O roteiro do assassinato dos camponeses
no Acampamento do MST em Quedas do Iguaçu têm semelhanças gritantes com o
massacre continuado de camponeses no Vale do Jamari, em Rondônia.
Em Rondônia, o capitão do mato dos
latifundiários Coronel Enedy foi empossado por imposição dos
latifundiários e dos serviços de inteligência federais no Comando da PM.
No Paraná, o Deputado Valdir Rossoni é empossado na Casa Civil do
governador Beto Richa sob protestos da bancada de deputados aliados ao
governo.
Em Rondônia, o Coronel Enedy anunciando
que combateria a criminalidade e pacificaria a região, atacou o
movimento camponês acusando-o de “terrorista”, visitou delegacias e
prefeituras das regiões, e deslocou o grosso de seu contingente para
aterrorizar os camponeses, realizando sem nenhuma ordem judicial buscas,
revistas e cumprindo reintegrações de posse ainda em fase de recursos
judiciais, isto ademais da ação combinada com pistoleiros para fazerem
destruição de todo tipo e assinando o nome da LCP.
No Paraná, o Secretário da Casa Civil
visitou Cascavel, deslocou grandes contingentes das tropas da PM para
impedir a circulação de milhares de pessoas em Quedas do Iguaçu, Rio
Bonito e Santa Terezinha do Oeste, onde estão três grandes acampamentos
do MST, e deu declarações de que iria investir na segurança da região.
Em Rondônia, os companheiros Enilson (da
Coordenação Regional da LCP) e Valdiro foram assassinados à luz do dia
em Jaru; dois jovens foram assassinados na Fazenda Tucumã, um deles teve
seu corpo queimado e outro está até hoje desaparecido. E a própria
polícia civil prendeu dois PMs que junto com o latifundiário da Fazenda
Tucumã cometeram este crime. Sem contar o verdadeiro arsenal de guerra
que estava com estes e com o Sargento PM Moisés Pereira de Souza,
condenado por muitos crimes e foragido do presídio, que teve sua fuga
facilitada por ser o elo de ligação do Coronel Enedy com a pistolagem em
Rondônia.
No Paraná, camponeses que estavam numa
caminhonete dentro do acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do
Iguaçu, foram fuzilados por policiais militares e por seguranças da
Araupel, empresa que utiliza milhares de hectares de terras públicas
griladas, como reconheceu a própria justiça do Paraná, e que por este
motivo não existe qualquer ordem judicial de reintegração de posse. E a
versão canalha da Polícia é de que os policiais militares teriam sido
chamados por seguranças da Araupel para combater um incêndio e teriam
sido recebidos à bala pelos camponeses, pelo que teriam reagido.
Mentirosos! Assassinos! E ainda
impediram o acesso dos camponeses ao local do ataque para esconder seus
crimes e ajeitar sua “versão” dos fatos.
Desde quando se combate incêndio na mata
com equipes da ROTAM fortemente armadas? Alguém já viu uma arma apagar
fogo? Os camponeses que teriam atacado os policiais militares e
seguranças da Araupel estariam armados, segundo a versão sórdida da PM,
com uma pistola e uma arma longa calibre 12. Como é que é? Camponeses
com uma pistola e uma arma longa teriam armado uma emboscada para
policiais fortemente armados? Quem acredita? E mais, onde estão os
policiais, pelo menos um, feridos nesta suposta emboscada? Porque dois
camponeses estão mortos e outros 6 feridos a tiros!
Acusamos por este massacre o governador Beto Richa do PSDB e a PM do Paraná.
Acusamos por este massacre a Presidente
Dilma/PT/PCdoB/PMDB, que em 2015 e 2016 não assentou nenhuma família na
terra neste programa falido de “reforma agrária do governo” que é uma
mentira, não recuperou nenhuma terra grilada, e não puniu nenhum
latifundiário ladrão e assassino, pelo contrário, ficou justificando os
inúmeros despejos violentos de acampamentos em seu “governo”.
E acusamos também o oportunismo safado
de Gleisi Hoffmann e Roberto Requião, que agora vêm posar de “bons
moços” e acusar o atual governo do Estado como único responsável por
este massacre bárbaro. Esta Senadora, candidata ao governo na última
eleição, deu declarações junto com os grileiros da Araupel atacando os
camponeses que lutavam para produzir nesta terra pública. Esta polícia
de Beto Richa é a mesma que no tempo do Governador Requião assassinou
tantos camponeses, como Teixeirinha, em Rio Bonito, e acobertou o
assassinato do dirigente do MST Keno em Cascavel.
E para que o generoso sangue derramado
destes camponeses não tenha sido em vão, há que se encarar de frente o
verdadeiro significado da crise que o Brasil atravessa, muito mais do
que a reles disputa pelo poder entre PT, PSDB, PCdoB, PMDB, et caterva,
que contam com o monopólio da imprensa para fabricar esta falsa
polarização entre golpismo e legalidade na opinião pública,
principalmente nas classes médias. A crise que atravessamos é a mesma de
sempre, crise crônica da base econômica de nosso país
semicolonial/semifeudal e como reflexo da crise geral do imperialismo
que atravessa o mundo inteiro. É a crise das economias baseadas em
exportação de bens primários (soja, cana, petróleo, minério), pelo que o
problema agrário e camponês, ao contrário de se resolver, se agrava
ainda mais no sangrento caminho de sempre da nossa história. Os
camponeses, indígenas e remanescentes de quilombolas precisam das terras
para sobreviver. O imperialismo, a grande burguesia e o latifúndio,
avançam açambarcando as terras para obter lucro máximo para evitar o
soçobro de seu sistema podre, cruel, explorador e em franca
decomposição.
Para acabar com tanta miséria,
exploração e corrupção, tanta dengue, H1N1 e Zika, tanta matança de
pobres nas favelas, para acabar com toda essa desgraça, toda essa
barbárie no dia-a-dia, só com a destruição do latifúndio, a entrega das
terras aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, o que
certamente vai levar a um aumento geral dos ganhos dos trabalhadores nas
cidades. Destas gerências de turno da grande burguesia, do latifúndio e
do imperialismo, que se legitimam através de eleições farsantes e
corrompidas, só podemos esperar massacres e injustiças, embalados pela
mais intensa campanha de criminalização e demonização do movimento
camponês combativo.
Que todos que lutam pela terra, que
todos os verdadeiros democratas, se levantem contra este massacre dos
camponeses do Acampamento Dom Tomás Balduíno, do MST do Paraná. Que se
levantem protestos para denunciar o terrorismo praticado pelo Estado
brasileiro contra a luta pela terra. O sangue dos companheiros Vilmar
Bordim e Leomar Bhorbak será vingado!
Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
Goiânia, 08 de abril de 2016
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