Tuesday, September 14, 2021

Pelo direito ao sepultamento digno do Professor Abimael Guzman Reynoso


Pelo direito ao sepultamento digno do Professor Abimael Guzman Reynoso

O professor Abimael Guzman Reynoso (o presidente Gonzalo), prisioneiro de guerra do Estado peruano e presidente do Partido Comunista do Peru , que estava há 29 anos preso e incomunicável numa cela abaixo do nível do mar na base naval de Callao, faleceu na manhã de 11 de setembro.

Como denunciamos em nota recente, tudo leva a culpabilizar o Estado peruano por ter deixado o professor sem tratamento adequado, o que é assassinato por negligência. Abimael Guzman não teve direito a passar suas últimas horas em companhia de nenhum familiar ou amigo. E para agravar ainda mais o leque de direitos violados desde a prisão do professor, o estado peruano, na figura do Ministro da Justiça de um autodeclarado governo progressista, quer negar o direito ao sepultamento de seu corpo.

O direito ao sepultamento digno é direito humano fundamental, compondo as convenções de Genebra que tratam de situações de guerra e conflitos armados. Faz parte das diretrizes básicas de todas as religiões monoteístas atuais e do cristianismo dominante no mundo ocidental. Este direito está profundamente arraigado na matriz cultural ocidental e não por acaso encontra-se no âmago da muito debatida tragédia de Sófocles, quando Antígona desafia o Estado tebano para realizar os ritos fúnebres ao irmão Polinices.

A violência do Estado que submete a tratamento desumano e degradante e também se dedica de maneira insidiosa ao apagamento do professor Abimael Guzman, em sua ânsia por fazer desaparecer não apenas o corpo, mas também eliminar a memória do que ele representa, faz com que esse Estado subsista aniquilando sua própria substância moral, engendrando a própria ruína, tal como disse Sófocles.   

O Estado brasileiro já foi penalizado pela corte interamericana de direitos humanos pelo desaparecimento dos corpos de combatentes da guerrilha do Araguaia. Estará o atual governante Castillo que ganhou recentemente eleições no Peru com bandeiras “democráticas” contra a filha do genocida e fascista Fujimori se igualando ao regime militar fascista brasileiro no ocultamento de cadáveres, e na negação do justo direito ao sepultamento? 

Que temor terá o governo peruano, já que declara ter havido a suposta pacificação de um conflito armado onde faz-se cômodo colocar na responsabilidade de uma das partes - a guerrilha - todas as mortes, sendo fato comprovado que o governo do fascista Fujimori passou por cima de qualquer direito democrático da população, implementando uma guerra suja? Teme pelos fatores econômicos e sociais subjacentes a realidade peruana estarem ainda presentes e não ter soluções para enfrentá-los? Quantos mortos de COVID ocorreram decorrentes da falta de política pública de saúde? 190.000 mortes, a maior taxa de mortes do mundo por COVID relativa à sua população.

Não se pode imputar nenhuma morte ao professor Guzman, nem por assassinato e nem por disseminação de doença infecciosa. Mesmo assim, esteve preso incomunicável e está questionado seu direito a um sepultamento digno. Tratar-se-á os genocidas oficiais do povo por covid da mesma forma?

A mesma história que aponta a existência de uma repetição aterradora de genocídios nos lembra que os mortos da violência de Estado sistemática não podem ser silenciados. A tentativa inadmissível de anular, de ocultar e fazer desaparecer os nomes e corpos, matando uma segunda vez para tentar apagar determinados sujeitos da memória coletiva, somente pode ter um caminho: o irrevogável retorno daqueles que o Estado tentou empalidecer. 

cebraspo - brasil

 

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