por uma parte significativa do povo britânico – em torno de 31% dos jovens britânicos querem a abolição da monarquia – para atacar a monarquia de uma forma que mantenha vigente o inimigo dos povos do mundo e do povo britânico: a burguesia imperialista britânica e o Estado imperialista inglês. 

Ao atacar exclusivamente a monarquia, caracterizando-a somente como uma “instituição antiquada”, o revisionismo deixa de lado o papel ideológico que cumpre de manter intacto o sistema econômico imperialista inglês. Ao direcionar o povo para pautas como a “nacionalização das terras da monarquia”, o revisionismo não menciona que, sob o imperialismo, a nacionalização de tais terras não passaria de uma transação de posse entre diferentes setores da burguesia: da monarquia inglesa para o Estado imperialista burguês.

O mesmo é realizado no que tange às políticas do imperialismo inglês em relação aos países oprimidos. Frequentemente, a pauta de “reparação histórica” é levantada pelos revisionistas, seja pelo revisionismo inglês, seja pelo revisionismo nos próprios países oprimidos. Segundo o portal Red Voice Media, “a questão da redistribuição e reparação da riqueza para as colônias ofusca a verdadeira natureza do imperialismo. O imperialismo britânico não apenas extraiu riqueza de outras nações, e não apenas de colônias diretas, mas esta riqueza foi exclusivamente ‘roubada pela família real’? Claramente não, o imperialismo foi levado a cabo pela burguesia monopolista britânica, nas costas das nações oprimidas e do proletariado britânico”. 

A monarquia e a burguesia imperialista inglesa

O portal revolucionário Red Voice Media afirmou, na publicação A Morte da Rainha Elizabeth: um apêndice da burguesia,, que “a questão central é que a Inglaterra é um Estado burguês; podre até o seu núcleo. É uma nação em que os problemas só podem ser resolvidos por uma guerra popular dirigida pelo proletariado”. Em relação aos países coloniais e semicoloniais, o portal afirmou que a revolução socialista no país deve “renunciar todos os tratados que o Estado burguês assinou, cessar imediatamente a exploração imperialista militar e política, aplicar uma política internacionalista de auxílio às justas lutas de libertação nacional ao redor do mundo”. 

Os reacionários de todo o mundo, e em especial a burguesia monopolista inglesa, buscam usar a morte de Elizabeth II para desviar a atenção da crise geral sem precedentes do imperialismo e fazer o povo inglês e os povos oprimidos se solidarizarem com seus algozes. Falham e continuarão a falhar. Em todo o mundo, e sobretudo nas colônias e semi-colônias britânicas, as massas celebram a morte da decrépita e declaram seu repúdio a toda a monarquia inglesa e ao Estado imperialista. 

 

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