SINAL DOS TEMPOS
7.6.15
IGOR MENDES -
Fiquei estarrecido ao assistir a
notícia sobre o afastamento do desembargador Siro Darlan das funções que desempenhava à frente da coordenação jurídica das varas
da infância, da juventude e do idoso e também da comissão de adoção
internacional. Afastamento que resultou de decisão unilateral do presidente do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que não escondeu em tratar-se de um ato
político: Siro Darlan foi deslocado por discordar da “orientação, pensamento
filosofia de trabalho da atual administração”. Foi citada, ainda, na referida
decisão, mensagem veiculada pelo desembargador em seu facebook, do dia 17-05
último, na qual criticava a criação de um novo auxílio para os magistrados,
relacionado à educação dos seus filhos.
Siro Darlan, provavelmente a mais
gabaritada referência que temos nos assuntos relativos ao Estatuto da Criança e
do Adolescente, é afastado em meio à cruzada movida pelos monopólios de
imprensa a favor da redução da maioridade penal- medida apoiada por políticos
corruptos e ineptos, como estes que governam o estado do Rio, que tentam jogar
sobre as costas dos outros os efeitos de sua própria incompetência. Não é
coincidência.
Não espanta que essas
arbitrariedades sejam cometidas. Mas o fato de serem praticadas assim de modo
tão descarado é absolutamente alarmante. O recado é claro: ou curvar-se diante
do pensamento único, ou sucumbir. O que há de democrático na nossa sociedade
que aceitará esse rolo compressor? Sairá da arena sem luta? Ou vamos, cada um
na sua seara, de acordo com nossas possibilidades, opor resistência?
Ouso dizer que Siro Darlan não
foi afastado pelos pares do Tribunal, não apenas- há alguns dias Luis Fernando
Pezão declarou que a polícia prende (referia-se a menores de idade), mas
“alguns desembargadores soltam”. Para bom entendedor, meia palavra basta. Por
aí se vê até onde vai a tal “independência” dos poderes. Declaração aquela, aliás,
que revela crassa ignorância: do ponto de vista legal, como bem lembrou
recentemente o ministro do STF, Marco Aurélio, quem prende e solta é o
judiciário, somente. Pretender algo distinto é assumir sem pudor o Estado de
Polícia, para o qual caminhamos a passos largos.
*
A Delegacia de Homicídios, que
havia dado por “encerrado” o caso do médico na Lagoa, com o aplauso da imprensa
sanguinolenta, expert em condenar sem julgamento, teve que engolir depoimento
de um novo jovem, que desmentiu a farsa até então montada. No dia 02-06 um
adolescente foi espancado até a morte nas dependências do DEGASE- e dizem que
são “brandas” as condições (desumanas) em que essas pessoas são mantidas!
É cada vez mais difícil assistir
ao noticiário, mas não temos tempo para ficar com o estômago embrulhado. É
preciso ir à luta!
A propósito:
Será que ocorrerá, na cadeia, o
encontro que seria histórico entre os ativistas do movimento “não vai ter
Copa!” e alguns políticos e dirigentes da CBF, envolvidos até o pescoço no mar
da lama da FIFA? Duvido muito. Dilapidar o patrimônio público, através de obras
superfaturadas e propinas, não costuma gerar punição no nosso país- Maluf que o
diga. Protestar contra esse estado de coisas, sim.
Rio,
04 de Junho de 2015. 183 dias de detenção.
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