Não é
a primeira vez e nem será a última que serão encontradas drogas
transportadas em aeronave das Forças Armadas. O caso do sargento pego
com 39 quilos de cocaína no avião da comitiva presidencial, que daria
suporte à aeronave do presidente, sugere que havia uma prática
corriqueira, de usar e abusar deste procedimento. Sugere também a
existência de uma rede sob cobertura da hierarquia das cúpulas e não um
simples azar, como sugeriu o general Augusto Heleno.
A relação entre militares (especialmente
oficiais) das Forças Armadas com o tráfico de drogas não é algo novo:
em abril de 2019, por exemplo, um major da Aeronáutica foi condenado
pela justiça civil a 16 anos de prisão por tráfico internacional de
drogas e associação criminosa. Ele foi flagrado com 32,9 kg de cocaína
num avião da Força Aérea Brasileira (FAB), situação muito semelhante à
do recém-flagrado militar.
Em 2015 e em 2011, dois coronéis, também
da FAB, foram condenados por tráfico internacional de drogas. Em 2013
outro militar foi condenado, dessa vez um tenente do Exército, também
por tráfico de drogas.
Só em 2018 foram registrados 228 casos
envolvendo tráfico, posse e uso de drogas por militares, numa evidente e
vergonhosa demonstração de que não se trata de exceções ou casos
pontuais. Para não deixar-nos mentir, a apuração foi do próprio
monopólio da imprensa, a revista Veja, maiores defensores desse regime
de exploração e opressão.
Sendo o tráfico de drogas um lucrativo
negócio financiado por um setor dos magnatas do capital financeiro, da
grande burguesia local e do latifúndio, e sendo as Forças Armadas
reacionárias guardiães dessas classes, tal relação promíscua é
inevitável.
Mais crises no seio do governo e do Exército
A apreciação de Heleno, chefe do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), de que o flagra no
traficante
fardado foi um caso pontual irritou o próprio filho de Bolsonaro,
Carlos, que, por sinal, é tido como o mais preparado e até responsável
pela vitória de seu pai. O fascista-filho culpou o general Heleno pelo
fato de não ter sido realizada uma revista na tripulação do avião.
Segundo o jornal Folha de São Paulo,
Carlos comentou: “Por que acha que não ando com seguranças?
Principalmente aqueles oferecidos pelo GSI? Sua grande maioria podem
(sic) ser até homens bem intencionados e acredito que seja, mas estão
subordinados a algo que não acredito. Tenho gritado em vão há meses
internamente e infelizmente sou ignorado”.
Também não é a primeira vez que Carlos
desconfia dos generais, tal como ele mesmo afirmou. Há inclusive
questionamentos da parte do grupo de Bolsonaro sobre as apurações da
facada contra o agora presidente.
Carlos e Olavo de Carvalho, responsáveis
por gerar crises após crises no alto escalão do governo Bolsonaro (uma
vez que eles são os porta-vozes das posições extrema-direitistas que,
por ora, não podem ser pronunciadas pelo próprio presidente) vão
derrubando um a um os generais indesejáveis.
Tudo isso é sinal de mais uma crise,
reflexo das contradições entre a direita (liderada pelo Alto Comando das
Forças Armadas - ACFA) e a extrema-direita (liderada por Bolsonaro,
Carlos, Olavo, et caterva). A presença de
Bolsonaro em cerca de 16 atividades militares indica que o presidente
busca reforçar seu apoio no seio da tropa, pressionar o ACFA para ganhar
uma parcela deste para seu projeto fascista e culminar seu golpe.
Tudo indica que a solução desta
contradição será violenta. Nessa pugna política, estão envolvidos os
ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional por parte da
extrema-direita bolsonarista, buscando justificar o fechamento destas
instituições por meio da instauração de um regime corporativo e
fascista. Ao ACFA, resta brigar por manter o controle sobre a tropa
(especialmente o baixo oficialato) e da opinião pública reacionária e
ganhar a retórica de que é preciso reformar a velha democracia, deformar
as instituições, porém mantendo-as sob fachada de um “Estado
democrático de Direito”, existente somente em imaginação. Já às massas, o
que resta é o caminho da luta popular combativa em defesa de seus
direitos pisoteados.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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