Thursday, March 26, 2015

Brasil - from IGOR MENDES

IGOR MENDES -


Sexta-feira 13 e domingo 15 ocorreram atos em diversas cidades do país, a favor e contra o governo Dilma, respectivamente. A manifestação de domingo, como era esperado, foi muito maior que a de sexta, porque realmente a insatisfação com a gerentona é geral. As “manifestações” chapa branca convocadas pela CUT é forçoso reconhecer, foram um fiasco, apesar dos milhares de reais torrados a título de “ajudas de custo” para viabilizá-las. Espetáculo de peleguismo que põe no chinelo o velho PTB dos anos de 1950.

A flagrante enxurrada de mentiras repetidas durante a última farsa eleitoral apresenta agora a fatura- não para quem mentiu, naturalmente, e sim para a população, atacada de todos os lados por aumento de impostos, juros estratosféricos, corte de investimentos públicos (sobretudo nas áreas sociais), retirada de direitos trabalhistas e saqueio do erário pela corrupção. A imprensa internacional já se refere à política de Dilma como “medidas de austeridade”, embora o PT afirme tratar-se de meros “ajustes”, de resto passageiros.

Talvez Dilma e seus ministros fossem mais inteligentes ficando calados, pois cada vez a emenda parece piorar o soneto.

Esse conjunto de fatores explica a massividade dos protestos de domingo, 15-03, e não uma adesão instantânea da população ao fascismo, “explicação” histórica e idealista. Em política não existe espaço vazio e, naturalmente, a oposição de fachada, notadamente o PSDB, com considerável apoio da Rede Globo, corre para tirar o máximo de proveito da situação, de acordo com suas ambições eleitorais. Chega a ser cômico ver próceres do direitismo, como o playboy Aécio Neves, que privatizaram até o que não tínhamos, e mais recentemente, no curso das jornadas de junho e seus desdobramentos, mandaram descer o porrete na juventude (afinal, como atuou mesmo a polícia de Alckmin?) falarem agora de “combate a corrupção” ou “direito de manifestação”.

Alguns celerados assanharam-se ao ponto de clamar uma intervenção militar, o que podem esperar sentados, uma vez que banqueiros e latifundiários, notórios articuladores internos do golpe de 64, estão satisfeitos e devidamente representados no governo petista, através de figuras emblemáticas como Joaquim Levy e Kátia Abreu, por exemplo. No plano externo o imperialismo norte-americano, outro artífice fundamental do golpe, aprendeu que “democracias” de mentirinha podem ser mais lucrativas e politicamente mais seguras que regimes abertamente fascistas, a menos que seus interesses estejam imediatamente ameaçados. Ninguém em sã consciência sustentará ser esse o caso.

Se há, como há, um crescimento da opinião pública de direita na sociedade isso se deve, em grande medida, a ação do próprio PT e daquilo que alguns chamam de “Lulismo”, que sempre estimulou a despolitização nas massas, sua maior corporativização, um ecletismo ideológico capaz de chamar a um José Sarney de “companheiro” e aos usineiros de cana do nordeste “heróis nacionais”, ademais de um pragmatismo vil, no melhor estilo toma-lá-da-cá, a nossa velha continuada república velha. Esse governo, também, nunca deixou de reprimir greves de servidores e manifestações populares- que o digamos nós, presos por ousar protestar contra a farra da FIFA.

Não cabe a autêntica esquerda ficar de braços cruzados esperando o belo dia em que uma revolução cairá dos céus. Ao contrário, é necessário disputar esse ambiente geral de insatisfação, desmascarando incansavelmente os lobos em pele de cordeiro que proliferarão como mosquitos, e orienta-lo em direção ao seu correto alvo. Esse velho estado reacionário, erigido sobre o sangue de todas as revoltas democráticas que esmagou e que existe apenas para onerar e reprimir as massas populares. Acreditar que esse Estado, e as classes que o dirigem, farão qualquer reforma estrutural que vá de encontro a seus próprios interesses é uma ilusão que tem sido desmentida ao longo dos últimos cinco séculos.

Em defesa dessa ordem iníqua que massacra nossa gente, unir-se-á sempre a falsa esquerda (ou “nova direita”) e a direita escancarada. Dilma o disse com todas as letras, chamando a oposição à responsabilidade ao afirmar que “a instabilidade não serve a ninguém”. O limite das suas brigas é exatamente esse: o temor de que os trabalhadores se mobilizem de forma independente, em defesa de uma autêntica e nova democracia. Esse é o único caminho capaz de salvar o país da catástrofe e só o tempo e os esforços dos revolucionários, democratas e verdadeiros patriotas, ademais da experiência própria do povo mesmo, poderá ir revelando-o, pouco a pouco.

2015 está apenas começando. 



###

NOTA DO EDITOR – Ficamos muito felizes em receber ontem o e-mail do Comitê pela Liberdade de Igor Mendes e todos os presos políticos. No e-mail os bravos lutadores explicam que foram encarregados de enviar um artigo exclusivo do nosso colaborador e ativista político IGOR MENDES, que escreveu diretamente da prisão.

Ele informa aos leitores e internautas que continuará enviando seus textos para nossa trincheira da liberdade de informação e expressão, embora não possa se comprometer com regularidade. “Pediu inclusive para agradecê-lo pelo belo depoimento que você prestou a favor dele em juízo no TJ-RJ”. Cumpri apenas meu dever como cidadão, ativista social e Conselheiro da ABI.

Segue um pequeno recado que ele nos enviou no mesmo papel que escreveu o texto: "Desculpem o atraso com que esse texto chegará às suas mãos, talvez envelhecido por novos acontecimentos. Estas linhas são escritas dentro da prisão, no interior do complexo penitenciário de Bangu, em condições portanto excepcionais. Um longo trajeto será percorrido desde agora, quando, à caneta, rascunho estas linhas, até a sua publicação na rede. Ainda assim insisto em retomar minha contribuição nessa página, e gostaria de agradecer, desde já, a oportunidade. Tentam calar-me, prendendo-me. Por isso escrever, ainda que mal, marca meu protesto contra o arbítrio e a perseguição política que têm atingido a geração das jornadas de junho. Não deixa de ser, para mim, um gesto libertador".

Defendo a extinção imediata de todos os processos e o cancelamento das condenações! Vale esclarecer, para que esse artigo (carta) chegasse ao seu destino (TRIBUNA da IMPRENSA online) por e-mail, foi necessário reescrevê-lo também em condições precárias, pois o ‘Comitê pela Liberdade de Igor Mendes’ tem a foto da carta, e não ela em si. (Daniel Mazola).

No comments:

Post a Comment