No último dia 26 de fevereiro, mais uma vez o Estado do Rio de Janeiro mostrou sua impassível presença na vida da população pobre, excluída todos os dias de seus direitos. Agora, o Estado não só não oferece direitos mínimos à população, como retira o pouco que se consegue com muita luta: o direito à moradia – destruindo suas vidas, seus sonhos, amizades, e porque não, sua experiência política de resistência.
Uma violência brutal que a imprensa corporativa (e por isso vendida) não noticia, pois quem há de questionar os bilhões do “Porto Maravilha”? Depois da Aldeia Maracanã, da Favela Metrô-Mangueira e tantas outras famílias, favelas e comunidades removidas à força, seguem as remoções arbitrárias da cidade-empresa para a Copa do Mundo: sem casa, transporte, escola, nem hospitais.
Foi com a antiga falácia de “revitalização” do Porto Maravilha, que as mais de 50 famílias que compõem o coletivo Quilombo das Guerreiras foram retiradas à força de suas casas. As famílias ocupavam há mais de sete anos o número 49 da Francisco Bicalho.
O Estado, sem sequer um mandato judicial para a ação ou aviso prévio, cumpre seu “contrato” atuando literalmente a mando de seus financiadores – empresários e empreiteiras. O Estado hoje é uma empresa. Juntamente com as 50 famílias, as mais de 2500 famílias que foram deixadas no ano passado – pela própria SEDURP – na parte detrás do prédio, sem nenhuma condição de habitação, com o claro objetivo de tensionar e enfraquecer o coletivo, também foram desalojadas violentamente e sem a oferta do mísero aluguel social – raramente pago para além de três meses.
Estas famílias se rebelaram legitimamente e fecharam o trânsito da Francisco Bicalho por várias horas, com barricadas e enfrentamento direto com a polícia. Nada disso foi noticiado pela “imprensa oficial”. No entanto, felizmente existe algo que o Estado não pode retirar e nem a imprensa esconder. A construção do coletivo de mais de sete anos vai além do espaço físico; a vivência de participação política e autonomia comunitária do Quilombo resistem; seus moradores não querem viver senão de modo autogestionário e comunal. O Quilombo das Guerreiras recusou a oferta de aluguel social individual e só aceita morar em um prédio comum. Sem separação do coletivo.
O espaço prometido pelo governo para a moradia do coletivo (o projeto “Quilombo da Gamboa”) não tem qualquer previsão. As famílias estão desalojadas, precisando da solidariedade e do apoio dos companheiros/as para seguirem sua luta e resistência. O QUILOMBO SÓ ACEITARÁ UMA SOLUÇÃO COLETIVA!
A Frente Independente Popular do Rio de Janeiro apoia incondicionalmente a luta do povo pobre, a ação direta da população rebelada como direito de resistência as agressões do Estado; e apoiamos a campanha do Quilombo das Guerreiras pela manutenção de seu projeto inicial de moradia e resistência política coletiva autogestionária. Estamos na luta com os sem-teto contra o permanente projeto de cidade-empresa, cidade-excludente.
NÃO VAI TER COPA! QUEREMOS MORADIA!
Se não há igualdade, não haverá paz para os ricos.
Rio de Janeiro, 1/03/2014