Saturday, July 30, 2016

Brasil - Trotskystas em crise


Igor Mendes
Merece algumas palavras a recente ruptura ocorrida nas fileiras da organização sindical-eleitoreira, reformista, PSTU. Pelo que lemos no Manifesto da “nova organização”, não se pode esperar dela nenhuma novidade, mas apenas as mesmas velharias sobre utilização das eleições, frente de esquerda, etc, etc.
Novo ciclo da luta de classes
Temos destacado que se abriu, a partir das Jornadas de Junho de 2013, um novo ciclo da luta de classes no País. O fracasso do gerenciamento petista é o traço distintivo, a chave para entender toda a situação política atual. Mais que isso: com o PT fracassou, na verdade, todo o oportunismo, fracassaram as diferentes correntes “socialistas” que, de um modo ou de outro, compartilham com o PT as mesmas origens e as mesmas ilusões com a democracia burguesa-latifundiária.

PSOL, PSTU, PCO e outros agrupamentos estiveram na gênese do PT, que fundaram e construíram. Jamais apresentaram qualquer autocrítica sobre seu papel na criação deste partido operário-burguês, ao contrário, insistem em embelezar tal experiência como “progressiva”. O discurso sobre “revolução socialista já!” e toda sorte de frases grandiloquentes, que aquelas correntes entoam mais ou menos a depender das circunstâncias, jamais encontrou correspondência com sua prática, legalista e eleitoreira, como ficou comprovado no curso das Jornadas de Junho. Não espanta, portanto, que o crescente rechaço das massas à farsa eleitoral (e ao petismo) venha estreitar ainda mais suas possibilidades de atuação e perspectivas, abrindo crises em seu meio.
Um beco sem saída
Sua divergência fundamental deu-se em torno da atitude a adotar perante o impeachment e a ascensão de Temer. O grupo que rompeu defendia a participação nos atos da “Frente Povo sem Medo” e a adoção do “Não ao impeachment” como palavra-de-ordem central para o período. A direção nacional do PSTU, ao contrário, diz que a “maioria do partido rechaçou esta posição por considerar que o ‘Não ao impeachment’ e a participação em atos da Frente Povo Sem Medo significava, na prática, a mesma postura política da campanha contra o suposto golpe, deflagrada pelo PT para tentar manter Dilma no governo. A Frente Povo Sem Medo, encabeçada pelo MTST e o PSOL, foi simplesmente a ala esquerda da campanha pelo ‘Fica Dilma’”.
Devemos reconhecer que o grupo que rompeu é mais coerente com a prática anterior do próprio PSTU. Porque, ao longo de anos, que fez este partido senão atuar, de fato, como “ala esquerda” do petismo, embora encobrindo sua posição com “chamados” e apoios “críticos”? Nas Jornadas de Junho e seus desdobramentos portaram-se abertamente como linha auxiliar do PT, fazendo vergonhosamente coro com a reação na condenação da “violência” nos protestos, tachando de “vândalos” a juventude combatente, chegando ao cúmulo de denunciar para a polícia a FIP e o MEPR (que já estavam no centro da ação repressiva do Estado) como autores de um suposto “atentado” à sua sede – o que nunca provaram, nem legal nem politicamente. Enquanto as massas enfrentavam a Tropa de Choque, eles convocavam atos com a Força Sindical e outras centrais sindicais pelegas.
Em 2014, embora prometessem que “Na Copa, vai ter luta” – para diferenciar-se do rebelde “Não vai ter Copa!” surgido nas ruas – participaram da operação-desmonte de todas as lutas que preocupavam o governo. Traíram, dias antes da abertura do Mundial, as greves de duas categorias estratégicas, no caso, metroviários de São Paulo e rodoviários no Rio.
Essa postura valeu-lhes o rechaço por parte do conjunto do movimento popular e, particularmente, da nova geração de ativistas que despertou para a luta neste período. Agora, quando o afundamento do PT é um fato, dizem ser “contra todos”, tentando em vão recuperar o prejuízo. A luta educa e, afinal, no curso dela, as massas aprendem a julgar as organizações não pelo que prometem ou dizem de si mesmas, mas pelos seus atos, afastando-se cada vez mais do oportunismo.
Crise do marxismo ou crise do oportunismo?
O setor que rompeu fez diversas referências à “marginalidade” e incapacidade da “esquerda” em dar respostas ao atual período histórico. Particularmente significativo é o trecho abaixo:
“A crise e posterior falência estratégica do PT, tão evidentemente demonstrada nas jornadas de Junho de 2013 e no episódio do impeachment, colocam para a esquerda marxista brasileira o dilema de sua própria crise, de sua própria marginalidade, de sua própria fragmentação. Os calendários eleitoral e sindical não comportam mais as lutas que vêm ocorrendo. É preciso uma saída estratégica. É nesse sentido que precisam trabalhar os marxistas revolucionários”. (Grifo meu).
Há aqui dois pontos que queremos destacar. O primeiro, é que tomam a crise do PT como reveladora de sua própria crise, reconhecendo assim a tese que temos sustentado de que tem fracassado e chegado ao fim a época de ouro de todo o oportunismo. O segundo ponto, grifado, aprofunda essa compreensão: dizer dos calendários eleitoral e sindical que “não comportam” mais as lutas que vêm ocorrendo é simplesmente uma forma adocicada de reconhecer que as velhas direções oportunistas têm sido crescentemente ultrapassadas e rechaçadas pelas massas, que têm posto em prática novas formas de luta e de organização. A crise a que se referem não é da esquerda em geral, mas da falsa esquerda, a crise é do próprio caminho sindical-eleitoral, crescentemente repudiado pelas massas. Não é do marxismo, enfim, mas da sua “adaptação” à ordem burguesa, da sua negação.
Contudo, daquelas premissas, a conclusão a que chega a nova organização é a necessidade de ampliar a frente de “esquerda”, a começar… pelas próximas eleições! Predicando o “novo”, praticam os surrados legalismo e cretinismo parlamentar.  É sintomático ver que, embora a cada dez palavras que pronunciem, sete sejam “revolução”, o seu primeiro ato tenha sido criar uma página com o nome e foto de todos os seus militantes. Como dizia o camarada Lênin, muito a propósito, “esta gente tem sido tão corrompida e tão embrutecida pela legalidade burguesa que nem sequer pode compreender a necessidade de outras organizações, a necessidade de umas organizações ilegais que dirijam a luta revolucionária… Esta gente tem chegado a imaginar que os sindicatos legais, existentes por graça da autorização policial, representam um limite, além do qual não se pode passar”.
Sim, o limite dos reformistas são os partidos legais, “de massas” – que não guardam nenhuma semelhança com o partido conspirativo defendido por Lenin – e a luta sindical (não há de nenhuma parte, aliás, qualquer referência à luta no campo, apesar do seu recrudescimento e radicalização crescentes). São escravos da democracia burguesa, mais dependentes dela que a própria burguesia, e por isso também seus defensores mais “radicais”.
Aos militantes sinceros
Os militantes que se iludem ou se iludiram com essas organizações devem aprofundar o estudo do marxismo genuíno, tal como formulado e levado à prática por Marx, Engels, Lenin, Stalin e Mao Tsetung. E, particularmente, devem aprofundar o balanço histórico sobre a experiência do PT. A melhor ajuda que os revolucionários podemos dar para que avancem é seguir demarcando profundamente os campos com sua direção oportunista, não apenas em teoria, mas através da atuação real na luta de classes.

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