Ano XII, nº 122, 1ª quinzena de
Dezembro de 2013
Núcleo
de Estudos do Marxismo-leninismo-maoísmo
Selo
da Alemanha Oriental homenageando Ewert.
Há 78 anos, o Partido Comunista do Brasil, apenas treze anos após sua
fundação, empreendeu um dos feitos mais importantes da história de nosso país e
do movimento comunista brasileiro. Na luta por assimilar o marxismo-leninismo e
para superar a herança anarco-sindicalista da maioria de seus fundadores e as
concepções obreiristas e economicistas, o partido se defrontará com o desafio de
compreender a realidade peculiar dos países dominados pelo imperialismo, para
desencadear a luta armada com o objetivo de cumprir a missão histórica do
Partido Comunista: a conquista do poder para o proletariado para promover a
revolução agrária e a democracia popular, libertar o país da dominação
imperialista e construir o socialismo.“Novembro de 1935 projetase em nossa vida política como importante divisor de águas. A partir de então, a contenda entre as forças progressistas e as reacionárias, em torno das mesmas questões e tarefas básicas, se aguça, sempre mais. Assustados pelo que consideram o mais terrível dos precedentes, os inimigos do povo — a grande burguesia e os latifundiários, associados ao imperialismo, tendo à frente as Forças Armadas — decidiram impedir por todos os meios que o feito se repita.”
As palavras do grande dirigente comunista Pedro Pomar no artigo A gloriosa bandeira de 1935, publicado no jornal do partido A Classe Operária nº 102, em novembro de 1975, por ocasião do 40º aniversário do levante popular revolucionário, tem grande vigência nos dias atuais, sobretudo com a persistência da resistência camponesa e após as tormentosas jornadas de lutas populares desatadas em meados deste ano.
O camarada Pedro Pomar redigiu este artigo no momento mais maduro de sua militância comunista. Ele, que ingressou nas fileiras do Partido Comunista do Brasil em 1932, vivenciou a efervescência dos preparativos e combates do Levante Popular de 1935 e foi alvo das perseguições que se seguiram à sua derrota. Participou diretamente da reorganização do partido no início dos anos de 1940, o qual fora desmantelado quase que por completo pelo fascismo estadonovista. Pomar atuou destacadamente da ruptura com o novo revisionismo capitaneado por Prestes e para a reconstrução do partido em 1962, da defesa do Pensamento Mao Tsetung, da guerra popular prolongada como caminho da revolução brasileira, de sua preparação e deflagração. A heroica Guerrilha do Araguaia no final dos anos de 1960 e início dos de 1970 foi combatida pelo regime militar instalado pelo golpe de 1964 com a maior mobilização de tropas e meios de guerra depois da II Guerra Mundial. Sua derrota abriu uma titânica luta no partido e Pomar não abriu mao de um justo balanço daquela experiência e por uma profunda autocrítica sobre a concepção e método nela aplicados, para superar os erros e seguir com a guerra popular.
O balanço de Pedro Pomar sobre o Levante Popular de 1935, 40 anos depois de seu acontecimento, foi base segura para o balanço do Araguaia. E, portanto, resultado do acúmulo de décadas de experiência, estudo e luta do mais capaz e mais destacado dirigente comunista, que mais compreendeu e encarnou a ideologia do proletariado, o marxismo-leninismo-pensamento Mao Tsetung (como era denominado o Maoísmo à época), desta última etapa da história do PCB.
AND já tratou, em edições anteriores, com bastante propriedade do tema. Gostaríamos de nos ater a alguns pontos fulcrais da análise de Pomar sobre o Levante Popular de 1935, que consideramos fundamentalmente corretos e que podem servir de grande lições para as futuras batalhas de nosso povo.
A aplicação mecanicista das teses da IC fica expressa tanto na abordagem na análise de classes e programa da revolução, quanto à forma que o movimento revolucionário deveria tomar para o seu êxito. Daí a concentração do movimento revolucionário nos centros urbanos e os planos de assalto ao poder via insurreição. Fica expressa a visão dogmática da direção do Partido sobre a Revolução Bolchevique, bem como a desinformação e incompreensão da experiência revolucionária na China, revelando sua completa subestimação do campesinato como força decisiva na revolução no Brasil.
Segundo Pomar: “Não obstante, a política do Partido e seu trabalho de frente-única padeceram de sérias debilidades. Ao fazer esforços para expandir a Aliança entre as massas urbanas, não soube estendê-la ao campo. A mobilização dos camponeses continuava subestimada. Nesse período, no entanto, o inolvidável Harry Berger¹ insistiria na importância da atividade entre as massas rurais. Berger, dirigente comunista alemão que a Internacional Comunista incumbira de ajudar a luta dos trabalhadores brasileiros, assim que chegou ao Brasil passou a estudar pessoalmente a experiência do surgimento das Ligas Camponesas e de guerrilhas na região do Baixo São Francisco, em Alagoas.
Argumentava que ‘enquanto os comunistas não se ligassem às massas camponesas e conquistassem seu apoio, seria impossível obter a vitória bem como a direção do movimento revolucionário pelo proletariado’. Aliás, não era outra a orientação da III Internacional. Dimitrov, em seu informe ao VII Congresso, esclarecendo o sentido concreto que devia ter a frente-única nos países submetidos ao imperialismo, e particularizando nosso país, dizia: ‘No Brasil, o Partido Comunista, que construiu uma base correta para o desenvolvimento da frente-única com a fundação da Aliança Nacional Libertadora, deve fazer o máximo de esforços para estender ainda mais esta frente e atrair, antes e acima de tudo, as massas de milhões de camponeses com o propósito de orientá-las na formação de unidades do exército popular revolucionário devotado até o fim ao estabelecimento do poder da Aliança Nacional Libertadora’.”
Cabe porém destacar, humildemente, algo que o camarada Pomar não considerou: no mesmo período destes acontecimentos no Brasil, ocorria a Grande Marcha na China (de 1934 a 1936). As ideias do Presidente Mao Tsetung sobre a guerra popular e o cerco da cidade pelo campo triunfariam no Partido Comunista da China, em janeiro de 1935, na reunião ampliada do Birô Político em Tsunyi. Sob a justa direção do Presidente Mao Tsegung, o Partido Comunista da China estabelecera uma correta linha de massas, a partir da qual se impunha a necessidade de realizar as relações com setores da burguesia (pequena burguesia e média burguesia ou burguesia nacional) na base da unidade e luta, de tomar o campesinato como força principal na revolução democrática e de avançar com a guerra popular como guerra de libertação antijaponesa.
Harry Berger inclusive, “durante os cursos de formação política, fazia brilhante exposição a respeito da revolução na China, onde estivera antes, explicando as razões da hoje chamada Grande Marcha, quando o exército de Mao Tsetung e Chu-Te se deslocaram para o interior, onde se encontravam acuados pelas tropas de Chiang Kaichek a fim de postar-se na retaguarda das tropas invasoras do Japão, colocando estas entre dois fogos e organizando assim o que se denominara Guerra de Resistência anti-japonesa, que propiciara a organização do Governo de Coalizão em Tchumking” ².
Convicto defensor da luta armada, após proceder a sua rigorosa análise das falhas e debilidades do partido na condução do Levante Popular de 1935, transbordando otimismo revolucionário, o camarada Pomar conclui:
“A importância extraordinária da insurreição de 35 reside no fato de que pela primeira vez situou em forma concreta, em termos práticos, para os militantes comunistas e as forças populares, a tarefa da preparação e do desencadeamento da luta armada. Por isso, nosso Partido, procurando generalizar essa magnífica experiência e outras já vividas nesse terreno pelo povo brasileiro, e à luz dos ensinamentos do marxismo-leninismo, concluiu que o método provado para alcançar o triunfo é o da guerra popular, da guerra revolucionária das massas. Com base nessa concepção, o Partido orienta seu esforço, preparando-se para a luta armada. Só assim, estará em condições de realizar, junto com as massas e na devida oportunidade, ações de envergadura, capazes de vencer a violência das forças contrarrevolucionárias”.
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[1] Arthur Ewert (verdadeiro nome de Harry Berger), um dos quadros da IC destacados para dar suporte ao processo revolucionário em curso no Brasil. Preso após a derrota do Levante Popular de 1935, Berger foi submetido as mais bárbaras torturas que se tem notícia e resistiu bravamente até perecer de suas faculdades mentais. Ele passou 13 anos preso no Brasil e faleceu no hospital psiquiátrico na Alemanha em 1959.
[2] Lima, Heitor Ferreira. Caminhos percorridos – memória de militância. São Paulo, Brasiliense, 1982. Pg. 200.
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