Wednesday, September 9, 2020

Devastação da Amazônia aumenta durante Operação ‘Verde Brasil 2’

a nova democracia

Durante a Operação “Verde Brasil 2”, que foi lançada para “prevenir incêndios” na Amazônia, o número de queimadas e de desmatamento aumentou em 19,5% no mês de junho de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019. Além disso, fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) denunciam atuação negligente dos militares. A operação, segundo denuncia o movimento camponês, é na verdade uma operação de guerra contra a luta pela terra disfarçada de “combate à devastação”.
Os agentes do Ibama, em entrevista ao portal de notícias UOL, descrevem as ações dos militares como “ineficientes”, “mal-intencionadas” e afirmam que eles vêm atrapalhando a fiscalização que ocorria anteriormente, contrariando o que pronunciaram os militares.
ilitares na Amazonia
Relatam que, desde a chegada dos militares, as ações de fiscalização planejadas pelo órgão têm sido suprimidas, como ocorreu logo no início de maio, quando uma operação para apreensão de maquinário de madeireiras em terra indígena foi suspensa e redirecionada a outra área onde nada foi encontrado.
Outra ação surpresa do Ibama para apreensão de material e destruição de maquinário de madeireira foi convertida em barreira do exército na saída da cidade para confiscar suas  madeiras. Os agentes do Ibama alegam que “apreender madeira já cortada não trará resultado algum” e que ´é preciso impossibilitar a atividade do madeireiro”.
Eles denunciam ainda que os helicópteros de grande porte e a maneira que os militares os utilizam possibilitam retirada antecipada das madeireiras. “Os militares sobrevoam alto e não descem. Eles só chamam a atenção dos madeireiros, que retiram seus maquinários e somem”, afirmam os agentes.
Presença do Exército aumenta devastação
No dia 9 de junho, durante o anúncio do balanço das ações de “Garantia da Lei e da Ordem” (GLO), o ultrarreacionário vice-presidente e general, Hamilton Mourão, afirmou que houve resultados positivos e que a taxa de desmatamento caiu em maio.
Porém, a verdade é que desde o início da Operação, foi constatado o maior aumento de desmatamento desde que iniciou-se os levantamentos do Deter. Apenas em maio, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inep) foram 829,9 km² devastados. No mês de junho, 609,89 km² de mata foram derrubados, entretanto o número parou de ser atualizado no dia 18/06.
O balanço mensal também indica aumento de queimadas no mês de junho de 19,5% em relação ao mesmo período em 2019, o maior número desde 2007. O período de pico das queimadas foi antecipado com relação aos anos anteriores, que ocorria entre julho e outubro.
Apesar da ineficiência em seu suposto propósito (combate aos crimes ambientais), a GLO foi prorrogada por mais 30 dias, seguindo até 10 de julho de 2020 e segundo o ultrarreacionário general Mourão as “ações prioritárias para enfrentamento de ações ilegais” estão previstas até 2022. A soma dos gastos com a operação, caso ela seja mantida até a data indicada, poderá totalizar R$ 1,74 bilhões.
Avanço da militarização da Amazônia
A militarização da Amazônia prossegue, segundo o movimento camponês, não para prevenir queimadas, mas sim com o objetivo de intensificar a guerra contra o povo, particularmente os camponeses pobres, pequenos e médios proprietários ou sem terra, em favor do latifúndio. A justificativa de evitar queimadas é, como pode-se constatar a partir da denúncia, apenas fachada para não gerar solidariedade à luta dos camponeses.

No dia 19 de maio, logo no início da nova GLO, nos arredores de Jacinópolis, distrito de Nova Mamoré, em Rondônia, terras foram invadidas pelas forças da Polícia Militar (PM), que levaram uma família inteira presa (um homem, mulher e uma criança) e apreenderam motocicletas dos moradores.
Como resposta a essas agressões, os moradores da região se mobilizaram: uma estrada foi bloqueada em diferentes pontos com árvores e pontes foram destruídas, obrigando os policiais a se refugiarem e passarem a noite na mata. No dia seguinte, após envio de reforços policiais, dezenas de moradores a pé e em motos fizeram um novo bloqueio. A polícia usou spray de pimenta, bombas e realizou disparos, ao que os moradores reagiram com pedras. Depois de muitas tentativas fracassadas, os policiais fugiram, sendo perseguidos pelos moradores revoltados. Tropas do Exército reacionário continuam acampadas na região.
Anteriormente, em abril, dois acampamentos localizados na área da fazenda Jatobá, no município de Machadinho D’Oeste (RO), já haviam sido invadidos por soldados do Exército reacionário e agentes da PM, Polícia Civil (PC) e Força Tática. Na ação duas camponesas foram presas.
Em novembro de 2019, o AND repercutiu a denúncia emitida pela Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres (LCP) de que o Exército reacionário havia invadido cercado áreas camponesas em Rondônia. “Os camponeses da área relataram que durante uma semana os militares das Forças Armadas reacionárias cometeram todo tipo de intimidação, ameaça, abuso e humilhações”, denunciaram. Na época, estava em vigor a Operação “Verde Brasil 1”.
Quem se beneficia com o descaso
Um estudo realizado em maio de 2020 pela Chain Reaction Research (CRR) apontou que os principais responsáveis pelos incêndios de 2019 que tiveram início com o “dia do fogo” (como ficou conhecido) foram corporações monopolistas ligada ao latifúndio e ao imperialismo.
A pesquisa cruzou imagens dos incêndios, feitas por satélites da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), com a localização dos maiores frigoríficos do país, como a JBS e a Marfrig, e grandes silos de soja controlados por empresas como a holandesa Bunge e a Cargill, ianque.
De acordo com o estudo, foram detectados 417 mil focos de fogo nas zonas potenciais de compra da JBS e da Marfrig de julho a outubro do ano passado, número que representa 42% de todos os incêndios ocorridos no Brasil no período. Já as queimadas ocorridas dentro de um raio de  25 quilômetros ao redor dos silos da Bunge e da Cargill somam cerca de 39,9 mil focos de incêndio.
Os incêndios são provocados, geralmente, para realizar uma “limpeza” e ampliar as áreas de pasto ou para o cultivo, formando novas áreas conhecidas como “áreas agrícolas”.

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