a nova democracia
Durante a Operação “Verde Brasil 2”, que
foi lançada para “prevenir incêndios” na Amazônia, o número de
queimadas e de desmatamento aumentou em 19,5% no mês de junho de 2020,
em comparação com o mesmo período de 2019. Além disso, fiscais do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) denunciam atuação negligente dos militares. A operação, segundo
denuncia o movimento camponês, é na verdade uma operação de guerra
contra a luta pela terra disfarçada de “combate à devastação”.
Os agentes do Ibama, em entrevista ao
portal de notícias UOL, descrevem as ações dos militares como
“ineficientes”, “mal-intencionadas” e afirmam que eles vêm atrapalhando a
fiscalização que ocorria anteriormente, contrariando o que pronunciaram
os militares.
Relatam que, desde a chegada dos
militares, as ações de fiscalização planejadas pelo órgão têm sido
suprimidas, como ocorreu logo no início de maio, quando uma operação
para apreensão de maquinário de madeireiras em terra indígena foi
suspensa e redirecionada a outra área onde nada foi encontrado.
Outra ação surpresa do Ibama para
apreensão de material e destruição de maquinário de madeireira foi
convertida em barreira do exército na saída da cidade para confiscar
suas madeiras. Os agentes do Ibama alegam que “apreender madeira já
cortada não trará resultado algum” e que ´é preciso impossibilitar a
atividade do madeireiro”.
Eles denunciam ainda que os helicópteros
de grande porte e a maneira que os militares os utilizam possibilitam
retirada antecipada das madeireiras. “Os militares sobrevoam alto e não
descem. Eles só chamam a atenção dos madeireiros, que retiram seus
maquinários e somem”, afirmam os agentes.
Presença do Exército aumenta devastação
No dia 9 de junho, durante o anúncio do
balanço das ações de “Garantia da Lei e da Ordem” (GLO), o
ultrarreacionário vice-presidente e general, Hamilton Mourão, afirmou
que houve resultados positivos e que a taxa de desmatamento caiu em
maio.
Porém, a verdade é que desde o início da
Operação, foi constatado o maior aumento de desmatamento desde que
iniciou-se os levantamentos do Deter. Apenas em maio, segundo o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inep) foram 829,9 km²
devastados. No mês de junho, 609,89 km² de mata foram derrubados,
entretanto o número parou de ser atualizado no dia 18/06.
O balanço mensal também indica aumento
de queimadas no mês de junho de 19,5% em relação ao mesmo período em
2019, o maior número desde 2007. O período de pico das queimadas foi
antecipado com relação aos anos anteriores, que ocorria entre julho e
outubro.
Apesar da ineficiência em seu suposto
propósito (combate aos crimes ambientais), a GLO foi prorrogada por mais
30 dias, seguindo até 10 de julho de 2020 e segundo o ultrarreacionário
general Mourão as “ações prioritárias para enfrentamento de ações
ilegais” estão previstas até 2022. A soma dos gastos com a operação,
caso ela seja mantida até a data indicada, poderá totalizar R$ 1,74
bilhões.
Avanço da militarização da Amazônia
A militarização da Amazônia prossegue,
segundo o movimento camponês, não para prevenir queimadas, mas sim com o
objetivo de intensificar a guerra contra o povo, particularmente os
camponeses pobres, pequenos e médios proprietários ou sem terra, em
favor do latifúndio. A justificativa de evitar queimadas é, como pode-se
constatar a partir da denúncia, apenas fachada para não gerar
solidariedade à luta dos camponeses.
No dia 19 de maio, logo no início da
nova GLO, nos arredores de Jacinópolis, distrito de Nova Mamoré, em
Rondônia, terras foram invadidas pelas forças da Polícia Militar (PM),
que levaram uma família inteira presa (um homem, mulher e uma criança) e
apreenderam motocicletas dos moradores.
Como resposta a essas agressões, os
moradores da região se mobilizaram: uma estrada foi bloqueada em
diferentes pontos com árvores e pontes foram destruídas, obrigando os
policiais a se refugiarem e passarem a noite na mata. No dia seguinte,
após envio de reforços policiais, dezenas de moradores a pé e em motos
fizeram um novo bloqueio. A polícia usou spray de pimenta, bombas e
realizou disparos, ao que os moradores reagiram com pedras. Depois de
muitas tentativas fracassadas, os policiais fugiram, sendo perseguidos
pelos moradores revoltados. Tropas do Exército reacionário continuam
acampadas na região.
Anteriormente, em abril, dois
acampamentos localizados na área da fazenda Jatobá, no município de
Machadinho D’Oeste (RO), já haviam sido invadidos por soldados do
Exército reacionário e agentes da PM, Polícia Civil (PC) e Força Tática.
Na ação duas camponesas foram presas.
Em novembro de 2019, o AND
repercutiu a denúncia emitida pela Comissão Nacional das Ligas de
Camponeses Pobres (LCP) de que o Exército reacionário havia invadido
cercado áreas camponesas em Rondônia. “Os camponeses da área relataram
que durante uma semana os militares das Forças Armadas reacionárias
cometeram todo tipo de intimidação, ameaça, abuso e humilhações”,
denunciaram. Na época, estava em vigor a Operação “Verde Brasil 1”.
Quem se beneficia com o descaso
Um estudo realizado em maio de 2020 pela
Chain Reaction Research (CRR) apontou que os principais responsáveis
pelos incêndios de 2019 que tiveram início com o “dia do fogo” (como
ficou conhecido) foram corporações monopolistas ligada ao latifúndio e
ao imperialismo.
A pesquisa cruzou imagens dos incêndios,
feitas por satélites da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço
(Nasa), com a localização dos maiores frigoríficos do país, como a JBS e
a Marfrig, e grandes silos de soja controlados por empresas como a
holandesa Bunge e a Cargill, ianque.
De acordo com o estudo, foram detectados
417 mil focos de fogo nas zonas potenciais de compra da JBS e da
Marfrig de julho a outubro do ano passado, número que representa 42% de
todos os incêndios ocorridos no Brasil no período. Já as queimadas
ocorridas dentro de um raio de 25 quilômetros ao redor dos silos da Bunge e da Cargill somam cerca de 39,9 mil focos de incêndio.
Os incêndios são provocados, geralmente,
para realizar uma “limpeza” e ampliar as áreas de pasto ou para o
cultivo, formando novas áreas conhecidas como “áreas agrícolas”.
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